Felipe Souto

Tokenização: uma revolução silenciosa prestes a mudar o mundo 

Os investidores mais atentos não podem se dar ao luxo de ficar alheios aos desenvolvimentos em blockchain

Diversas inovações tecnológicas mudaram completamente a face da Terra. Foi assim com a eletricidade, a imprensa, os antibióticos, a internet e tantas outras “disrupções” que, lenta ou abruptamente, revolucionaram a forma como as pessoas constroem e reconstroem suas vidas e a realidade que as cerca.

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Não tenho dúvidas de que o mesmo acontecerá com a tecnologia blockchain, maior legado que as criptomoedas seguramente nos deixarão. O mundo, especialmente as finanças e os negócios, não passarão incólumes a essa disrupção.

Da mesma forma que todas as outras tecnologias revolucionárias que alteraram para sempre nossa concepção da realidade, a blockchain mudará para sempre a forma como investimos em empresas, fazemos pagamentos, emprestamos dinheiro, comercializamos produtos, registramos bens e direitos, além de uma infinidade de usos que, em breve, começarão a se tornar lugares-comuns em nosso dia a dia.

A grande questão é saber quem dará o próximo passo para fazer essa disrupção ganhar escala. Tenho para mim que será uma startup conduzida por mentes brilhantes e dedicadas a resolver, de forma inovadora, as mais complexas ineficiências que ainda hoje persistem em um mundo financeiro centralizado e cada vez mais obsoleto.

Ao adentrar esse tema, diversas outras ramificações, igualmente revolucionárias, vêm à mente, como não poderia deixar de ser. Uma delas é a tokenização de ativos, tema sobre o qual tenho me debruçado não apenas para compreendê-lo em profundidade, mas também para tentar antever como ele pode dar um novo sentido ao meu próprio campo de atuação, que são os investimentos alternativos.

Caso você ainda não tenha se familiarizado com o tema, tokenizar um ativo significa fragmentá-lo em porções digitais criptografadas que, a partir de então, podem ser negociadas com segurança e custos reduzidos em uma blockchain, ou “cadeia de blocos”, sem qualquer intermediário.

Permita-me esclarecer esse conceito com um exemplo prático da vida real. Digamos que você queira investir no mercado imobiliário para diversificar suas fontes de renda ou mesmo para proteger ou perenizar seu patrimônio, mas ainda não dispõe de recursos suficientes para levantar seu próprio empreendimento ou não quer se dar ao trabalho de fazê-lo.

O caminho trilhado atualmente por muitos investidores – e talvez este seja o seu caso – resume-se basicamente a três opções:

  • Aquisição de cotas de fundos imobiliários, excelente opção para diversificar sua carteira com imóveis de alto padrão a baixo custo;
  • Investimento em ações de boas empresas do ramo imobiliário na Bolsa, tanto para obter renda com dividendos quanto para buscar ganhos de capital com a valorização dos papéis;
  • Participação em captações de crowdfunding imobiliário, modalidade de investimento coletivo na economia real regulamentada em 2017 pela CVM e que vem crescendo em ritmo acelerado nos últimos anos, com projetos de altíssima qualidade.

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É preciso lembrar que essas opções de investimento no mercado imobiliário não são mutuamente excludentes, já que os pontos fracos de uma podem ser compensados pelos pontos fortes de outra.

Na verdade, uma carteira imobiliária robusta deve ser diversificada não só com ativos dessas três modalidades, mas também entre os subsegmentos de cada uma delas, como residencial para renda, comercial, logística, built to suit, etc.

Mas onde a tokenização e a blockchain entrariam em toda essa história?

Bem, como vimos, a tokenização permite fragmentar o direito de propriedade dos imóveis em porções digitais criptografadas. Isso é feito através de smart contracts, ou contratos inteligentes, que automatizam o processo de identificação de titularidade e transmissão de direitos de forma pública e segura, por meio de protocolos autoexecutáveis registrados em uma blockchain.

Com isso, ao invés de comprar um apartamento de alto padrão em um bairro tradicional de São Paulo por seu preço cheio, você poderia adquirir “tokens”, ou frações digitais desse imóvel, que lhe dariam direito de receber uma parte proporcional do aluguel dessa propriedade.

Imagine que uma startup que compra e aluga apartamentos na modalidade coliving, ou moradia compartilhada, por exemplo, queria ampliar sua carteira de imóveis, mas não deseja pegar um empréstimo bancário, devido à burocracia e às taxas escorchantes do processo.

Uma alternativa para essa empresa seria captar recursos através de uma emissão pública de tokens imobiliários, ou seja, ela “fragmentaria” o direito de propriedade dos apartamentos em tokens, e os investidores receberiam, em troca, uma parte do lucro dos aluguéis. Dessa forma, você seria dono de uma parte desses apartamentos, proporcional à quantidade de tokens adquiridos.

Mas você deve estar se perguntando: qual é a diferença em relação a um fundo imobiliário ou captação de crowdfunding, que também permitem ser dono de uma fração de imóveis?

Muito bem, as vantagens de realizar esse processo através da tokenização via blockchain são as seguintes:

  • Transações sem fronteiras: você pode investir em imóveis de qualquer parte do mundo, de forma segura e rápida, sem qualquer burocracia.
  • Eliminação de intermediários: o fato de as transações serem realizadas em uma blockchain elimina por completo a necessidade de intermediários. O resultado é uma drástica redução de custos, como despesas com cartório, custódia, emolumentos, corretagem, comissões, etc.
  • Maior liquidez: a negociação de tokens pode ser feita em escala planetária, ou seja, não há mais limitações de mercado, bolsas ou plataformas de negociação.

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De acordo com Ricardo Oliveira, advogado especialista em gestão de ativos pela Stanford University, no artigo “A tokenização de ativos como instrumento de proteção patrimonial”:

Todos os atributos acima descritos como qualidades e vantagens promovidas pelo processo da tokenização de ativos infungíveis (NFTs) podem também ser utilizados para bens imóveis, móveis e semoventes, tais como investimentos imobiliários, carros, ativos biológicos e participações societárias que, ao adotarem a tecnologia descentralizadora de registros de propriedade, promovem maior proteção contra terceiros de má fé.

Creio que agora o leitor tenha compreendido devidamente a dimensão do potencial revolucionário da tecnologia blockchain para a forma como realizamos negócios, protegemos nosso patrimônio e investimos. Seguramente veremos ainda mais avanços nessa área, de modo que vale a pena ficar de olho em cada um dos desdobramentos do que considero ser o futuro inescapável das finanças e dos negócios.

Os investidores mais atentos – e preocupados em se antecipar às tendências que irão dominar seu ramo de atuação – não podem se dar ao luxo de ficar alheios a esses desenvolvimentos, sob pena de ter uma perda sensível de oportunidades e até mesmo de patrimônio, de forma muitas vezes repentina.

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Nota

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