Mucio Mattos

Sobre Guimarães Rosa, pautas ESG e a importância de sempre estar de olho na grama do vizinho (Parte 2 – Final)

Como vincular as circunstâncias singulares do nosso país à nossa responsabilidade pelo desenvolvimento sustentável? Quais são as principais tendências que, além da expansão econômica, podem tornar o Brasil um player aclamado no esforço global em direção aos princípios ESG?

Para quem não sabe, este artigo é a continuação de uma publicação feita em março/2023 – sugiro começar a leitura por ele.

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Como eu disse na “Parte 1”, tive a oportunidade de participar do MIPIM, o maior evento de Real Estate do mundo, diretamente de Cannes, na França.

O evento é realmente impressionante, com pautas de altíssimo nível sendo debatidas por representantes dos mais diversos setores do mercado global. Apesar do pano de fundo do evento ser o debate sobre questões ESG, era impossível não perceber a outra grande pauta que permeava todas as rodas de conversa: os juros mais altos no mundo e, consequentemente, os impactos da restrição de crédito para o setor Imobiliário – que já repercute no mercado brasileiro.

Nesse sentido, é importante ressaltar que, quando falamos de Brasil, estamos falando da 12ª maior economia do mundo, à frente de Espanha, Austrália e Indonésia, com um crescimento do PIB projetado em média 2,3% de 2021 a 2026. Ou seja, somos vistos como líderes relevantes no mercado mundial, inclusive em desenvolvimento imobiliário, com este setor representando 8% da economia do país e que, nos últimos anos, cresceu a uma taxa superior ao PIB total do país.

É claro que variáveis como câmbio, mudança de governo e segurança regulatória sempre pesam quando o investidor estrangeiro avalia os principais riscos ao investir no país. Por outro lado, é inegável que as instituições brasileiras permanecem sólidas e que a nossa política fiscal expansionista contribuiu para aumentar a demanda, ainda mais se for apoiada por possíveis reformas em discussão no Congresso.

Embora a inflação esteja pressionando as margens do setor, a mão firme do nosso Banco Central tem conseguido enfrentar o aumento generalizado dos custos. Por último, mas não menos importante, o papel do Mercado de Capitais na evolução do setor imobiliário brasileiro é digno de reconhecimento. Com as emissões de CRI crescendo mais de 5 vezes nos últimos 5 anos, a classe de ativos multiplicou 4 vezes em termos de AUM, atingindo R$192 bilhões ao final de 2022, e o número de investidores nesses ativos cresceu quase 10 vezes para 1,97 milhão de investidores.

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Diante desse contexto e de todas as possibilidades que temos pela frente, a questão é como vincular essas circunstâncias singulares do nosso país à nossa responsabilidade pelo desenvolvimento sustentável? Quais são as principais tendências que, além da expansão econômica, podem tornar o Brasil um player aclamado no esforço global em direção aos princípios ESG?

No evento, os mais diversos painéis foram apresentados abordando temas como a crise energética e seus impactos na construção civil além de cases e teorias sobre como descarbonizar o setor Imobiliário. A pergunta que fica é: mas o que, no presente momento, já temos a capacidade de realizar a favor da agenda ESG?

Sabemos o tamanho do impacto de programas como o “Minha Casa Minha Vida” e o que ele faz em relação ao déficit habitacional do país, atacando principalmente o pilar “social” de ESG. Um verdadeiro impacto social, que tem ajudado não só a desenvolver um setor tão relevante para a nossa economia, como tem transformado a vida das pessoas de forma economicamente sustentável, chamando a atenção do mundo inteiro.

Olhando para o micro, o que mais a nossa indústria tem conseguido produzir? Existem projetos que estão fora do radar dos grandes investidores e que merecem atenção e reconhecimento pelo seu impacto?

Na minha visão, um ótimo exemplo disso é o projeto de Moréias, no Ceará, que tive o prazer de apresentar durante o evento e que integra a carteira do fundo imobiliário VCJR11.

O projeto de Moréias é composto por 3 fazendas que juntas totalizam mais de 18 milhões de metros quadrados. A propriedade contém o maior parque de dunas privado do Brasil, localizado a 1 hora e 30 minutos do aeroporto de Jericoacoara, área conhecida pelos seus ventos fortes e constantes que contam com uma diversidade entre a prática esportes aquáticos como o Kitesurf. Um ativo único que tem grande potencial de desenvolvimento e está conseguindo alinhar os melhores princípios ESG a uma excepcional oportunidade de investimento Imobiliário.

Atualmente, o projeto encontra-se na sua fase inicial, com energia “off-grid” já implementada com painéis solares e, em breve, contará com o hotel de uma rede internacional, um condomínio de casas e vilas particulares, além de lotes para desenvolvimento de terceiros.

Tudo isso foi feito utilizando as melhores práticas para construções de baixo impacto ambiental dentro de um projeto de alto impacto no social para aquela região, pois estamos falando da geração de centenas de empregos diretos e milhares indiretos em uma das áreas mais deficitárias em termos de investimento do país.

Em eventos como o MIPIM, poder apresentar a nossa capacidade de desenvolver projetos como esses dentro do Brasil, mostrar que o país tem feito sua lição de casa e, sem dúvidas, está entre os “mió” – mais uma vez, como diria Guimarães Rosa – quando o assunto é o desenvolvimento sustentável do mercado Imobiliário.

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Mucio Mattos
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