Rodrigo Sodré

Renda fixa está com tudo em 2022

O Ibovespa fechou o ano com um tombo de 11,93%, o pior desde 2015. Há motivos para se ter esperanças quanto a 2022? Adianto que sim - e não apenas para os investidores de renda fixa, que são os mais beneficiados pela alta dos juros.

O ano passado começou com expectativas de que seria o início da superação das agruras de 2020, marcado pelo surgimento da pandemia da Covid-19. O último boletim Focus daquele ano previa uma inflação de 3,32% e um crescimento de 3,4% do PIB. O otimismo foi corroído aos poucos por uma nova e mais letal onda da doença e por problemas macroeconômicos que borraram as previsões: agora, o mercado espera que o IPCA alcance 10,01% e o PIB, atualmente em recessão técnica, chegue a 4,5%.

A alta dos preços que marcou 2021 é um fator fundamental e que interfere em todo o conjunto da economia brasileira: o fato de 60% do PIB ser constituído pelo consumo das famílias dá a dimensão do impacto desse fenômeno. Combustíveis, energia elétrica e alimentos, principalmente, dispararam, a reboque da desvalorização do real, da alta dos preços das commodities e da crise hídrica que assolou o país, gerando efeito cascata de encarecimento nas cadeias produtivas. Deve-se considerar ainda a crise logística global que começa, discretamente, a se amainar.

Para enfrentar o pantagruélico IPCA, o Banco Central aumentou a taxa Selic de 2%, no final de 2020, para 9,25% – valor que pode passar de 11% neste novo ano. Se a inflação é um entrave ao crescimento do principal componente do PIB, os juros altos também não ajudam à expansão da economia. A falta de comprometimento fiscal da União agrava o cenário, com manobras para furar o teto de gastos, como a PEC dos Precatórios e a revisão da âncora fiscal, fatores que minam a confiança dos investidores no Brasil em um momento já hostil à atividade econômica. Nessa seara, ao menos houve uma boa notícia: o Congresso manteve, em dezembro, a chamada “regra de ouro” dos gastos federais.

Em linha com os passos dados pelo governo rumo a uma flexibilidade fiscal, as reformas estruturantes aguardadas há anos não encontraram um ambiente propício à sua evolução em Brasília. As reformas tributária – relevante para alavancar negócios – e administrativa – importante para a saúde fiscal – não avançaram no Legislativo e sequer contaram com empenho do Executivo. Nenhuma empresa estatal federal, tampouco, foi privatizada. Nesse cenário, o Ibovespa fechou o ano com um tombo de 11,93%, o pior desde 2015.

Após um período tão controverso, há motivos para se ter esperanças quanto a 2022? Adianto que sim – e não apenas para os investidores de renda fixa, que são os mais beneficiados pela alta dos juros. O déficit das contas públicas, por exemplo, veio caindo mês a mês ao longo de 2021 e, agora, já se prevê um superávit no ano de US$ 49,6 bilhões. Em novembro, a dívida bruta do governo geral teve uma queda, chegando a 81,1% do PIB, segundo o BC – o melhor resultado desde maio de 2020, decorrente do crescimento do PIB nominal e da desvalorização cambial, entre outras causas.

A inflação também já começou a apresentar certa trégua, desacelerando em novembro. O IPCA registrou 0,95%, ante 1,25% em outubro, um resultado abaixo das projeções. Bombardeado pela Selic, o índice deve cair até atingir os 5,03% este ano – valor acima do teto da meta (5%), mas que já representaria um alívio para a economia. Também deve contribuir para esse abrandamento a normalização das cadeias globais, o que pode destravar a produção de manufaturas e a recomposição de estoques. Nesse sentido, juros e redução de consumo também contribuem para um reequilíbrio de oferta e demanda a nível local.

Com esse panorama à vista, a renda fixa continua como um ativo primordial nas carteiras de investimento. A Selic na casa dos dois dígitos ao longo de quase todo o ano deve aumentar o retorno dos ativos pós-fixados. Já os pré-fixados com prazos entre dois e três anos têm maior segurança somada a ganhos maiores. Os fundos imobiliários, por outro lado, devem ser beneficiados pela queda na vacância das lajes corporativas. O cenário também é propício para investimentos internacionais, sobretudo em setores de crescimento acelerado, que vão de cibersegurança a veículos elétricos e energias renováveis.

Nota

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Rodrigo Sodré
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