Balanços da semana

Atentados do 11 de Setembro imprimiram terror e fecharam bolsas; em Nova York mercado não abriu por 4 dias

Na manhã de 11 de setembro de 2001, o mundo assistiu atônito a dois Boeing 767 se chocarem contra as Torres Norte e Sul do complexo do World Trade Center, em Nova York. Outros dois aviões de passageiros foram alvos de sequestros naquele dia — um atingiu o Pentágono e segundo caiu numa área rural no estado da Pensilvânia. Dezenove terroristas ligados ao grupo extremista islâmico Al-Qaeda participaram dos ataques que tiveram o efeito pretendido: terror total e planetário.

Diante do caos, choque e horror dos ataques do 11 de setembro, as bolsas fecharam em Nova York — e o centro financeiro ficaria sem pregão por mais quatro dias.

De acordo com o Memorial e Museu Nacional do 11 de Setembro, quando as Torres Gêmeas foram atingidas, entre 16.400 e 18.000 estavam no complexo com milhares de escritórios de empresas. Os arranha-céus colapsaram quase uma hora depois e outros cinco prédios dentro do World Trade Center caíram em ruínas com a destruição.

Os atentados pararam Nova York e paralisaram a maior parte do mundo. Acarretaram a morte de 2.977 pessoas. Os EUA fecharam o espaço aéreo do país, com centenas de voos cancelados. Jornais e TVs estimavam que o país poderia ser alvo de outros ataques ainda naquela terça de setembro.

As bolsas nem chegaram a abrir em Nova York num dia de impacto global nos mercados, com números impactantes. O impacto brutal da tragédia também causou a interrupção do mercado no Brasil. A Bolsa de Valores de São Paulo fechou após 1 hora e 15 minutos de pregão.

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Bolsa em SP funcionou por pouco mais de 1 hora e derreteu 9%

Em São Paulo, o pregão da Bolsa, na época ainda Bovespa (a B3 só seria criada em 2017), funcionou das 10h às 11h15. Foi encerrado justamente porque o mundo acompanhava com pavor os ataques aos Estados Unidos.

A sessão, ainda no viva-voz, fechou em queda de 9,18%, “com ajustes após o fechamento”, informaria a Folha de S, Paulo no dia seguinte. A reportagem do jornal contaria: “A Bovespa fechou aos 10.827 pontos, com giro de R$ 163 milhões. Em apenas uma hora após o início dos negócios a bolsa havia despencado mais de 7%.”

Naquela época a Vale (VALE3) e a Petrobras (PETR4) eram as blue chips e 46 ações da bolsa brasileira (ou 13% do dos papéis do índice) tiveram as maiores quedas do ano.

O mercado em 2001 e o de 2021: contrastes bilionários

Em 2001, o mercado de ações no Brasil não tinha a quantidade recorde de investidores de hoje: “Em 2019, o número de pessoas físicas na renda variável atingiu 1 milhão. Em agosto a bolsa brasileira teve crescimento de mais de 43% no número de investidores no primeiro semestre de 2021, em relação ao o mesmo período de 2020, com 3,8 milhões de contas”, diz a B3.

“Com a chegada dos novos investidores pessoas físicas, no último semestre o valor em custódia investido em renda variável alcançou R$ 545 bilhões, cifra 55% superior à registrada em 2020, no mesmo intervalo”, acrescenta a empresa da Bolsa.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) levantou que “o número de companhias listadas na Bovespa tinha caído de 550, em 1996, para 440 em 2001. O volume negociado, após atingir US$ 191 bilhões em 1997, recuara para US$ 65 bilhões em 2001. Além disso, muitas companhias fechavam o capital e poucas abriam.”

Motivo: “O mercado de capitais brasileiro passou a perder espaço para outros devido à falta de proteção ao acionista minoritário e a incertezas em relação às aplicações financeiras. A falta de transparência na gestão e a ausência de instrumentos adequados de supervisão das companhias influenciavam a percepção de risco e aumentavam o custo de capital das empresas.”

Some-se a isso o seguinte: a década de 80 foi marcada por períodos de hiperinflação, e a economia só ganhou estabilidade depois do Plano Real, em 1994 — 13º plano contra ondas de altas desenfreadas de preços desde 1979. Mas a crise rondava ainda o país. A abertura econômica e as privatizações eram recentes. A taxa de juros básicos chegou a rondar os 45% ao ano. Os anos 90 viram ao menos três abalos econômicos mundiais.

Hoje, como se sabe, a B3 anota entre 113 mil e 120 mil pontos por dia, com giros financeiros diários que superam R$ 30 bilhões por dia.

Como efeito de comparação com o tremor na bolsa após os atentados de 2001, o último grande abalo do mercado no Brasil ocorreu em março de 2020, início da pandemia.

No dia 12 daquele mês o Ibovespa caiu 14,78%, o maior tombo deste século, instaurando a preocupação com a chegada do novo coronavírus (Covid-19) ao País. Foram dois circuit breakers – botão que é acionado para que o mercado “se acalme” quando a Bolsa cai 10% – só nesse dia.

O Ibovespa fechou em 72.582,53 pontos – sete vezes mais que no 11 de setembro –, com os investidores monitorando os impactos da doença na economia global. Naquele dia, o Brasil registrava 77 novos casos do coronavírus e o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmava ser “uma crise passageira“.

No mês de março de 2020 o Ibovespa caiu quase 30%, derretendo na maior proporção desde 1998. O circuit breaker foi acionado seis vezes numa sequência de oito pregões.

As Bolsas em Nova York no 11 de setembro

As bolsas americanas não operaram, tampouco abriram no 11 de setembro porque a maioria dos prédios na região central e em outras áreas de Nova York foi fechada ou evacuada. Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos, contou que se decidiu por encerrar o mercado acionário naquela terça-feira trágica e ficar sem pregões por mais quatro dias sem pregões.

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Os brokers acompanharam atentos os desdobramentos, mas na segunda-feira, 17 de setembro, quando o mercado voltou a funcionar, o índice Dow Jones desabou acima de 7%, aos  8.920,70 pontos. Naquela semana, acumulou perda de 14%. O índice S&P 500 registou queda de 11,6%. Perdeu US$ 1,4 trilhão do valor de mercado.

Mais uma vez como comparação com os mercados de hoje: ontem (9), dia corriqueiro, embora atribulado em período de incertezas econômicas da pandemia, o Dow Jones fechou em queda de 0,78%, aos 34.607,72 pontos.

Numa das quedas mais acentuadas ocorridas recentemente, em 9 de março de 2020, o Dow Jones encerrou perdendo 7,79%, a 23.851,02 pontos, em meio à queda do petróleo e início da pandemia,

Em 2008, o da crise do subprime, o Dow Jones acumulou queda de 34,65%. Naquele ano, em 29 de setembro, houve recuo de 6,98%, a 777.68 pontos.

Um mês após os ataques de 2001, uma reportagem da Folha informava: “Mercados em Nova York zeram perdas, absorvendo o impacto negativo.” Mas esse impulso durou pouco: nos dias seguintes, Wall Street voltava a registrar baixas expressivas.

Segundo Romero Oliveira, os mercados americanos demoraram quase dois meses, desde o 11 de setembro de 2001, para voltar ao patamar de antes dos atentados. “Foram meses de bastante estabilidade e imprevisibilidade, mas a retomada, em um segundo momento, foi rápida”, diz Oliveira.

Curiosidade: rumores e teorias depois do 11 de setembro que circularam na internet davam conta de um movimento estranho e suspeito de compra de ações um dia antes dos atentados. Seriam papéis de companhias aéreas, de seguros e de armas. Investidores supostamente ligados ao saudita Osama Bin Laden, fundador e líder da Al-Qaeda, e tido como um dos idealizadores e financiadores dos atentados, teriam comprado essas ações. Bin Laden — morto por militares americanos no Paquistão em maio de 2011 — pertencia a um clã milionário e admitiu o envolvimento em vídeo divulgado em 2004.

Aéreas e seguradoras afetadas

Nos Estados Unidos, justamente as ações mais impactadas nas semanas seguintes ao 11 de setembro de 2001 foram as de companhias aéreas e de seguradoras. Primeiro porque a Casa Branca proibiu, no momento seguinte aos ataques, qualquer voo civil em território americano. Depois porque o temor pelas viagens aéreas aumentou, junto com o sentimento generalizado de incerteza.

O resultado foi um período de perdas recordes para as ações das aéreas. A American Airlines (AALL34) e a United Airlines (U1AL34) sofreram quedas na casa entre 30% e 39%.

Ariane Benedito, economista da CM Capital, explicou que o impacto não foi somente devido às perdas financeiras, mas também aos investimentos que as empresas viriam a realizar.

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“Era tudo mais flexível”, disse. “Houve uma mudança completa do setor aéreo mundial, de mais permissivo para mais proibitivo.” A melhora na segurança das portas das cabines e a proibição de embarque com determinados utensílios e ferramentas são regras herdadas.

Similarmente, o baque foi sentido pelo setor de seguros, que apurou perdas de R$ 40 bilhões, segundo Ariane Benedito.

O preço do petróleo disparou diante da possibilidade de uma guerra entre os Estados Unidos e o Oriente Médio, assim como o ouro, demanda em períodos de incertezas.

O legado do 11 de Setembro

Passados quatro meses do choque do 11 de Setembro, o mercado de capitais dos Estados Unidos deparou-se com a derrocada da Nasdaq, em meio às consequências do estouro da bolha ponto com.

Na análise do economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, as duas crises em sequência “colocaram em xeque a capacidade econômica americana e do mundo”.

Os ventos desfavoráveis após o 11 de Setembro e a quebra da Nasdaq levaram o Federal Reserve (Fed, banco central americano) a reduzir as taxas de juros do país. O estímulo ao enfraquecido mercado americano serviu, anos depois, como alavanca a uma crise financeira ainda pior, em 2008: a do subprime

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Arthur Guimarães

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