Balanços da semana

CVC (CVCB3) ensaia retomada com digitalização e Argentina, diz diretor

Com as restrições impostas pela pandemia, a CVC (CVCB3) teve queda de 22% nos seus papéis desde o início de 2021 mas, para os próximos anos, a companhia pretende uma retomada com uma ampliação da operação na América Latina e um aumento na digitalização em conjunto com a operação física.

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Em entrevista exclusiva ao Suno Notícias, o CFO (Chief Financial Officer) da CVC, Marcelo Kopel, comenta a situação atual da companhia e os seus prognósticos para o futuro.

Ante o avanço da variante Ômicron, que surgiu recentemente, a companhia acredita que o impacto financeiro em passagens compradas deve ser reduzido.

Isso porque o período de dezembro marca o início da abertura da temporada de verão no Hemisfério Sul, e com o avanço da vacinação no Brasil, atualmente cerca de 90% dos embarques dos clientes do grupo CVC Corp são de viagens domésticas, em linha com a preferência histórica dos consumidores nessa época do ano.

Além disso, com a demanda ainda represada atualmente, o executivo espera uma melhora do quadro para os próximos meses. O diagnóstico foi feito pelo CFO da companhia e os destaques da entrevista você confere abaixo:

A CVC está se movendo em direção a preços dinâmicos e expandiu sua base de hotéis em cerca de 25% no Brasil, movimentos que os analistas sugerem como capazes de impulsionar o crescimento das vendas e margem de receita – há, de fato, uma mudança na estratégia?

No futuro, teremos uma estratégia que conversa com canais, teremos omnichanel, isso fará com que as compras do mundo digital sejam conectadas com o físico. Hoje o cliente vai a uma loja nossa e não fecha, ele sai com uma cotação. O que vai acontecer é que você vai sair com o QR Code.

No meio online, isso atualiza a cotação ao vivo, em decorrência das alterações na cotação do dólar e outras questões. Com essa facilidade, há uma comodidade. Isso facilita a vida do consumidor, unindo o físico e o digital. Atualmente ainda optamos por manter o físico porque o brasileiro gosta o presencial, das lojas.

Apesar disso, não estamos onde gostaríamos de estar no mundo digital e queremos fechar as lacunas que temos. Temos um ativo de grande valor que é a rede física. A união dos dois, não temos outro player que consiga. As OTAs [online travel agency, ou agências de viagem online] competem diferente. Para nós, gera muito mais valor a união, do que unilateralmente. 

Com o câmbio ainda instável e o ciclo de alta da taxa de juros, como vocês devem ser afetados? Há uma previsão de que isso impacte muito negativamente a demanda, já que 2022 será um ano mais turbulento com eleição e risco fiscal?

Entendemos que a primeira metade do ano de 2022 deve ser abastecida com demanda reprimida. Temos muita gente que quer e que vai viajar. Se o dólar aumentar para R$ 5,60 ou 5,30, a pessoa vai viajar de qualquer modo.

Teremos uma vazão, e depois disso, o dólar pesa sim. Como companhia de um modo geral, a inflação e o juro alto não é bom e provavelmente podemos ter um segundo semestre mais sensível a isso. 

Nesse sentido, de mudança de estratégia, há alguma outra novidade no front?

Trabalhamos muito com a capacidade de ofertas, através de fretamentos e bloqueios com aéreas. Ter tamanho e estrutura, nesse sentido, é muito importante para nós, a gente consegue mitigar preço.

Provavelmente seremos os primeiros do mercado a fazer isso: introduzir a modalidade de pagamento de 24x iguais, com parceiros de mercado com financiamento com juros, vendo uma extensão, com pagamentos no cartão de crédito em 10x ou 12x.

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Agora vamos além, para 24x, com parceiros de mercado. Se o cliente quiser um hotel melhor, alugar um carro, ele pode pagar em 18x, ou 24x. Adicionamos facilidades de pagamento nesse cenário. Isso não resolve todos os problemas, mas abre uma capacidade.

Se você pudesse dizer algo para o acionista da CVC, o que você falaria?

Acho que o acionista experimentará o crescimento da companhia, temos oportunidade de nos tornarmos mais eficientes. Na medida que crescemos receitas e vendas e conseguimos um controle de custos, tendemos a produzir bons resultados.

Há centralidade no cliente. Temos uma base de dados de 25 milhões de clientes, que é estratégica para a multicanalidade. Já fazemos recomendações, temos um modelo de princing, ajuste no mercado. O acionista pode esperar que seremos mais próximos dos clientes.

Temos boas perspectivas para o futuro, investiremos na Argentina, é um país onde investiremos mais, para onde voltaremos e seremos mais ágeis. Nessa região, não aumentaremos tanto as vendas, mas teremos consolidação e seremos mais ágeis e competitivos com impacto previsto para o balanço da CVC do segundo semestre de 2022.

A CVC teve uma redução de 61% no prejuízo no resultado trimestral da empresa, divulgado recentemente, mas teve um saldo negativo em 2020 e ainda está no vermelho neste ano. Há algum indicativo de uma retomada para um lucro líquido da companhia? E da redução da alavancagem?

Concluímos a segunda rodada do aumento de capital – somamos um total de R$ 1,8 bilhão de capitalização, a dívida bruta e líquida estão no menor nível há mais de seis trimestres.

Houve uma desalavancagem da empresa com esse valor, sendo que cerca de R$ 200 milhões nós usamos para pagar dívida, então parte da desalavancagem vem com a emissão que fizemos. O recente fica no caixa para girarmos e crescermos a companhia.

Mas vale lembrar que o nosso resultado tem uma singularidade. O CVC B2C, na medida que os clientes embarcam, conhecemos o perfil do cliente, e podemos adaptar a nossa oferta de produtos. No 3t21 as vendas anteriores e posteriores, tiveram menos participação com vendas anteriores à pandemia.

Toco nesse ponto pois as vendas feitas antes da pandemia tinham uma margem menor do que as pós pandemia. Esse mix de 40% de venda antes da pandemia passou a ser somente 20%. Aceleramos nos indicadores de vendas, embarques, e isso se refletiu positivamente na receita e também tivemos uma melhora por conta desse mix. 

Outras companhias do setor afirmam que a demanda está mudando, mas o volume ainda é incerto, dado que o corporativo caiu muito com o home office, mas as viagens de lazer são a grande aposta. Vocês concordam com essa visão, e como veem isso para a companhia?

Em setembro, nossas vendas nacionais foram 92% do que era Setembro de 2019 – porque para nós é melhor comparar com 2019 para não poluir com a sazonalidade da pandemia. Havia 44% [de demanda] internacional nesse período, mas lembramos que dois destinos importantes para nós não estavam abertos no 3T21, Argentina e EUA, que abriram agora no início de outubro.

O internacional não deve terminar o ano no nível de 100%, mas sim em cerca de 70%. Dependemos do que a gente chama de disponibilidade, por conta da malha aérea. Isso é bom porque disponibiliza vendas para gente.

Temos dois negócios grandes, a CVC Lazer, com lojas e online, e temos o B2B – com as “tur” [se referindo às suas subsidiárias com sufixo “tur”, responsáveis pelo segmento de ‘varejo’ nas viagens].

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Esse negócio, quando falamos do corporativo, não é só viagem de negócios, mas temos agências menores que não se conectam. Eles fazem isso através da nossa companhia.

Na ponta disso, temos dois públicos grandes, o corporativo e as pessoas físicas. O B2B cresceu muito no 3t21. Muita gente que comprava direto nos hotéis agora compra pela CVC, porque não tem crédito para trabalhar com eles diretamente. O negócio corporativo vem retomando, especialmente na parte doméstica, apesar de não no internacional. 

O que muda é que os congressos e as feiras estão voltando, e isso impulsiona a volta do corporativo. Hoje não temos mais essas pontes aéreas, o Zoom e o Meets resolvem isso.

Vocês frisaram a questão das férias de julho para o balanço. Com essa situação sanitária, quais sazonalidades vocês veem para o ano que vem? O quatro trimestre deve retomar o pré-pandemia, como vimos com os shoppings?

Tipicamente, essa transição de ano tem mais compras do que embarques. Esperamos que os embarques fiquem mais fortes do que as vendas, é normal essa sazonalidade. Esperamos que as vendas sigam acontecendo. O último trimestre, teremos um impacto pontual, por conta do ataque hacker de outubro. A tendência é de recuperação, sim.

Como o senhor citou, a companhia sofreu com um ataque hacker. Como foi lidar com a situação e qual deve ser o impacto previsto no balanço do 4T21?

Ficamos praticamente duas semanas sem vendas. Por regra, você consegue ver a média de vendas diárias e calcular quanto perdemos. Porém, tem gente que esperou para comprar, mas tinha gente que ia embarcar logo e não comprou conosco. Existe essa demanda.

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Depois do ocorrido, divulgamos um comunicado quantificando um impacto de R$ 55 milhões destinados para a recuperação do ambiente digital.

Desde então, há algum aumento na robustez dos sistemas de segurança digital?

Já vínhamos fazendo isso. O ambiente estava sendo reforçado. Tínhamos backup de 100% da base. O incidente foi no sábado, 5 horas da manhã. O nosso CIO mandou desligar tudo e conseguimos fazer a desencriptação e retornar com os backups.

Todo mundo sabe que ter backup é bom, mas quem faz disso uma prática corriqueira sai na frente. Tínhamos backups de tudo, e isso foi fundamental para gente, com utilização de antivírus e perímetro seguro.

O CEO, recentemente, afirmou que a questão de problemas contábeis era um problema passado da empresa e que isso não afetaria os resultados futuros dado que a governança da CVC mudou para melhor. Quais foram as mudanças concretas internas que vocês fizeram desde o ano passado, e como vocês preveem ampliar isso nos próximos anos? 

Desde o ano passado, todo aspecto de comitês, de gestão de pessoas, foram criados. Isso com acompanhamento de perto do conselho de administração.

Esses aprimoramentos foram importantes, já que a transparência para uma ‘true corporation‘ é fundamental. São coisas importantes que foram feitas. Temos também um conselho fiscal, um comitê de auditoria.

Muito foi falado sobre o fato de o senhor ser ex-Itaú quando foi nomeado CFO da CVC. Nesse aspecto, o que esse passado tem ajudado na gestão da CVC?

O meu último trabalho no Itaú (ITUB4) foi na área de cartão de crédito, algo eminentemente de varejo. Essa bagagem que eu tenho de varejo me ajuda muito. 

Invariavelmente você conversa com colegas. Você sabe o que é importante. Tem sido bom poder usar a experiência passada dos meios de pagamento aqui na CVC.

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Eduardo Vargas

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