Análise qualitativa de uma empresa (Parte IV)

Hoje vou abordar as últimas das dezesseis questões propostas por Christopher Browne para analisar uma empresa em aspectos mais qualitativos.

Esta foi uma série com quatro partes. Caso o leitor ainda não tenha lido as anteriores, pode clicar nos links a seguir para conferir a primeira, a segunda e a terceira partes.

13 – Como a companhia se compara, financeiramente, com outras empresas do mesmo ramo?

Talvez esta seja a questão menos qualitativa e mais quantitativa de todas as sugeridas por Christopher Browne. De fato, é preciso comparar a companhia com seus pares de mercado, colocando lado a lado os fundamentos, múltiplos, retornos e níveis de dívida de cada uma, bem como outras métricas.

À época da publicação de seu livro (2006), a Kraft e a Heinz ainda eram empresas separadas. Assim, Browne indagou: “Por que a Heinz é cotada a 20 vezes os lucros, enquanto a Kraft é cotada por apenas 15 vezes os lucros? O que outros investidores enxergam que eu não estou enxergando?”

Desta forma, com este questionamento, ele buscava entender o que se passava além da mera comparação numérica dos indicadores.

14 – Se fosse vendida, quanto a companhia deveria valer?

Browne diz que começou a selecionar ações com base nesta questão na década de 70. Nesta época, ele notou que algumas redes de televisão estavam sendo vendidas por menos do que estava sendo pago por companhias similares.

Na época, o padrão da indústria era adquirir empresas por um preço equivalente a dez vezes o seu fluxo de caixa. Ainda assim, ele comprou ações da Storer Broadcasting que estavam sendo cotadas a um preço de cinco vezes o fluxo de caixa.

Neste investimento, Browne conseguiu um bom prêmio em relação ao preço pago inicialmente.

15 – A empresa planeja recomprar suas ações?

A recompra de ações é algo importante para a geração de valor aos acionistas. No entanto, não basta apenas observar se são aprovados planos de recompra. Existem vários aspectos que exigem atenção neste tópico.

Primeiramente, embora um programa de recompra seja aprovado, ele não exige que a empresa, de fato, recompre as ações, apenas garante que ela poderá fazê-lo, caso julgue adequado.

Além disso, a recompra que é capaz de gerar valor para os acionistas é aquela que apresenta algumas características:

  • As ações devem ser recompradas por um preço abaixo de seu valor intrínseco. Caso contrário, provavelmente haverá destruição de valor;
  • Elas devem ser canceladas após a recompra, para aumentar a participação dos acionistas nos lucros;
  • Não deve ser tão massiva a ponto de afetar a liquidez das ações no mercado;
  • Deve ser observado também se a recompra está sendo feita apenas para compensar eventuais remunerações por meio de stock options.

16 – O que os insiders estão fazendo com suas ações?

Os insiders são os diretores, conselheiros e controladores da empresa. Um ponto importante é saber quais são suas negociações. Eles estão comprando ou vendendo ações da companhia?

Browne destaca o aspecto positivo da compra pelos insiders e acrescenta que nem sempre a venda é algo negativo. Às vezes as pessoas podem vender suas ações por motivos pessoais, não relacionados à performance do negócio.

Assim, devem ser buscados padrões. Uma venda pontual, geralmente, não significa muita coisa. No entanto, vendas consistentes por vários diretores podem indicar que eles acreditam que o mercado está supervalorizando as ações, de modo que decidem vendê-las neste patamar interessante.

No Brasil, é uma exigência da CVM que estes agentes apresentem suas negociações mensais. Aqui na Suno, fazemos mensalmente o relatório Insider Spy, que é um compilado com as negociações dos insiders das principais empresas.

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