Taxação de Trump joga pressão na renda fixa: onde investir agora?

A taxação de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada por Donald Trump, provocou uma disparada nos juros futuros e forçou os investidores a revisarem com urgência suas posições em renda fixa. O anúncio inesperado, que vai vigorar a partir de 1º de agosto, foi suficiente para mudar as expectativas sobre a Selic e provocar uma reprecificação imediata nos ativos mais conservadores.

Na quarta-feira (9), os DIs com vencimentos longos subiram com força: o contrato para janeiro de 2026 foi de 14,925% para 14,93%, enquanto o de 2031 saltou de 13,425% para 13,64%. O mercado passou a ver com menos probabilidade os cortes de juros e, diante da possível alta da inflação, acendeu o alerta sobre quais aplicações ainda fazem sentido.

Para o planejador financeiro CFP® Anderson Kuntzler, o impacto pode ser profundo. Ele explica que a taxação sobre as exportações brasileiras “cria pressão sobre o real com risco cambial e fuga de capital estrangeiro, além de aversão ao risco nos mercados emergentes”. A consequência, segundo ele, é um efeito em cadeia: “Vamos ter impactos nas exportações e balança comercial brasileira, além de dólar mais caro, especialmente se o câmbio for para R$ 6,00+”.

Como se proteger da taxação e manter liquidez

Com os juros futuros abrindo e a inflação sob pressão, Kuntzler afirma que a melhor postura agora é evitar travas em taxas atuais. “Nesse cenário, acredito que faz mais sentido buscar ativos pós-fixados porque protegem o investidor da abertura dos juros, não travam em taxas atuais (que podem ser revistas para cima) e permitem aproveitar melhor oportunidades futuras”, diz. Ele também vê espaço para títulos atrelados à inflação de prazos curtos e médios, que ajudam a blindar a carteira de choques inflacionários.

Ainda segundo o especialista, LCIs/LCAs isentas pós ou híbridas IPCA+ estão entre as melhores alternativas no momento: “Elas oferecem rentabilidade real e isenção de IR com ótima relação risco/retorno”. Já para quem busca liquidez imediata e quer estar pronto para aproveitar reprecificações, “fundo DI ou Tesouro Selic são opções de reserva”.

Já o planejador financeiro Jeff Patzlaff também destaca a importância de não correr riscos desnecessários agora. Para ele, “nesse cenário de taxações e instabilidade e com a possibilidade de uma inflação maior, acredito que o ideal é manter boa parcela do portfólio em pós-fixado (Selic e/ou CDB pós) para aproveitar aumentos adicionais da Selic ou ter ganhos seguros com a taxa atual, que está bem alta”.

Há espaço para risco?

Apesar do ambiente adverso, Kuntzler considera que ativos mais voláteis podem ser uma oportunidade para quem souber o momento certo de entrada. “Na minha opinião, entrar em ativos mais arriscados agora pode sim ser recompensador, mas o ‘timing’ é fundamental. A ideia é entrar depois que o mercado ‘precificar o caos’ e antes da reversão da curva de juros.” Ele cita exemplos como Tesouro IPCA+ 2035 ou 2045, prefixados longos, fundos multimercado macro e debêntures incentivadas IPCA+.

Patzlaff, por sua vez, recomenda cautela na entrada em prefixados: “É possível considerar entrada em prefixados, com cautela, e em menor percentual para manter-se ganhando com uma taxa alta prefixada já que as projeções indicam queda consistente na inflação e cortes futuros na Selic”. Ainda assim, ele reforça que o momento exige prudência: “Enquanto prevalecer o cenário de juros elevados, inflação acima da meta e incertezas como as taxações, a estratégia conservadora em pós-fixados permanece mais segura e eficiente”.

A recomendação geral entre os especialistas é evitar mudanças abruptas na carteira e se posicionar com inteligência diante da nova taxação. Com o ambiente volátil e o impacto da política comercial dos EUA ainda em evolução, a renda fixa continua sendo uma aliada — desde que bem calibrada para o risco e para as novas taxas de equilíbrio.

Maíra Telles

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