Ações nos EUA: 2020 foi o ano das techs, isso vai mudar em 2021?

O destaque do mercado norte-americano no ano passado foram as empresas ligadas à tecnologia. Impulsionadas pela mudança no comportamento dos consumidores em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), as companhias de alto crescimento foram beneficiadas. No entanto, algumas mudanças já foram observadas nas ações nos EUA.

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Desde o início do primeiro trimestre deste ano, o mercado observou o que é chamado de rotation. Ou seja, um processo de rotação entre uma tendência de mercado e outra. Neste caso, as ações nos EUA que passaram a ser mais chamativas para os investidores são das companhias da “velha economia”, como bancos, commodities e serviços essenciais.

Em 2021, grandes instituições como JP Morgan têm dado um melhor retorno aos acionistas (+21%) em comparação à Apple (+3%), por exemplo.

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O KBW Nasdaq Bank, índice que acompanha as ações dos maiores bancos do país, sobe 28% neste ano, mais que o dobro do S&P 500. Em março, o índice bateu sua máxima histórica, superando a alta anterior de 2007. Ao mesmo tempo, o S&P 500 tem mostrado um crescimento consistente, em meio a grandes estímulos do governo:

Ações nos EUA
Crescimento em linha reta do S&P 500 nos últimos 12 meses. Mais de US$ 3 trilhões em estímulos colaboraram para a recuperação.

Com o maior acesso ao mercado internacional, uma das maiores perguntas dos investidores é: se 2020 foi o ano das techs, o que esperar de 2021?

Especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias trazem as perspectivas para o mercado no exterior e se essa mudança de direção dos investimentos faz sentido — ou então se as empresas de tecnologia voltaram a apresentar um porta de entrada.

Poupança reprimida deve beneficiar ações nos EUA

A mudança de direção dos investidores nos EUA está relacionada com o aspecto macroeconômico e a conjuntural global. No ano passado, a pandemia fez com que a economia de serviços, turismo e a negócios tradicionais fossem interrompidos, dando espaço ao modelo tecnológico e que facilitava o distanciamento social.

Junto a isso, o Federal Reserve (Fed) bombardeou o país com estímulos monetários, já tendo ultrapassado os esforços financeiros da Segunda Guerra Mundial. Com menos opções para gastar os recursos, e as famílias economizando mais, os EUA estão com uma poupança reprimida.

Com o avanço da vacinação e a retomada da circulação de pessoas, deve ocorrer uma aceleração das empresas da economia real, atenuando a demanda sobre as companhias de tecnologia.

“As empresas de setor que ficaram para trás, como turismo e serviços, devem representar uma forte retomada cíclica. Varejo, utilities e até commodities, sobretudo em função de uma demanda para investimentos em infraestrutura em todo o mundo, devem ser os destaques do ano”, disse Laszlo Lueska, gestor da Octante Capital.

Lueska disse que o movimento de rotação no primeiro trimestre “é o que esperamos para 2021”. “É normal que quando sairmos de todo esse contexto de pandemia, boa parte do que foi implementado durante a crise seja desfeito.”

Setor de tecnologia pode seguir forte

Mesmo com a retomada da economia real, alguns especialistas acreditam que o setor de tecnologia não vai perder o brilho do dia para a noite. Isso porque este mercado conquistou muito espaço nos últimos anos, e principalmente, nos últimos meses, fazendo parte do dia a dia das pessoas e das empresas.

Com isso, as empresas de tecnologia podem continuar se beneficiando do processo de retomada da economia.

“É possível que o setor de tecnologia continue forte, mas por motivos diferentes. Empresas de e-commerce, comunicação, e aparelhos (hardware) em si, podem, sim, acompanhar o crescimento do consumo”, afirma o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira.

Ao analisar a operação das grandes empresas de tecnologia e de alto crescimento do S&P 500, a hipótese do economista passa a fazer sentido, pois as companhias têm ligação com o mundo “palpável” da economia real e também se beneficiam de maior consumo:

  • Apple: terceira maior vendedora de smartphones do mundo;
  • Microsoft: detentora do Xbox, um dos videogames mais vendidos nas últimas duas décadas;
  • Amazon: maior varejista eletrônica do planeta;
  • Facebook e Google: plataformas de anúncios da economia real e digital, os quais foram enxugados na pandemia;
  • Tesla: montadora de veículos elétricos produzidos a menores custos frente à concorrência;
  • Nvidia: produtora de semicondutores, que estão escassos em todo o mundo.

“Não acredito que haverá uma substituição de ‘forças’. A tecnologia não deve ser substituída por algum setor. A economia norte-americana, como um todo, deve se beneficiar da retomada, mas em proporções diferentes em comparação ao ano passado, pois era um contexto distinto.”

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Para o investimento, tudo se resume ao preço

Pensando estritamente do ponto de vista de investimento, todavia, é fundamental olhar cada empresa de forma isolada, segundo Gustavo Aranha, sócio e diretor da GeoCapital.

A gestora, que é exclusivamente investidora de ativos globais e possui R$ 1,2 bilhão sob gestão, “não faz análise setorial, mas olha companhia a companhia”, pois no fim do dia “o que importa é o preço”.

O que o investidor precisa fazer, segundo o executivo, é olhar se o valuation das companhias analisadas faz sentido em comparação ao preço que são negociadas.

No ano passado, as big techs tiveram um forte crescimento em detrimento das empresas da “velha economia”, então acabaram ficando mais caras. Agora, com essa percepção de rotation do mercado, as techs ficam para trás e os preços voltam a ficar chamativos.

“Somos guiados pelo preço das companhias”, diz Aranha. Com base nisso, ele diz que as posições do fundo foram se ajustando desde o início do segundo semestre do ano passado.

“Fomos nos posicionando em empresas que tinham a mesma relevância que as techs, mas que acabaram ficando para trás. Então pegamos uma boa parte dessa rotação. Agora, com o processo sendo invertido, voltamos a comprar mais Microsoft (MSFT34), Alphabet (GOGL34). Com a alta das Treasuries e a pressão sobre essas empresas, os preços voltaram a ficar convidativos.”

A GeoCapital possui um universo de 60 empresas que acompanha e que chama das “melhores do mundo”, entre ações nos EUA e Europa. Por conta disso, a visão nunca é única.

Dentre as investidas, a maior posição é a empresa de Warren Buffett, a Berkshire Hathaway (BERK34). Ao mesmo tempo em que o maior investidor de todos os tempo apostou US$ 10 bilhões em ativos de gás natural no ano passado, a maior posição da companhia ainda é a Apple, mostrando que há espaço para os dois mundos.

Para a asset, a empresa de Buffett está muito barata e representa o que há de melhor no investimento em valor — categoria de empresas que a casa tem apostado ultimamente.

Independentemente da preferência por setor, segundo os especialistas, o importante é colocar o pé para fora do Brasil e usufruir dos benefícios que o mercado internacional pode proporcionar. “Investir no exterior agora faz todo o sentido para pessoa física. Ações nos EUA valem a pena não somente por diversificação geográfica, mas por diluição de riscos e pela ampla gama de opções de investimento”, diz Lueska.

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Jader Lazarini

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