Paulo Albuquerque

Velocidade e variação da taxa básica de juros

A atual crise nos EUA não é de solvência, como na crise financeira de 2007-2008, mas sim de liquidez. Nenhum sobrevive a uma corrida pela liquidez em situação de estresse.

Na última semana, três bancos americanos faliram: Silicon Valley Bank (SVB), Signature Bank e Silvergate Bank. Esses eventos surpreenderam muitas pessoas, especialmente considerando a magnitude dos valores envolvidos e a rapidez com que ocorreram. Apesar de Signature e Silvergate serem importantes no universo das criptomoedas, a causa principal dessas falências foi o aumento da taxa básica de juros pelo Federal Reserve. Mas como pode um banco americano falir com juros a 4,75%, enquanto no Brasil a Selic está em 13,75% e nenhum banco quebrou?

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A resposta está na velocidade de variação dos juros. Na física, aprendemos que velocidade e aceleração são conceitos diferentes, mas relacionados. O mesmo ocorre com os juros de curto prazo: devemos considerar não só a variação da taxa, mas também a rapidez dessa variação.

No Brasil, a Taxa Selic passou de 2% em março de 2021 para 13,75% em agosto de 2022, uma variação de 588% em 17 meses. Nos EUA, os juros saíram de 0,25% em março de 2022 para 4,75% em fevereiro de 2023 – uma variação de 1800% em 11 meses. Portanto, a escalada dos juros nos EUA foi muito mais abrupta do que no Brasil.

O Brasil possui taxas de juros estruturalmente altas, e quando o Banco Central baixou a taxa para 2%, gerou críticas e não durou muito tempo. Em contraste, os EUA mantiveram taxas próximas de zero por quase 17 anos para incentivar sua economia, desde a crise financeira do subprime (2007-2008) até a pandemia da Covid-19.

Essa diferença no histórico de taxas de juros impacta o setor bancário por duas razões. Primeiro, um aumento tão rápido e acentuado da taxa de juros de curto prazo dificulta a adaptação dos bancos, apertando seu spread. Para atrair depositantes, os bancos precisaram aumentar suas taxas também, o que afetou principalmente bancos regionais americanos de menor porte.

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O segundo problema é a marcação a mercado dos títulos em poder dos bancos. Nos EUA, a renda fixa é sempre prefixada, e quando os juros sobem, o preço dos títulos cai. Os bancos mantêm esses títulos como garantias junto ao Federal Reserve, mas a alta rápida dos juros fez os preços despencarem. Com a corrida dos depositantes, muitos bancos tiveram de vender esses títulos com prejuízo.

Além disso, a alta dos juros afetou os investimentos de risco, como as criptomoedas, acelerando a quebra de bancos vinculados a esse segmento. A atual crise nos EUA não é de solvência, como na crise financeira de 2007-2008, mas sim de liquidez. Os bancos têm boa saúde financeira, mas nenhum sobrevive a uma corrida pela liquidez em situação de estresse. A confiança é essencial para o setor bancário, que por natureza é alavancado e depende da confiança de seus clientes. Sem a confiança dos depositantes, qualquer instituição financeira pode ir à falência.

A situação nos EUA nos mostra a importância de considerar a velocidade de variação dos juros, além de seu valor absoluto. A alta repentina e significativa das taxas de juros nos EUA afetou a estabilidade do setor bancário e levou à falência de alguns bancos. Isso destaca a necessidade de monitorar de perto as políticas monetárias e estar atento aos impactos da variação das taxas de juros no sistema financeiro.

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Nota

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