Lucas Pedrosa

Touro da B3 pichado e a falta de compreensão econômica

Quanto maior o tamanho relativo do mercado financeiro em uma nação, mais ela é desenvolvida, com maior qualidade de vida

Nesta terça-feira (16/11) foi inaugurado o Touro de Ouro na frente da B3 no centro de São Paulo, na rua XV de novembro. Já na manhã de quarta-feira (17) a escultura estava coberta de cartazes e com a lateral pichada. Este ato foi realizado por um grupo que dizia “protestar contra a fome”.

Nas redes sociais, o grupo de manifestantes divulgou uma nota dizendo que a estátua do touro é símbolo da “fome, da miséria e da superexploração do trabalho”.
“O que para eles simboliza a força do mercado financeiro para nós é um símbolo da fome, da miséria e da superexploração do trabalho. Assim como o Touro de Wall Street é alvo de trabalhadores e trabalhadoras que resistem, aqui o Touro de Ouro também será”, explicita a nota.

Estas pessoas não poderiam estar mais enganadas!

De fato, esse entendimento distorcido do que é o mercado financeiro e para o que ele serve está enraizado em algumas pessoas, ligando-o estritamente à ferocidade do capitalismo. Todavia, parte dessas pessoas tem uma compreensão turva do que realmente é o capitalismo (geralmente o confundem com corporativismo) e quais as consequências dele no padrão de vida da sociedade.

Na verdade, a expansão do mercado financeiro, ao contrário do que esse tipo de movimento pensa, é um dos maiores símbolos de prosperidade e redução da fome e da miséria. Há uma correlação positiva entre grau de desenvolvimento do mercado financeiro e a qualidade de vida, riqueza e desenvolvimento de uma sociedade.

Quanto maior o tamanho relativo do mercado financeiro em uma nação, mais ela é desenvolvida, com maior qualidade de vida, menos pobreza e menos fome. Entretanto, quanto maior a aversão que uma população tem de uma economia de mercado e de suas instituições, mais pobre é a nação.

Ao contrário do que muitos pensam, o mercado financeiro é na verdade um conjunto de mecanismos e instrumentos com duas funções principais: ser canal de financiamento (entre privados ou entre o setor público e o privado através dos títulos do Tesouro, por exemplo) e a temporânea precificação dos ativos financeiros.

Por meio da primeira função – ser canal de financiamento – é possível com que agentes superavitários emprestem seus recursos para agentes deficitários. Esses agentes
superavitários podem ser fundos de investimento, bancos, empresas e pessoas físicas, como eu e você. Os agentes deficitários, que tomam os recursos emprestados, podem ser empresas ou até mesmo o setor público.

Esses recursos são, no caso das empresas, geralmente direcionados para o aumento de investimentos. Assim, eles acabam gerando aumento da riqueza nacional, geração de empregos e aumento dos salários. No caso do setor público, os recursos são direcionados para as necessidades do governo, como realização de investimentos em infraestrutura, educação e programas sociais.

Pela segunda função – a precificação de ativos – o mercado dá sinais imediatos aos investidores, à população e aos governos de como estão os ânimos nacionais e internacionais a respeito dos grandes movimentos que ocorrem no Brasil e no mundo.

Esse é um mecanismo essencial para balizar as decisões de investimento e esquadrinhar os rumos das políticas públicas dos governos. Saber como reagem os investidores diante dos acontecimentos é essencial para decidir os rumos de um negócio e até mesmo de um país.

Se tem gente que ganha ou perde dinheiro com esses movimentos de curto e longo prazo dos ativos financeiros negociados em bolsa, são pessoais que voluntariamente estavam dispostas a arriscar seu patrimônio nesta ou naquela operação. Pelo menos no Brasil, nenhum pobre ficou mais pobre por causa disso.

A fome e a miséria de fato são grandes problemas. Todavia, que sejam culpados os reais algozes. Quem são? Para a alavancada mais recente da fome, a culpa foi da pandemia. O confinamento provocou um aumento generalizado da pobreza mundial, com o fechamento de milhares de negócios. Já para a situação de pobreza de longo prazo do Brasil, precisaria de mais de 500 anos e 500 páginas para dissertar.

Por fim, aos grupos que ojerizam o mercado financeiro: vocês não poderiam ser mais injustos.

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Lucas Pedrosa
Mais dos Colunistas
Piter Carvalho Começou o rali de fim de ano da Bolsa?

Será que já começou o rali de final de ano na Bolsa de Valores? Sim, e não precisou esperar dia 25 de dezembro para ele começar. Ano passado, por exemplo, ele começou ...

Piter Carvalho
Rodrigo Cohen A importância do gerenciamento de risco e do mindset nos investimentos

Uma das maiores dores do investidor é perder mais do que ganhar. E, na minha visão, quando a maioria tem esse tipo de problema é porque utiliza modelos operacionais se...

Rodrigo Cohen

Compartilhe sua opinião