Ricardo Propheta

Constância é chave ao investidor de private equity — em cenários com e sem crise

Regularidade nos aportes é o que pavimenta o caminho para ganhos mais robustos e de longo prazo em fundos de empresas com potencial de crescimento, não listadas em Bolsa

Inflação e juros globais em alta, ruídos geopolíticos e proximidade das eleições no Brasil apontam a uma tempestade quase perfeita no mercado financeiro nos próximos meses. É previsível, neste contexto, que investidores fujam de ativos de maior risco, como ações de empresas diretamente expostas à instabilidade atual, para outros mais conservadores, de renda fixa, por exemplo, ou que sejam mais resilientes e estratégicos no futuro. Nessa segunda categoria, se encaixam, entre tantos outros, investimentos em private equity — um tipo de investimento privado, em que os aportes são feitos diretamente em empresas não listadas em Bolsa, com potencial de ganhos no longo prazo. O mantra que diz que “crise gera oportunidades” se aplica a esse tipo de alternativa, mas não dá conta de explicar conjunto da obra.

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O caminho para ganhos mais robustos e sustentáveis, para além do curto prazo, está na constância. É a regularidade dos aportes que diferencia e qualifica um investidor pessoa física de private equity, tanto já iniciados, como os de primeira viagem. Em comum, segundo critérios regulatórios, todos devem ser investidores qualificados, ou seja, ter ao menos R$ 1 milhão em investimentos financeiros, na classificação da CVM, ou certificação profissional. Mas nem todos, necessariamente, se atentaram à importância deste timing da estratégia de distribuição de recursos. É preciso afastar a visão oportunista e equivocada de que investimento em private equity só se aplica (ou faz mais sentido) em cenários de turbulência. O que muda no fim da jornada é a distribuição, entre aportes e retiradas, feitos de forma estratégica ao longo dos anos.

Investimentos deste tipo são indicados para diversificar uma pequena parcela do portfólio, cerca de 5%, e o ideal é ser técnico, consistente e gradual no ritmo de alocação. É importante ter uma diversificação de fundos e prazos. Não é mar aberto: é uma classe de ativos sofisticada que exige análise, atenção e cuidado. Ainda que o recado pareça óbvio a alguns, esta análise é relevante pela recente facilitação e consequente ampliação do acesso a esses fundos, o que aconteceu de cerca de três anos pra cá, quando esta classe de ativos deixou de ser uma prerrogativa de investidores institucionais locais e estrangeiros.

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O cenário mudou completamente com o advento das plataformas digitais e a listagem de fundos temáticos. E o mercado evolui a passos largos. Em abril deste ano, a XP, maior plataforma de investimentos do país, anunciou uma novidade que ataca uma das principais demandas desta indústria: a falta de liquidez. Isso foi possível com o lançamento de um ambiente de negociação de cotas de fundos alternativos, incluindo private equity, no mercado secundário, o que deu mais flexibilidade e agilidade às tratativas. Atualmente, só a XP tem uma base de 40 mil clientes com posições em fundos alternativos. E esses são só alguns exemplos de como esse mercado deve continuar em franca expansão.

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Para se ter uma ideia da dimensão deste mercado, no primeiro trimestre deste ano, o segmento de private equity movimentou R$ 5,2 bilhões, alta de 173% sobre o mesmo período do ano passado. À época da divulgação desses números, Piero Minardi, presidente da ABVCAP, associação que reúne participantes das indústrias de private equity e venture capital, avaliou que mesmo que tenhamos no curto prazo diversas fontes de incertezas (como guerra, eleições, inflação, entre outras), o movimento de investimentos para o mercado nacional é intenso e confirma o dinamismo do ecossistema empreendedor brasileiro. Ao olhar para a totalidade do mercado, identificamos um dinamismo acentuado, com 2.845 fundos, que buscam arrecadar mais de US$ 1 trilhão, segundo a Preqin — número 60% superior ao registrado no começo de 2021.

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Oportunidades estão espalhadas em diversos segmentos da economia, com especial atenção aos fundos de infraestrutura (como os FIPs), e sub-segmentos, incluindo energia, transporte, saneamento e logística, com várias companhias e projetos a serem desenvolvidos, diante do imenso déficit da área no país. Em meio à queda recente dos ativos de private equity, o momento pode ser oportuno para redobrar a aposta, com vistas ao longo prazo. O avanço desta indústria é um caminho sem volta, e reflete o sintoma do amadurecimento do mercado de capitais no país Investidores cada vez mais preparados e informados precisam estar prontos para as oportunidades que já estão e aparecerão no caminho.

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Nota

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Ricardo Propheta
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