Copom: Selic deve subir mirando inflação na meta só em 2023; Veja repercussão

O Comitê de Política Monetária (Copom) informou nesta terça-feira (8) que prevê novos ajustes para a taxa Selic nas próximas reuniões, porém em ritmo menor do que os últimos apertos de 1,5 ponto percentual. Segundo a ata do Copom, por conta da incerteza sobre o preço de ativos importantes e commodities, o Comitê considera “mais adequado, neste momento, não sinalizar a magnitude dos seus próximos ajustes.”

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Na última reunião, realizada entre os dias 1 e 2 de fevereiro, o comitê decidiu aumentar a taxa básica de juros, a Selic, em 1,5 ponto percentual, ao nível atual de 10,75% a.a., considerando o objetivo de convergir a inflação à meta durante o ano de 2022 e, “em maior grau”, 2023.

“O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, informa a ata do Copom.

“Em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros. Essa sinalização reflete o estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante”, comunicou sobre o aumento da Selic.

Segundo o comitê, os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados a fim de garantir a convergência da inflação para a meta. O Comitê reconhece que as projeções de inflação estão acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta para 2022, ainda que estejam ao redor da meta para 2023.

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Balanço de riscos segundo a ata do Copom

O Copom avalia que há riscos que podem puxar a inflação para ambos os lados, porém destaca assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, perspectiva maior de ter alta da inflação e, consequentemente, avanço do aperto monetário por meio da Selic.

“Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário de referência”, informa a ata do Copom.

“Por outro lado, políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do país”, completa.

Ainda assim, o Copom destaca que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal do Brasil segue mantendo elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação – processo em que o aumento da taxa de juros deixa de segurar as expectativas de aumento dos preços.

Por isso, destaca que a uma assimetria altista, o que implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário de referência.

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De acordo com a ata do Copom, “a incerteza em relação ao futuro do arcabouço fiscal atual resulta em elevação dos prêmios de risco e eleva o risco de desancoragem das expectativas de inflação. Isso implica atribuir maior probabilidade para cenários alternativos que considerem taxas neutras de juros mais elevadas”.

O Copom também reforça que, além da alta da Selic, o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira “é essencial para o crescimento sustentável da economia”.

“Esmorecimento no esforço de reformas estruturais e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.”

Sem citar medidas como a PEC dos Combustíveis, a ata do Copom destaca que mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva.

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Atual conjuntura

Segundo pintou o Copom, a paisagem econômica para o País segue incerta, em especial por conta do aperto monetário esperado nos Estados Unidos, que é prejudicial para economias emergentes como o Brasil, e também pelo avanço da covid-19, que traz incertezas sobre as cadeias globais de produção e abastecimento.

“Para 2022, se por um lado a elevação dos prêmios de risco e o aperto mais intenso das condições financeiras atuam desestimulando a atividade econômica, por outro, o Copom segue avaliando que o crescimento tende a ser beneficiado pelo desempenho da agropecuária e pelo processo remanescente de normalização da economia – particularmente no setor de serviços e no mercado de trabalho“, destaca ata do Copom.

Para o Comitê, a inflação ao consumidor segue elevada, com alta disseminada entre vários componentes, e mais persistente que o antecipado, principalmente em bens industriais e com avanço no setor de serviços.

“As leituras recentes vieram acima do esperado e a surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como, principalmente, nos mais associados à inflação subjacente.”

“No cenário de referência, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,453, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 5,4% para 2022 e 3,2% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 12% a.a. no primeiro semestre de 2022, termina o ano em 11,75% a.a. e reduz-se para 8,00% a.a. em 2023″, conclui a ata do Copom.

Repercussão da ata do Copom

Segundo o banco Itaú, em relatório, “a ata última da reunião do Copom indica que as autoridades vislumbram um ritmo mais lento de elevação da taxa Selic à frente, mas sem uma pausa iminente.”

O banco projeta que o Copom deve elevar a taxa básica em 1,0 p.p. na próxima reunião, em março, e, assim, a Selic deve encerrar 2022 em 12,50% a.a.

De acordo com o BTG Pactual (BPAC11), a ata do Copom nesta manhã externou um “tom hawkish”, mais duro contra a inflação, diferente do comunicado divulgado após a reunião de 2 de fevereiro, “quando a sensação foi de maior neutralidade”.

“O documento reforçou nosso cenário, que contempla ajustes na taxa Selic nos encontros de março (1,0 p.p.) e maio (0,50 p.p.), o que resultará, na nossa visão, em uma taxa de final de ciclo 12,25%”, informou em relatório.

O Bank of America também avalia que o tom da ata foi mais duro que o comunicado, e reforçou a perspectiva de que haja mais de um aumento da Selic nas próximas reuniões. O banco elevou em 1,0 p.p. a sua expectativa para a Selic ao fim de 2022, para 12,25% a.a., com um aumento de 1,0 p.p. em março e outro de 0,5 p.p. em maio.

Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, a ata do Copom acompanha o tom do comunicado, na semana passada, com algumas diferenças mais duras que anteriormente precificado pelo mercado.

“Especificamente, nos parágrafos 15 e 16, a autoridade sinalizou que, para buscar a convergência das expectativas de inflação para meta, a autoridade deveria ter um ciclo mais austero do que o precificado pelo Boletim Focus“, avalia.

“Trata-se de um reconhecimento que visa restabelecer a credibilidade no regime de metas. De todo modo, avalio que o mercado hoje passará a precificar algo mais salgado do que tinha ontem para a reunião de maio”, completou.

Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, avalia que a comunicação de hoje “reforça o cenário de Selic terminal em 12,25% a. a., a ser atingida em maio deste ano e, novamente, salienta a necessidade de mantê-la nesses níveis por um período prolongado“.

“No documento passado, o ponto focal do mercado foi a preferência do Copom em deixar em aberto os seus próximos passos, o que foi lido como dovish pelos ativos (viés por menos juros). Essa aparente predileção abriu a porta para todo tipo de cenário entre os analistas e parecia reduzir a chance de juros acima de 12,00%. Já hoje, com o espaço adicional para maiores detalhes que a ata traz, a leitura mudou”, emendou o especialista.

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Pedro Caramuru

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