Eleições dos EUA: 5 principais pontos para acompanhar a apuração

As eleições dos EUA terão nesta terça-feira (3) seu dia decisivo com a abertura das cabines de votação em todo país. Este ano, com a pandemia de covid-19 e a decisão dos estados de autorizar a votação antecipada, mais de 90 milhões de norte-americanos já exerceram seu direito ao voto.

O processo eleitoral norte-americano é complexo e poucos são os especialistas que conhecem as nuances entre os estados e os extratos da sociedade, em um país onde é comum ouvir sobre o voto das “mulheres brancas do subúrbio com diploma universitário” ou dos “jovens negros urbanos”.

Veja algumas explicações e 5 pontos – e um bônus – que você precisa entender para acompanhar a apuração da eleição dos EUA de hoje:

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O Colégio eleitoral

A complexidade do sistema vem de um modelo de voto indireto em que cada estado possui um peso diferente no chamado colégio eleitoral.

Na formação do país em 1787, foi atribuído a cada estado um número de delegados razoavelmente proporcional à população branca somada à população escravizada – sendo que cada cinco negros eram contabilizados somente como três pessoas.

Esse sistema de compromisso entre os estados foi importante para a formação da federação, mas criou uma distorção na proporcionalidade entre os estados que persiste até hoje.  Algumas alterações no número de delegados foram realizadas com os censos realizados a cada década.

Regras estaduais

A Constituição dos EUA também determinou que as regras eleitorais sejam majoritariamente definidas pelos estados. Não há nem a obrigação de um voto popular. Então, para cada um dos 50 estados representados no colégio eleitoral as regras são únicas.

Em 48 estados, estabeleceu-se a regra de que o mais votado recebe todos os delegados, no chamado “winner takes all”.  No Nebraska e no Maine, as subdivisões dos estados em distritos dão o delegado para o vencedor local.

Com a pandemia e o voto antecipado, outras diferenças de regras entre os estados ficaram mais visíveis. Alguns permitem contabilizar o voto que chega mesmo após o fechamento das urnas se foi colocado no correio até hoje, enquanto outros descartarão esses votos.

Estados como a Flórida já estão contabilizando os votos antecipados, enquanto a também decisiva Pensilvânia só começará a apurar após o fechamento das urnas.

Com as regras eleitorais diferentes, o provável é que diversos estados não publiquem o seu resultado nesta noite e na madrugada. Se a eleição estiver apertada, pode demorar dias ou até semanas para que o vencedor entre Donald Trump e Joe Biden seja conhecido.

Para facilitar o acompanhamento da eleição, fique de olho nos seguintes pontos:

1) Joe Biden é o favorito nas eleições dos EUA

As pesquisas eleitorais mostram o candidato democrata como o claro favorito para vencer a corrida eleitoral deste ano. No site FiveThirtyEight, que consolida as pesquisas eleitorais, a chance de uma vitória de Biden é de quase 9 em 10 cenários possíveis.

Isso não significa que Trump não possa ganhar. 10% de chance é um cenário factível, mas indica que o caminho para a vitória é mais difícil. O presidente precisa que mais pesquisas estejam erradas na mesma direção em diversos estados ou que ele consiga convencer as pessoas certas a votarem neste dia final.

Em 2016, ele também estava na posição de azarão, mas sua condição eleitoral era melhor. As pesquisas naquele ano capturaram um movimento tardio em direção a ele e o número de indecisos era maior na reta final.

Além disso, os levantamentos se apoiavam mais em modelos nacionais que eram replicados nos resultados por estado. Neste ano, os principais institutos de pesquisa focaram nas disputas estaduais e tentam repetir a margem de acerto de 2018.

Em resumo, para Trump vencer, quase tudo tem que dar certo para ele. Enquanto Biden tem diversos caminhos para a vitória e pode se dar ao luxo de ter errado em algum extrato social ou estado na reta final.

2) Atenção para resultado de eleição na Flórida

O estado que abriga a Disney e o destino de férias de milhares de brasileiros possui uma população idosa aposentada e muitos imigrantes latinos. É um cenário perfeito para entender como o país está dividido e, ainda melhor, conclui rapidamente a sua apuração. O resultado deverá sair nas primeiras horas dessa madrugada no Brasil.

Com um forte peso de 29 dos 538 delegados, o estado é chave para essa eleição. Se Biden for declarado vitorioso, ele dificilmente perderá a disputa. No FiveThirtyEight, com o triunfo na Flórida, as chances de Biden de se sentar no Salão Oval da Casa Branca são superiores a 99%.

Já se Trump ganhar, isso não será decisivo para o presidente. Apenas é um tijolo no paredão vermelho que precisa erguer para barrar a vitória dos Democratas. No entanto, se o presidente ganhar com uma margem grande, pode ser um sinal de uma onda não capturada nas pesquisas.

3) Pensilvânia e outros estados-chave para eleição

A expectativa dos principais especialistas é que a Pensilvânia seja o estado decisivo na vitória da eleição. Novamente, se Trump ganhar não define a disputa, mas a Pensilvânia é tão relevante que os dois candidatos visitaram o estado diversas vezes nas últimas semanas.

Aqui, Biden está numericamente à frente, mas o resultado é incerto.

O estado, contudo, tem um sistema e regras de votação que dificilmente entregarão um resultado rápido. Os votos antecipados só começarão a ser contabilizados hoje, o que atrasará a definição de um vencedor.

A expectativa é que o primeiro número seja favorável a Trump e que essa margem seja gradualmente reduzida com a contabilização do voto antecipado, que se espera seja mais democrata. Só aguarde uma decisão rápida se algum dos dois candidatos tiver uma votação tão expressiva que a margem seja impossível de ser eliminada.

Além da Pensilvânia, estados são considerados como pêndulo – ou swing states – como Arizona, Carolina do Norte, Colorado, Ohio, Georgia, Iowa, Michigan, Minnesota, Nevada, Texas, Wisconsin, e a Flórida estão entre as dúvidas e ajudarão a decidir a eleição.

Desses, Biden é favorito em todos com a exceção de Texas e Ohio, onde Trump possui vantagem numérica.

4) Resultado das eleições dos EUA pode não sair hoje

Para desespero dos investidores ansiosos, não há certeza de que teremos o resultado da disputa até a manhã de quarta-feira. A eleição antecipada foi muito utilizada e estados que não têm histórico da utilização desse método estrearão logo na eleição com a expectativa de maior participação da história.

Se Biden encaminhar a vitória com a Flórida e mostrar força eleitoral, possivelmente teremos um resultado breve, pois ele alcançará o desejado número de 270 delegados.

A vitória de Trump, contudo, passa por vencer em estados em que a contagem é mais lenta. Só espere um anúncio da vitória do presidente se as pesquisas estiverem muito erradas e na mesma direção.

Trump já falou que poderá não aceitar os resultados se perder e vem há meses reforçando a acusação de fraude no sistema eleitoral. Não há nenhuma comprovação de fraude estrutural que consiga alterar o resultado e nem o presidente ou sua equipe mostrou provas.

Biden deverá ser pressionado a não aceitar o resultado dado o clima polarizado, mas o candidato já anunciou que irá fazer o discurso de concessão caso seja declarado derrotado.

Os dois lados, contudo, se preparam para uma batalha jurídica em dezenas de estados e uma incerteza poderá se instalar nas próximas semanas.

A data final para que os estados definam o vencedor é 14 de dezembro.

5) Olho no Senado – e na Câmara

Tão importante quanto a disputa presidencial será a batalha pelo legislativo. O Congresso norte-americano possui uma força bem superior ao brasileiro, pois impõe o orçamento ao Executivo e pode simplesmente não financiar propostas, barrando a execução de projetos do presidente eleito.

Foi o que ocorreu nos seis últimos anos do ex-presidente Barack Obama, que perdeu o controle do Congresso na eleição de 2010, e com Trump na eleição de 2018. Sem o suporte das duas casas, o presidente tem que negociar mais profundamente e fazer mais concessões para ver suas propostas aprovadas.

A expectativa é que os Democratas mantenham facilmente o controle da Câmara dos Deputados e possam conquistar a maioria no Senado. Neste último caso, a chance é de 75%.

Se as pesquisas estiverem certas, Biden poderá ter dois anos de tranquilidade para passar propostas progressivas como expansão do plano trilionário de recuperação da economia, elevação do salário-mínimo, revisão das políticas de imigração e retorno das políticas de controle de poluição e mudanças climáticas.

Caso Trump vença, ele deverá continuar em uma disputa com a Câmara democrata e ter dificuldades de passar uma agenda de segundo mandato.

Bônus: há a chance de um empate na eleição

Como o número de delegados no colégio eleitoral é par, há a chance de que Trump e Biden empatem. Os dois podem alcançar os 269 votos e a disputa segue para uma nova etapa – também complexa.

A Câmara dos Deputados decide o vencedor em uma disputa de um voto por estado. Hoje, os republicanos possuiriam 26 votos contra 22 dos democratas, mas é preciso esperar o resultado da eleição de hoje, pois será o novo Congresso empossado que fará esse desempate.

A eleição do vice-presidente é realizada no Senado, hoje sob controle republicano, e também pode ser importante no processo de eleições dos EUA.

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Felipe Areia

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