João Beck

Vai entrar nesse IPO?

Já são trinta empresas na fila para a primeira janela de oportunidade em 2022

Canso de escutar em encontros informais com gestores do universo de ações sobre a dificuldade na busca por boas empresas e acesso a setores promissores da economia ainda não representados na nossa bolsa.

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“Pensa, João: o Ibovespa tem pouco mais de 80 ações. Dessas, metade negocia um volume acima de R$200 milhões diariamente. Para o nosso tamanho, o universo de cobertura é pequeno”, me confidenciou um gestor.

Essa reflexão seduz e nos joga em direção ao desafiador mundo dos investimentos globais, recaindo eventualmente em temas que emulam livros de ficção científica. Nesse ambiente é difícil construir diferenciação no processo de seleção de ativos.

Por aqui, além de pequena, nossa bolsa não representa a dinâmica moderna da economia real. O Ibovespa foi representado pela indústria petroquímica, pelos conglomerados, pelas empresas de telecomunicação, setor financeiro e mais recentemente pelas produtoras de commodities. Ações da Magazine Luiza (MGLU3) despontam no que temos de mais avançado dentre as 10 maiores ações do Ibovespa. Mas o e-commerce já era realidade antes da virada do século nos Estados Unidos. Hoje, o índice de lá é composto por Inteligência Artificial, Semicondutores, Cloud Services, Carros Elétricos e empresas de ponta da indústria bioquímica

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Por disporem de uma bolsa com alto volume transacionado, empresas americanas estreiam no mercado em fases menos maduras e em estágios iniciais do seu crescimento, premiando o acionista num “ramp up” de exponencialidade elevada das empresas disruptoras. Imagina uma XP Investimentos estreando no Ibovespa em 2005 ao invés da trilha convencional dos aportes pelos fundos de Private Equity? Leríamos coisas do tipo: ‘Quem colocou R$ 1,00 na XP em 2005…”. Por esse motivo, empresas disruptoras, sem histórico de lucros recorrentes, balanços ainda não convincentes e business plans incipientes captam recursos numa indústria mais elitizada dos fundos de Private Equity e Venture Capital com seus veículos fechados, de aportes mínimos altos e acesso restrito. Para só depois de alguma musculatura redigirem seus prospectos oficiais de IPO.

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Warren Buffett torcia o nariz para as Ofertas Públicas. “Quando um banqueiro e um empresário se juntam pra te vender uma ação, saia fora”, dizia. Ele acertou. Durante algumas décadas, o resultado das ofertas públicas comparadas com o índice de referência S&P foi ruim. Já a partir de 2010 vemos uma inversão do racional de Buffett. As estreantes performaram melhor, impulsionado por uma taxa de juros quase inexistente e um tsunami de dinheiro buscando empresas que representem o que se tem de melhor na fronteira da tecnologia. Não participar dos IPOs significou ter uma carteira de ações da velha economia deixada de lado frente a histórias mais sedutoras

Os gestores que dialogamos diariamente não têm opinião formada sobre Ofertas Públicas. Para as assets, cada empresa que estreia é uma análise distinta. Tem aquelas que valem, aquelas que não. A análise comparativa com empresas similares já listadas em bolsa também é algo a ser colocado na ponta do lápis.

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E para os que acreditam que a safra de 2020 veio mal precificada (a grande maioria dos estreantes registraram quedas agudas) eu discordo. Fatores macro pesaram. No início do ano, a expectativa era de uma taxa de juros prolongadamente baixa por muitos anos, no Brasil e no mundo. Quando o nosso Banco Central percebeu os primeiros sinais de uma inflação mais persistente e estrutural que se imaginava, vimos a maior alta de juros local desde o Plano Real secando o fluxo pra investimentos de duration longa, ou seja, de empresas com expectativa de lucro ainda num futuro distante.

Torço para que no ano novo que se aproxima possamos retomar novamente a trajetória de uma Taxa Selic declinante e rever novamente os fluxos em direção a setores que ainda não são representados na nossa Bolsa.

Feliz ano novo.

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Nota

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João Beck
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