Balanços da semana

Via (VIIA3), Americanas (AMER3): nem Black Friday salva o que a inflação tira das varejistas

As ações de varejistas como Via (VIIA3), Magazine Luiza (MGLU3) e Americanas (AMER3) estão na lanterna do Ibovespa quando se olha para o desempenho dos últimos 12 meses. Isso porque essas empresas estão entre as principais afetadas pelo quadro macroeconômico do País, com destaque para a influência do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em dois dígitos. Esse quadro pode afetar o resultado das empresas na Black Friday. 

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Nesta quinta-feira (25), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o IPCA-15, considerado uma prévia da inflação oficial do Brasil. O indicador apresentou alta de 1,17% em novembro. Com esse percentual, a alta dos preços acumulada em 12 meses chega a 10,73%. 

Uma inflação na casa dos dígitos, somada a uma taxa de juros alta e um percentual de desemprego em 14%, conflui para o pior cenário para as varejistas: diminuição do poder de compra do consumidor. 

Mas não só isso. A crise do coronavírus impactou os negócios das empresas de varejo em muitos aspectos. Houve expansão do e-commerce, corrida na logística, aumento da concorrência, problemas de abastecimento, e tudo isso foi agravado com o IPCA em dois dígitos

“A gente vê as varejistas em um momento de transformações. Com a pandemia foi necessário investir no e-commerce, em centros de distribuição melhores, em subsídios como frete grátis e descontos para aumentar a competitividade e tudo isso acontecendo enquanto a cadeia de custos do varejo sofre pressão com a inflação”, explica Guilherme Martins, especialista em renda variável da EWZ Capital. 

Os produtos importados, principalmente eletrodomésticos e eletrônicos, estão mais caros com a crise de chips, que se iniciou com a pandemia. O frete internacional e o frete doméstico também encareceram com o avanço na cotação do petróleo que, consequentemente, aumenta o preço dos combustíveis

E o repasse desses custos mais caros é percebido pelo consumidor. “Não tem o que fazer, as empresas precisam repassar esses custos, principalmente de produtos e insumos de produção importados”, diz Martins. Para se manterem competitivas, em meio aos preços elevados e aumento da concorrência, as varejistas usam de outras “manobras”, segundo Martins. 

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Frete (nada) grátis no e-commerce 

Uma delas é o frete grátis, requisito dos consumidores para escolherem onde vão finalizar suas compras. “Isso é um problema para as empresas no momento, porque é um esforço para ganhar marketshare, mas pode ser um tiro no pé, por diminuir a margem de lucro”, diz o especialista da EWZ Capital.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, diz que o frete grátis é um mito. “Alguém sempre vai pagar essa conta”, resume. Segundo ele, as empresas têm duas opções para concederem esse tipo de subsídio: incluir o valor do frete no produto e encarecer ainda mais o que já está caro ou tirar na margem. 

“Os empresários que estão observando as vendas caírem abrem mão da margem para pagar o frete. É uma escolha. Mas grátis nunca sai”, acrescenta.

Para Diniz, esse tem sido um dos sacrifícios das empresas nos últimos tempos. Ele conta que neste terceiro trimestre houve diminuição de cerca de 30% das margens das varejistas. Esse volume foi consumido por frete grátis e outros subsídios, como descontos e promoções. 

“O custo é bastante alto porque entram na conta a produção, armazenagem, translado e, por fim, a entrega. No final, as empresas oferecem um subsídio para diminuir o preço e tentar ficar mais competitiva. É uma bela guerra que o setor está enfrentando nesse momento”, explica Diniz.

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Varejistas vivem somatório de inflações e Black Friday é um dúvida 

Segundo Sanchez, os dois dígitos de IPCA alcançados no Brasil são resultado de um acumulado de inflações, que as varejistas também precisam absorver: inflação importada, inflação de expectativa, inflação de formação de preço, inflação cambial, e esses são só alguns exemplos. 

O Brasil está em terceiro lugar no ranking de maior inflação entre os países do G20, com 10,67% de alta de preços acumulada em 12 meses. Apenas a Argentina, com inflação em 50%, e a Turquia, com quase 20%, estão à frente. 

Com isso, a dúvida paira sobre a Black Friday: vai deslanchar com consumidores aproveitando o dia de megapromoções para consumir o que pode ou vai decepcionar, com os clientes pressionados pelo aumento de preços? 

Diniz acha difícil cravar: para ele os dois cenários são igualmente possíveis. “Tem pessoas que deixaram de comprar ao longo dos últimos meses para aproveitar a Black Friday agora. Mas a inflação vai impactar as compras, é inevitável”, lembra ele. 

Sanchez acredita que a tradição e propensão ao consumo próprio do brasileiro também devem contar neste período de final de ano. Não só na Black Friday, mas também as compras natalinas. O economista acha pouco provável que chegue a níveis de outros anos, principalmente porque, para uma parcela da população mais empobrecida com a inflação, o consumo não será uma opção neste ano. 

“Este final de ano já tem muita gente com a corda no pescoço, sem alternativa de consumo por baixo poder aquisitivo e maior endividamento. Eu vejo que é uma conta que já apertou”, diz Sanchez. 

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Varejo de alta renda e alimentício 

A exceção está em duas pontas do varejo: o de alta renda – que tem como consumidores uma população classe A e B, que sente menos o impacto da inflação – e o varejo de alimentação – já que, na pior situação, alimentos vão ser substituídos, mas ainda consumidos. 

Segundo a XP Investimentos, se destacam nesse sentido empresas como Arezzo (ARZZ3), Grupo Soma (SOMA3) e Vivara (VIVA3). A Lojas Renner (LREN3) também leva uma menção honrosa por ter investido no e-commerce e estar apresentando bons resultados. 

Já nas varejistas de alimentação, o Assaí (ASAI3) tem vantagem frente a concorrentes como Pão de Açúcar (PCAR3) e Carrefour (CRFB3) por ser do setor de atacarejo. A compra em grandes volumes oferece vantagens ao consumidor que busca por custo/benefício neste momento. 

Os especialistas afirmam que é um momento de migração tanto do consumidor quanto dos investidores para esses setores específicos do varejo.

Enquanto clientes buscam por melhores preços, mais benefícios e vantagens para consumidor o dinheiro que está valendo menos, os investidores procuram empresas resilientes, que vão passar por esse período turbulento com menos cicatrizes. 

Crise das varejistas pode se estender por mais tempo 

Para Sánchez, o cenário de 2022 não é promissor. A expectativa do economista é de que os juros atinjam um pico de 13,25% no próximo ano, numa tentativa de o Banco Central (BC) aplacar todas aquelas inflações mencionadas mais acima. 

Com isso, o custo de crédito aumenta, os consumidores ficam mais pressionados para o consumo e a dívida das varejistas cresce junto com os juros. 

Para piorar, o economista ainda cita um outro fenômeno que pode dificultar as vendas dessas empresas, principalmente as de varejo ampliado, como Via, Magazine Luiza e Americanas: a compra por antecipação

Segundo Sanchez, durante a pandemia, muitas pessoas optaram por fazer trocas de bens duráveis por estar com o dinheiro à disposição enquanto viviam em isolamento social. Produtos como eletrodomésticos, móveis e eletrônicos, principalmente, foram renovados. 

“Com essas compras antecipadas, as pessoas não precisam mais consumir os bens. A próxima renovação só deve acontecer em 2023, quiçá 2024. Isso faz com que a crise das varejistas seja ainda mais profunda no próximo ano”, diz o economista. 

O resultado é que a inflação mais alta joga contra a economia brasileira como um todo, mas o golpe para as empresas varejistas chega mais forte.

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Monique Lima

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