Dólar abaixo de R$ 5 (e com tendência de queda): até quando vai essa ‘maré de otimismo’?

Desde o início de 2023, o dólar vem acumulado uma série de solavancos para baixo na sua cotação. Do primeiro dia do ano até agora, o mercado tem enxergado uma melhora substancial em uma série de pontos que ocasionaram uma baixa de 10,5% da moeda americana ante o Real, a atuais R$ 4,7299.

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Em meados de janeiro, março e junho, o dólar apresentou suas quedas mais bruscas, embalado ora por otimismo com indicadores econômicos e ratings melhores, ora por novidades positivas no fluxo de investimento e na agenda política.

Contudo, ainda não há consenso para o dólar em 2023, e analistas divergem sobre para onde o câmbio deve caminhar ao longo do segundo semestre.

Os dois pontos centrais que devem ser drivers para a cotação do dólar são o Federal Reserve (Fed) e como a autoridade monetária dos EUA irá manejar a curva de juros, e também a agenda de reformas e os ânimos do Governo Federal.

Em linha com o consenso do mercado financeiro, refletido no Boletim Focus, o Itaú espera que o dólar suba até o fim do ano e projeta R$ 5 de câmbio para 2023.

“O cenário externo continua beneficiando moedas de carrego, mas o início de cortes de juros bem como o maior aperto nos juros EUA devem trazer alguma desvalorização para o real ao longo do segundo semestre do ano”, destaca Mario Mesquita, Economista-Chefe da casa.

Para o especialista, o Copom deve iniciar o ciclo de queda da Selic na reunião de agosto, com corte de 0,25 ponto percentual (p.p.), ao passo que o Fed deve subir os juros dos EUA em igual magnitude por duas reuniões consecutivas.

Além disso, Mesquita chama atenção para os movimentos relacionados aos ratings de agências de risco.

“O prêmio de risco doméstico tem mantido uma tendência de queda na margem após o anúncio de perspectiva positiva do rating soberano pela Standard & Poor’s (S&P) e da manutenção da meta de inflação em 3% com intervalo de tolerância em 1,5 p.p”, aponta.

Ainda no dia 26, vale destacar, a Fitch elevou o rating soberano do Brasil de “BB-” para “BB”, semanas após a elevação da S&P.

Ao comunicar a elevação, a agência destacou: “A elevação dos ratings do Brasil reflete o desempenho macroeconômico e fiscal acima do esperado em meio a choques sucessivos nos últimos anos, políticas proativas e reformas que apoiaram isso e a expectativa da Fitch de que o novo governo trabalhará para melhorias adicionais”.

Risco Fiscal, reformas e ‘menos fogo’ entre BC e Planalto

Fora do ambiente de indicadores melhores, uma das preocupações do mercado também parece ter mostrado arrefecimento em relação aos ruídos do início do ano.

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, destaca: “Um ponto que é relevante é a redução das incertezas com relação ao governo e ao rumo fiscal. Vemos a aprovação do arcabouço, as falas do Haddad com teor de mais preocupação com equilíbrio fiscal. Além disso, o Congresso tem se oposto ao governo em temas importantes, como marco do saneamento, autonomia do BC, privatização. Isso contribuiu muito”.

Simultaneamente, o especialista ainda aponta que a manutenção da meta de inflação fez o mercado reduzir suas preocupações.

Os especialistas do BTG Pactual, em seu relatório mais recente sobre câmbio, destacam que a economia doméstica segue convivendo com um cenário mais favorável, marcado pela definição da meta de inflação em 3% e pela aprovação da Reforma Tributária dos impostos indiretos na Câmara dos Deputados.

“Essas decisões proporcionaram uma melhoria na previsibilidade para os agentes do mercado em relação à política monetária futura, principalmente por resultarem em um balanço de riscos mais construtivo para o início do ciclo de cortes da taxa Selic, que esperamos que comece em agosto, e por contribuírem para uma perspectiva estrutural mais favorável para as contas públicas do Brasil”, analisam Leonardo Paiva e Arthur Mota.

A projeção da casa é de R$ 4,80 de câmbio para o fim do ano, levemente acima dos patamares atuais do dólar e abaixo das projeções do Focus, de R$ 5.

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Fed e o diferencial de juros devem ‘mandar’ no dólar

Apesar disso, o BTG destaca que o cenário internacional deve ser um catalisador relevante, e o diferencial de juros entre Brasil e EUA deve ser um ponto chave para decidir a cotação do dólar em 2023.

“No curto prazo, estaremos focados no cenário internacional devido à incerteza em relação ao término do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos. A agenda política doméstica precisará continuar avançando para equilibrar a redução do diferencial de juros entre o Brasil e os EUA e permitir uma taxa de câmbio próxima a R$4,80 até o final deste ano”, destaca o BTG.

Sung, da mesma forma, destaca que os movimentos do Fed devem ser mandatórios para os rumos do câmbio.

“Se o juros estiverem a 5% nos EUA e no Brasil a 10,% o risco do Brasil é maior. Quanto menor o diferencial, mais preferível investir onde tem mais segurança. O retorno esperado do Brasil tem que ser maior para compensar o risco. Isso no curto prazo pressiona o câmbio e causa desvalorização”, explica.

“O que eu vejo é que o BC irá diminuir juros e a inflação está controlada. A autoridade monetária está vendo um ambiente melhor e uma situação mais confortável. A tendência é de acomodação e de um efeito positivo com o câmbio. Podemos ter uma puxada no câmbio pelo diferencial de juros, mas sinalizará que o brasil está no caminho certo para controlar a inflação”, conclui.

Powell ‘menos hawkish’

O Fed, aliás, tomou decisão de elevar os juros em 0,25 ponto percentual (p.p.) na última semana, deixando os juros na faixa de 5,25% a 5,5% – já que nos EUA os juros são uma banda, e não um número fixo.

O patamar, o maior em 22 anos, já era esperado pelo mercado.

Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, destaca que a decisão foi ‘menos hakwish’ que as anteriores.

“O comunicado foi bem em aberto, o que eu interpreto como uma intenção do Fed de parar o ciclo de alta. Parece que eles estão bem dispostos a cessar o ciclo. A coletiva do Powell teve vários pontos sobre o mercado de trabalho desacelerando, o efeito defasado da política monetária, CPI abaixo do esperado. O próprio Powell disse que há portas abertas”

Sem cravar um número específico, Veronese ainda aponta que vê uma tendência de um dólar a cerca de R$ 4,70 ou R$ 4,80 ao fim de 2023, destacando que considera R$ 5 uma projeção ‘relativamente exagerada’.

“A gente vai terminar o ano com juros de dois dígitos por aqui, e o Brasil vive um bom momento econômico. Nossa visão é de um cenário mais fraco de dólar ante o real”.

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Eduardo Vargas

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