Do Magazine Luiza (MGLU3) à Via (VIIA3): varejo terá ano da virada em 2023?

Após sofrer com a pandemia da Covid-19 e ver suas ações derreterem na Bolsa de Valores ao longo de 2022, as empresas do varejo esperam por dias melhores em 2023. Contudo, na visão dos analistas, o próximo ano não será nada fácil para o setor. Inflação sem trégua, juros altos e incertezas políticas aparecem como alguns dos vilões de empresas como Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3).

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“As perspectivas, ao menos por enquanto, são bem ruins para o varejo, por causa da taxa de juros. Antes, o mercado precificava uma queda da taxa de juros pela frente e, agora, já começa a ver uma manutenção ou até uma alta”, destaca Vitorio Galindo, head de análise fundamentalista da Quantzed, em entrevista ao Suno Notícias.

Com os juros nas alturas, o custo das dívidas dessas empresas fica muito alto. “As margens do varejo são muito apertadas. É difícil olhar para o varejo, no geral, e achar que as perspectivas são boas ou que as ações vão perfomar bem. Para acontecer isso, algo tem que mudar”, analisa.

Com a Selic em 13,75%, sem perspectivas de cortes do Banco Central, a alta de juros também atrapalha o consumidor, que fica sem crédito na mão.

“Já vemos os bancos apresentando dados de inadimplência mais altos, cortando o crédito. Boa parte dos produtos vendidos no varejo são parcelados. Então a pessoa não vai ter crédito no cartão ou, se for comprar, vai pagar muito caro em um carnê”, recorda o especialista.

Tudo isso acaba desincentivando o consumo, o poder de compra cai, e as empresas do varejo são penalizadas duas vezes.

Só uma empresa no azul em 2022?

Segundo um levantamento realizado pela reportagem com dados do Status Invest coletados até o pregão de 15 de dezembro, das dez principais varejistas listadas na B3, apenas a Arezzo (ARZZ3) conseguiu se valorizar nos últimos doze meses.

Em casos como o das Lojas Americanas (AMER3), o tombo foi de mais de 70%. Confira o ranking:

  • Americanas (AMER3) – 73,65%
  • C&A (CEAB3) – 67,19%
  • Magazine Luiza (MGLU3) – 60,84%
  • Via (VIIA3) – 58,18%
  • Centauro (SBFG3) – 48,43%
  • Grupo Soma (SOMA3) – 29,47%
  • Vivara (VIVA3) -23,14%
  • Lojas Renner (LREN3) – 21,77%
  • Carrefour (CRFB3) – 6,61%
  • Arezzo (ARZZ3) + 0,21%

Os analistas do BTG Pactual esperam “bastante volatilidade das ações do varejo“, o que faz com que o banco tenha uma visão cautelosa sobre a exposição de curto prazo ao setor.

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Neste cenário, para os analistas do BTG Luiz Guanais, Gabriel Disselli, Victor Rogatis e Luiz Temporini, ações como a da Raia Drogasil (RADL3) e da Assaí (ASAI3) podem ser favorecidas, conforme divulgado em relatório em 15 de dezembro.

Esse fantasma dos juros altos também é apontado como um dos impeditivos para o crescimento do varejo em 2023, segundo o BB-BI, que aponta uma redução do ímpeto de compra do consumidor graças a esse cenário delicado.

“Do lado da rentabilidade, há elevação das estimativas relacionadas às despesas financeiras, o que implica na redução de lucro líquido, já impactado pela menor perspectiva de alavancagem operacional por conta das vendas em ritmo mais lento”, detalha a analista do BB-BI Georgia Jorge, em relatório publicado em 16 de dezembro.

Alto escalão do varejo pode trazer novidades?

No Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano já adiantou que o foco da empresa em 2023 será na consolidação do marketplace e no cuidado com os vendedores e pequenos empreendedores da plataforma.

Já na Americanas, a chegada de Sergio Rial, ex-Santander Brasil (SANB11), ao comando da empresa é aguardada com ansiedade pelo mercado.

“Para melhorar de fato, essas empresas vão ter que focar em rentabilidade. Ou seja, diminuir custos, enxugar a casa o máximo que puder para aguentar o período ruim”, diz Galindo.

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E as mudanças no regime fiscal?

Além dos temas relacionados ao cenário macroeconômico, a agenda política também pode provocar ajustes neste voo turbulento das varejistas.

Segundo um estudo realizado pelo time de research do BTG Pactual, caso o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decida tributar dividendos ou acabar com a isenção fiscal gerada pelo pagamento de Juros sobre Capital Próprio (JCP), as Lojas Renner seriam as mais prejudicadas no setor.

“Para que um imposto sobre dividendos e o fim do JCP sejam implementados no próximo ano, o governo teria que aprovar a nova lei nas duas casas do Congresso até dezembro deste ano, algo que consideramos muito improvável, senão impossível”, explicam os analistas.

Pelos cálculos do banco, em um cenário no qual os dividendos sejam tributados em 15%, ocorra o fim do JCP e nenhuma redução no Imposto de Renda corporativo, o lucro líquido da Renner (LREN3) cairia 14,5% em 2023, e 15,2% em 2024.

O Magazine Luiza aparece logo atrás no ranking hipotético de caos do varejo, com queda de 11,5% no lucro líquido em 2023, e recuo de 11,6% em 2024.

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Erick Matheus Nery

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