Bancos dos EUA reforçam tese de disparada econômica em resultados

Os bancos dos EUA deram o pontapé inicial da temporada de balanços corporativos nesta semana. Mostrando números acima da expectativa consensual de mercado, as grandes instituições financeiras reforçaram a percepção de que a economia do país decolará ao sair da crise gerada pela pandemia.

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Com o mercado sempre operando na expectativa, os investidores embutem no preço dos ativos dos bancos dos EUA uma retomada da concessão de crédito a partir do segundo trimestre, além de reversão de parte das provisões do ano passado e o agito de negócios em Wall Street.

Segundo o suíço UBS, o período entre janeiro e março de 2021 foi um dos melhores trimestres para as fusões e aquisições dos últimos 40 anos, em termos globais. A América do Norte foi a principal região para M&As, com US$ 644 bilhões em transações, enchendo o bolso dos bancos de investimento das grandes corporações.

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O JP Morgan, maior banco do país, até teve um recuo no banco de varejo, mas o braço corporativo cresceu 46%, contribuindo com um faturamento de US$ 14,6 bilhões. Esses são apenas alguns dos fatores que demonstram que a estimativa do Federal Reserve (Fed) de crescimento da economia em 6,5% neste ano pode ser alcançada — até mesmo ultrapassada.

Em um movimento de rotação dos investimentos, conhecido pelo nome em inglês rotation, os investidores passaram a levar em consideração essas perspectivas neste ano. O KBW Nasdaq Bank, índice dos maiores bancos dos EUA, sobe 26% desde janeiro, mais que o dobro do S&P 500. O índice bateu sua máxima histórica em março, enquanto as techs patinam com a alta das Treasuries.

Segundo especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias, ainda existem pontos de atenção nos resultados dos bancos e, por consequência, na economia norte-americana. No entanto, dificilmente a trajetória de forte recuperação será interrompida, sobretudo por conta do compromisso com a vacinação e risco controlado de inflação.

Reversões dão tom ‘não recorrente’ aos bancos dos EUA

Em função da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), os seis maiores bancos estadunidenses colocaram cerca de US$ 96 bilhões em Provisão para Devedores Duvidosos (PDD) no ano passado, estimando que a crise econômica poderia elevar os calotes.

Com o avanço da vacinação e volta ao normal da atividade, aos poucos esses valores serão revertidos em forma de lucro e direcionados para recompras de ações ou então pagamento de proventos. Recentemente, o Fed flexibilizou as restrições para esses dois tipos de operações que beneficiam os acionistas.

O Bank of America (BOAC34), instituição financeira mais antiga do país, dobrou o lucro de um ano para o outro, mas com a ajuda de US$ 2,7 bilhões em reversões das provisões. Junto a isso, o banco revelou um plano de recompra de ações na ordem de US$ 25 bilhões.

“Os resultados foram bons, mesmo com a receita estável e com as liberações das provisões”, disse Alberto Amparo, analista de investimentos internacionais da SUNO Research.

O mesmo movimento pôde ser observado com o JP Morgan (JPMC34). O lucro anunciado do primeiro trimestre foi de US$ 14,3 bilhões, sendo que US$ 5,2 bilhões se referem às provisões. “A receita, por sua vez, subiu 14%”, disse Amparo. “A companhia teve um resultado bem sólido, embora cerca de um terço tenha sido não recorrente.”

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“Esperamos que a recuperação seja robusta no segundo semestre do ano”, disse em teleconferência Jennifer Piepszak, diretora financeira do JP Morgan. Para ela, não demorará para o mercado de trabalho se recuperar.

O Wells Fargo (WFCO34), banco que opera majoritariamente de forma comercial, com a concessão de crédito e ganhos no spread bancário, reportou ganhos mais tímidos, mas ainda assim positivos e acima da expectativa, demonstrando que o apetite por capital está acelerando no país.

Amparo salienta que os investidores devem tomar atenção sobre os efeitos não recorrentes dos resultados. O movimento, todavia, não deve desacelerar tão cedo. O Citgroup, por exemplo, tem cerca de 10% de seu valor de mercado em reservas e deve liberar aos poucos. Possivelmente, isso se traduzirá em dinheiro na mão dos acionistas e movimentará a economia.

Vacinação é a chave

Segundo especialistas do mercado, a saída para a crise da pandemia para qualquer país é o foco na vacinação em massa. A economia passou a ter uma melhor perspectiva de retomada ao passo que os EUA pisaram fundo na vacinação, segundo o Livro Bege, monitor da economia divulgado pelo Fed nesta semana.

No último domingo (11), quase 5 milhões de pessoas foram vacinadas em 24 horas e a média dos dias posteriores continuou alta. Segundo o presidente Joe Biden, todos os maiores de 18 anos poderão receber o imunizante a partir da próxima semana. Esse passou a ser o principal fator de crescimento da economia, segundo o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima.

“Com base nos dados econômicos desta semana, a recuperação segue muito forte. A expectativa é que tenhamos uma aceleração desse crescimento nos próximos trimestres, baseada no sucesso da vacinação”, diz Lima. “Provavelmente, em meados do ano, toda a população adulta do país já terá tomado a vacina, o que deve facilitar a retomada de uma série de setores prejudicados.”

O economista salienta que os últimos estímulos anunciados por Biden, na ordem de US$ 2,25 trilhões para a infraestrutura, também devem contribuir para a retomada da economia por meio da criação de empregos e elevação da renda familiar.

“Isso dá um respaldo positivo para a tese de forte recuperação econômica estadunidense ao longo de 2021, com boas expectativas para 2022”, diz Lima.

Inflação volta a aparecer, mas não incomoda

Mesmo com a bomba de estímulos da autoridade monetária estadunidense, o avanço na concessão de crédito das instituições e o bom desempenho das vendas do varejo em março (alta de 9,8% ante fevereiro), os EUA não estão prestes a perder o controle da inflação.

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O Livro Bege reportou que o nível de inflação aumentou em cada um dos 12 distritos do BC, mesmo que em proporções diferentes. Contudo, o presidente do Fed, Jerome Powell, salienta que a inflação não incomoda e que a instituição possui ferramentas para conter o aumento dos preços na economia, se necessário.

Os ativos precificam uma robusta retomada econômica, e a inflação não tem parte relevante na conta, diz Stephan de Sabrit, sócio do Grupo Leste, em entrevista ao SUNO Notícias. “Continuamos com perspectiva de crescimento da economia por um bom tempo, sobretudo porque o fluxo de capital permanece muito forte, diferentemente das últimas crises.”

“Como no Brasil, aqui também se fala na história da inflação, mas que não é estrutural, sendo apenas momentânea”, afirma o executivo. “Com a tecnologia, há muito ganho de escala e produtividade que, de certa forma, podem reduzir os custos na economia. As Treasuries já têm dado sinais de arrefecimento.”

Sabrit pontua que as linhas de incentivo do governo norte-americano ainda têm um componente de ajuda social, “mas não é populismo”. “Boa parte dos investimentos tem sido direcionados à infraestrutura, que está diretamente ligada ao crescimento do PIB”, diz. Os bancos dos EUA tradicionalmente são o termômetro dos investidores, e o sinal tem sido positivo: Bolsas renovando máximas históricas.

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Jader Lazarini

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