Privatização da Eletrobras (ELET3): oferta movimenta R$ 33,7 bi na Bolsa e ação sai por R$ 42

A mega-oferta de ações da Eletrobras (ELET3) que vai culminar na privatização da companhia movimentou cerca de R$ 33,7 bilhões na Bolsa. Foi o que fontes de mercado informaram ao Broadcast, serviço de notícias do Grupo Estado. O preço de cada papel acabou definido em R$ 42. Foram vendidas 802,1 milhões de ações, disse reportagem do site Pipeline, do Valor Econômico.

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A Eletrobras confirmou, via fato relevante, que o preço por ação no processo de bookbuilding da oferta pública de ações, concluído na quinta-feira, 9, foi fixado em R$ 42, conforme o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) havia antecipado. O montante total somou R$ 29,294 bilhões, sem considerar os lotes extras.

Os American Depositary Receipts (ADRs) ficaram em US$ 8,63, preço referente ao unitário convertido para dólares americanos com base na taxa de câmbio de venda (Ptax) da mesma data.

Ainda de acordo com a Eletrobras, as condições remanescentes da oferta foram “satisfatoriamente verificadas”, com a oferta pública de distribuição de inicialmente 627,675 milhões de ações ordinárias, incluindo os ADRs, e secundária de 69,8 bilhões ações de titularidade do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que foi mantida.

As condições consistiam no preço por ação não ser inferior ao preço mínimo; e na obtenção, com a distribuição âmbito da Oferta Primária, de recursos líquidos que fossem no mínimo correspondentes a R$ 22,057 bilhões.

A Oferta Pública será realizada simultaneamente no Brasil e nos Estados Unidos.

O registro das ações ocorre nesta sexta-feira, 10, sob a orientação dos coordenadores da Oferta Brasileira e instituições intermediárias.

O ajuste de preço foi alvo de uma intensa disputa entre investidores locais e estrangeiros, que só terminou depois das 20h.

A venda da estatal de energia via Bolsa foi o maior movimento de desestatização do País em duas décadas. A fatia do governo e do BNDES no negócio deve cair a cerca de 35%.

O preço de R$ 42 representou um desconto de 4% em relação ao valor da ação ao fim do pregão de quinta-feira, de R$ 44. Além de ter sido uma das maiores ofertas de ações em todo o mundo no ano de 2022, a operação da Eletrobras também foi a maior operação na B3 (B3SA3), a Bolsa brasileira, desde a megacapitalização da Petrobras (PETR4), em 2012, que movimentou R$ 100 bilhões.

Grandes investidores marcaram presença na operação, entre eles o fundo 3G Capital – dos fundadores da Ambev (ABEV3) – e banco Clássico, de José Abdalla Filho, que também é um relevante acionista da Petrobras. A demanda total, considerados todos os tipos de investidores, teria superado R$ 70 bilhões.

Mas a oferta da Eletrobras teve um empurrão importante da possibilidade de uso de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para a compra de ações. Foi a primeira vez em cerca de 20 anos que o trabalhador brasileiro teve essa oportunidade. Antes, isso ocorreu com papéis da Vale (VALE3) e da Petrobras.

Diante da oportunidade, a demanda foi alta: cerca de 350 mil pessoas reservaram ações da companhia. O teto para uso do FGTS era de R$ 6 bilhões, mas a demanda ficou em R$ 9 bilhões, ou 50% a mais. Por essa razão, deverá haver uma redução em relação aos valores reservados por trabalhadores.

O investidor que fez uso de seu FGTS para entrar na oferta não poderá se desfazer do investimento por um prazo de no mínimo 12 meses – exceto em alguns casos, como o de demissão sem justa causa.

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Eletrobras: de olho em ganhos de eficiência

Em relação à privatização da companhia, um dos primeiros passos esperados por fontes de mercado ouvidas pelo Estadão é a troca de executivos da companhia e também do conselho de administração. Com a redução de sua participação, o governo terá menos assentos no colegiado, abrindo espaço para que fundos de investimento indiquem seus representantes.

A partir dessa mudança, o novo conselho deverá fazer uma mudança geral no quadro administrativo da empresa, incluindo todo o alto escalão.

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Analistas do setor acreditam que a empresa poderá ter mais fôlego para investir, incluindo em fontes de energia renováveis. “A Eletrobras terá exatamente o mesmo modelo de governança que já foi testado em outras privatizações do setor elétrico na Europa.

“A disponibilidade de caixa e o uso do mercado de capitais para novas captações vão permitir novos planos de investimento que são essenciais no segmento”, aponta Fabio Coelho, presidente da Amec, associação que representa mais de 60 investidores, entre locais e estrangeiros, que têm investimento de mais de R$ 700 bilhões na Bolsa brasileira.

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Segundo Coelho, um dos pontos relevantes na “nova Eletrobras” será uma maior agilidade na tomada de decisão. “É importante ressaltar que o governo continuará sendo o maior acionista individual, e que, portanto, terá acesso a maior porcentual dos lucros esperados, justificando, assim, o interesse público na operação”, comenta.

Mais próxima do setor privado

Sócio do M3BS Advogados e especialista em negócios públicos, Lucas Miglioli afirma que, com a privatização, a Eletrobras deve se tornar mais eficiente. “Tornando sua burocracia mais compatível com a do setor privado, terá mais agilidade para enfrentar um cenário cada vez mais competitivo e ávido por novas tecnologias”, disse. “A expectativa é de que, ao deixar de ser controlada pela União, a Eletrobras deixe de atuar como mera operadora e ganhe protagonismo no setor.”

Para o público em geral, uma das expectativas é de que a conta de luz fique mais barata, mas pode não ser bem assim. Sócio do PMMF Advogados e especialista em direito público, Ulisses Penachio lembra que apenas parte do novo capital – aquele destinado à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) – poderá gerar alguma redução nas tarifas da Eletrobras. “A médio e longo prazo, o impacto da privatização na tarifa tende a ser neutro”, aponta.

Com informações do Estadão Conteúdo

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Marco Antônio Lopes

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