Como o Itaú (ITUB4) é afetado pelo ‘fim do JCP’ e o ‘teto do rotativo’?

Em teleconferência com analistas após reportar um lucro de R$ 8,4 bilhões no primeiro trimestre deste ano, o CEO do Itaú (ITUB4), Milton Maluhy Filho, comentou que o banco “não ignora riscos” ao ser indagado sobre eventuais impactos tributários e regulatórios.

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Isso, considerando as propostas ventiladas em Brasília que são temas caros ao Itaú e os demais bancos e têm motivado encontros entre o Ministério da Fazenda e executivos de instituições financeiras.

Dentre estes, a possibilidade de um ‘teto’ na cobrança dos juros do cartão rotativo e o fim dos Juros Sobre Capital Próprio (JCP).

“De fato, aqui no Itaú não ignoramos risco. Temos algumas incertezas, e o de cartões é uma delas. O trabalho que temos é de conseguir educar os stakeholders sobre como funciona o mundo de cartões – que é um ambiente muito complexo, um ecossistema que contempla com bandeira, lojista, cliente e emissor”, disse o CEO do Itaú.

“Eu defendo a técnica e a compreensão do todo, isso tem ficado claro para o mercado, fica claro também para o Banco Central, Ministério da Fazenda. Estamos discutindo alternativas e caminhos para evoluir o mercado. Claro que isso não depende de uma parte isolada”, segue.

Sobre o JCP, o executivo destacou que a visão ainda é de uma leitura preliminar, que não há uma proposta clara.

O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad disse ainda em meados de abril que um eventual fim do JCP poderia servir para “coibir supostos abusos”. Maluhy, ao responder um analista, chegou a citar um caso, porém sem revelar os nomes.

Além disso, defendeu uma solução mais direcionada e específica para os problemas que envolvem a questão.

“Sobre o JCP, é pura leitura. Não temos proposta clara. Vimos recentemente comentários sobre um auto de infração que teria sido feito para uma empresa em um valor bem relevante. A nossa visão aqui é que se alguém fez alguma operação errada [de JCP] – e não sei qual é o caso e não farei juízo de valor sobre a causa – acho que tem que atacar de forma implacável onde houve um exagero ou um excesso de ‘criatividade'”, comentou.

O CEO ainda relembrou que o JCP foi criado a fim de substituir a correção monetária de balanços, para “manter o poder de paridade do seu patrimônio em um país inflacionário como o nosso”.

Além disso, destacou que o setor em que o banco atua é o “mais tributado do país”, com 45% de impostos dentre IR, contribuição social, PIS e Cofins sobre spread e outros tributos.

“Temos que tomar cuidado com essas agendas de curto prazo, pois elas comprometem o crescimento da carteira de crédito e aumentam o spread no Brasil, e precisamos atacar o custo, justamente o contrário”, completou.

Itaú fez ajustes de portfólio para ‘atravessar inadimplência’

Sendo um tema amargo a concorrentes mais expostos ao varejo, a inadimplência também esteve dentre os temas centrais da teleconferência do Itaú.

O CEO do banco, contudo, destacou que há um ajuste de portfólio em curso na carteira de crédito, a fim de ‘calibrar o risco’ e manter a resiliência no ambiente macroeconômico atual.

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“Tem um trabalho de reposicionamento, migramos para um portfólio mais garantido, com rentabilidade mais baixa porém mais resiliente em um cenário de maior adversidade. Lá atrás tivemos um terço do portfólio em baixa renda, e agora reduzimos mais de 10 pontos percentuais nesse segmento”, disse Maluhy.

“Olhando no varejo [de crédito] como um todo, a nossa expectativa é de continuar atuando forte, mas não acho que volta para os patamares lá de trás. Ainda temos uma agenda forte de eficiência. No fundo é o que controlamos, sobretudo na pessoa física“, acrescentou.

Atualmente o ITUB4 soma uma participação de mercado (market share) de cerca de 30% – considerando a participação do Banco Carrefour, o qual o Itaú detém 49%.

O CEO destacou que apesar das mudanças no varejo, o perfil dos clientes sempre foi “de média e alta renda, de um modo geral”.

Menos agências e agenda de eficiência

Sobre as mudanças estruturais do banco, que envolvem um corte de cerca de 1,5 mil agências desde meados de 2015, o CEO reiterou a intenção da casa em “seguir com a agenda de eficiência” e de ter em mente um modelo ‘phygital’ – termo em inglês que descreve um modelo de negócio que mescla o físico e o digital.

“Conseguimos atingir essa eficiência com uma alavancagem operacional, tinha espaço para isso. Em termos de redução de agências, nós reduzimos praticamente 1,5 mil agências desde meados de 2015. Não é um objetivo isolado, o objetivo é atender melhor os nossos clientes, acreditamos muito em um modelo phygital”, comentou.

No primeiro trimestre deste ano, o Itaú fechou 55 agências e chegou à marca de 415 agências digitais, um “modelo diferente com custo baixo e horário estendido”, segundo a gestão atual.

“Há espaço, continuaremos evoluindo e debruçados sobre a agenda de eficiência. O topline vem forte, ajuda no índice, mas temos um olha para frente, o equilíbrio tem que continuar se dando. Se o topline é incerto, o custo é certo. Continuaremos mergulhados nisso”, destacou o CEO do Itaú.

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Eduardo Vargas

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