Escalada da Selic não é suficiente para segurar dólar no Brasil; entenda por que

A escalada da taxa básica de juros (Selic) não tem sido suficiente para segurar o dólar no Brasil. Os juros domésticos são, tradicionalmente, atrativos, e mesmo agora que Selic passou a subir, não está sendo suficiente para incentivar a entrada dos dólares das exportações no País. Os motivos são diversos, desde incertezas políticas internas até a estratégia de empresas, que estão deixando o dinheiro lá fora para quitar dívidas antecipadamente.

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Para se ter uma base, as exportações brasileiras, com destaque para soja e minério de ferro, estão batendo recorde em 2021. Mas a balança comercial aponta que o dólar levantado pelos exportadores está ficando fora do Brasil.

As exportações somam US$ 206,6 bilhões no acumulado em 12 meses até agosto na balança comercial, maior valor da série histórica iniciada em 1995. Já o fluxo cambial de exportação soma US$ 214,4 bilhões no período. Enquanto isso, o dólar acumula alta de 3,01% no ano.

A questão dos valores vendidos para o exterior estarem acima dos valores do fluxo cambial sugere que parte dos pagamentos aos exportadores está ficando lá fora. Os dados são do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

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Para o professor de economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Matheus Albergaria, esse movimento de saída é o inverso do que é esperado pelo mercado, porque quando as taxas de juros sobem é natural que se tenha mais dólar entrando no país.

“Na teoria, a diferença entre taxas de juros deveria ser um grande fator de atração de dólares aqui para o Brasil, ou seja, quanto maior a Selic em relação à taxa de juros norte-americana, por exemplo, mais dinheiro deveria ter aqui no país, mas isso não acontece, porque temos outros fatores que determinam a entrada e a saída de capital estrangeiro no Brasil, por exemplo, condições de risco.”

Nos últimos anos, o cenário de combate à pandemia da Covid-19, assim como uma série de tensões políticas entre governo e outros entes da federação, fizeram do Brasil um país instável política e economicamente.

“Isso, com certeza, acaba afetando as decisões dos investidores internacionais, lembrando que o risco é um dos determinantes fundamentais para a entrada ou saída de capitais ou de dólares aqui do país. E como o risco associado ao nosso país e à economia brasileira aumentou muito nos últimos dois anos, é de se esperar que os dólares fiquem mais no exterior”, analisou Albergaria.

Dólar mais fora do que dentro

O professor esclarece que esse fluxo de capitais para dentro ou para fora de um país não depende só da diferença entre juros. Depende de uma série de outros fatores.

E hoje, em um cenário de alta incerteza, por conta da perspectiva pós-pandemia no mundo, assim como turbulências internas aqui no Brasil, o capital tende a ficar muito mais fora do que dentro, exatamente porque existe um risco maior de se investir no país no momento, em comparação aos Estados Unidos.

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Mas, além das incertezas econômicas no mundo e no Brasil, existem as incertezas associadas ao desempenho de grande empresas, como o caso da grande incorporadora imobiliária chinesa Evergrande, que abalou o mercado internacional com a possibilidade de não pagar suas dívidas. Com esse cenário, os investidores vão em busca de ativos mais seguros.

“Os investidores internacionais tendem a migrar para ativos mais seguros, e um ativo mais seguro, historicamente falando, é o dólar, assim como os títulos da dívida norte-americana. Então isso faz com que os dólares fiquem muito mais fora do que dentro do Brasil.”

Estratégia de grandes exportadoras como Petrobras

Além do cenário macroeconômico, as grandes exportadoras como Petrobras (PETR4), Klabin (KLBN11) e Vale (VALE3) podem deixar os recursos no exterior como forma de já antecipar o pagamento de suas dívidas que são em dólares. Essa é uma das análises do Banco do Central que explica porque o dinheiro em moeda norte-americana está ficando mais no exterior do que no Brasil.

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Em uma live, o diretor de política monetário do BC, Bruno Serra Fernandes, disse que as empresas estariam antecipando o pagamento de dividas no exterior, chegando ao fim do ciclo de pagamento e, entre este e o próximo ano, deverão ajudar a fechar a “boca do jacaré”.  É conhecida como “boca de jacaré” a diferença entre as exportações físicas e o câmbio contratado de exportações.

O caso mais analisado é a Petrobras, que desde o escândalo da Lava-Jato tem se preocupado em limpar seu nome com os pagamentos antecipados da dívida em dólar no exterior.

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Poliana Santos

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