Juan Macedo

Não seja um banana, diversifique

Da mesma forma que a diversificação é essencial para a continuidade da vida, ela também é essencial para o crescimento saudável de uma carteira de investimentos no longo prazo

O título bem-humorado é consequência de uma reflexão sobre o uso no português da palavra “banana” como um substantivo que significa “pessoa sem energia” e “palerma”. Talvez a origem do termo tenha correlação com a facilidade de manipulação da reprodução das bananas ou pela noção de abundância que temos sobre a banana, sendo tão comum que nos referimos às coisas baratas como se sua precificação fosse a “preço de banana”. Porém, a justificativa para a utilização do termo “banana” em um título de um texto com o conteúdo de finanças representa, além de uma provocação divertida, uma característica importante das bananas que é a sua baixíssima diversidade genética.

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Muitos de nós já escutamos que os pés de banana estão sob o risco de desaparecer pois são todas cópias (clones) de um único indivíduo. Em grande parte, isso é verdade. Apesar de existirem mais de mil tipos de bananas, as variedades mais consumidas no mundo são provenientes de pouquíssimas espécies.
No cultivo da banana, o agricultor colhe o cacho da fruta e corta o pé de banana, podendo enterrar partes diferentes da planta para gerar um novo indivíduo que irá se desenvolver e produzir mais bananas. A planta também facilita o trabalho do agricultor, pois ao redor de um pé de banana adulto surgem espontaneamente brotos mais novos que também irão se desenvolver e produzir frutos após a poda da planta “mãe”. Essa forma de reprodução é chamada de “assexuada”, em que não há troca de material genético entre indivíduos gerando prole com material genético idêntico à geração anterior. A grande desvantagem desse processo é a ausência de diversidade genética que pode deixar uma plantação inteira suscetível às pragas.

A diversificação genética é um mecanismo essencial para o processo evolutivo e continuação da vida – ela permite o surgimento de novas características que podem tornar os organismos mais adaptados às mudanças climáticas, mais produtivas e com maior resistência a pragas e doenças.

Da mesma forma que a diversificação é essencial para a continuidade da vida, ela também é essencial para o crescimento saudável de uma carteira de investimentos no longo prazo. Sem ela, o investidor pode acabar sujeito não só a resultados fracos, mas até a perda permanente de capital, comprometendo o atingimento da tranquilidade financeira.

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A diversificação tanto entre as classes de ativos da carteira (renda fixa, fundos imobiliários, Fiagros, Fi-Infra, ações, BDRs/stocks) quanto entre os ativos de cada classe é importante para manter o investidor protegido durante as recorrentes intempéries nos ciclos econômicos. Por exemplo, em certos momentos podemos enfrentar eventos domésticos de natureza político-econômica que podem alterar a precificação do Real vs Dólar e destruir valor de nosso patrimônio exposto à moeda local. Por isso é importante estar diretamente exposto a outros mercados com moeda forte, incluindo ativos internacionais no portfólio de investimentos. Um segundo exemplo está associado ao ciclo da taxa de juros, as ações de empresas mais endividadas para manter um alto crescimento costumam sofrer mais fortemente comparado àquelas empresas mais maduras, que não investem grandes montantes na própria operação e podem distribuir mais dividendos. Sabendo disso, devemos diversificar entre empresas de alto crescimento e empresas maduras, entender que as fases do ciclo econômico são temporárias e ter ciência dos melhores momentos de compra desses ativos.

Uma exposição exagerada a um ativo frágil pode desencadear a perda correspondente a anos de aportes e a abalos emocionais quase irreparáveis ao investidor. Por isso, devemos estudar a fundo nossa carteira para conhecer as vulnerabilidades, assim como cientistas estudam os sistemas biológicos e identificam as vulnerabilidades genéticas dos organismos, de modo a permitir a sua alteração para prevenir doenças avassaladoras, como ocorre com as espécies domesticadas.

Através do acompanhamento dos ativos e do setor em que estão inseridos, podemos dosar a exposição adequada sem comprometer a saúde do portfólio de investimentos. Se necessário, realizar modificações pontuais e anular vulnerabilidades na carteira visando a proteção e melhora dos retornos de longo prazo.

Por isso, uma análise profissional detalhada dos ativos financeiros é tão importante. Podemos fazer um paralelo entre o cientista e o analista de ativos. O primeiro busca elucidar mecanismos de resistência às pragas e os divulga em periódicos científicos para que a indústria possa aumentar o kit de ferramentas de combate e contornar prejuízos na produção de alimentos.

Enquanto os analistas buscam nos documentos financeiros, nas conversas com agentes de mercado, e na modelagem estatística, inferir sobre a saúde financeira de ativos e calibrar as premissas para realizar um bom valuation, que é divulgado nos relatórios de análise e acompanhamento de ativos. Essas informações podem ser utilizadas por investidores em geral para tratar vulnerabilidades do portfólio de investimentos e garantir um balanço entre risco e retorno adequado.

Portanto, não seja um banana nos seus investimentos!

Resumo

Já parou para considerar a origem da expressão “pessoa banana”? Vamos ponderar um pouco sobre esse termo e relacioná-lo com a escassa variedade genética das bananas. Assim como a diversidade é crucial para a sobrevivência das espécies, ela também é vital para a sustentabilidade de uma carteira de investimentos. Portanto, no texto, faremos uma comparação interessante entre os profissionais dedicados a prevenir doenças na agricultura e os analistas de investimentos que trabalham para mitigar riscos nos ativos de uma carteira.

Boa leitura!

Tempo de leitura: 9 minutos

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Juan Macedo
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