Ação da Vale (VALE3) sobe hoje, mas queda acumulada no início do ano acende alerta. O que está acontecendo?

As sucessivas quedas nas ações da Vale (VALE3) desde o início do ano acenderam um sinal de alerta no mercado, que olha com certa desconfiança os últimos acontecimentos relacionados à mineradora. No entanto, um possível estímulo do governo da China – principal mercado da mineradora – para estabilizar as bolsas do país, pode significar a retomada das ações, que caem mais de 9% em 2024?

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Nesta terça-feira (23), a Bloomberg informou que autoridades da China planejam mobilizar cerca de 2 trilhões de yuans (US$ 278 bilhões), principalmente das contas externas de estatais chinesas, para comprar ações no mercado doméstico por meio da aliança com a Bolsa de Hong Kong. Outros 300 bilhões de yuans em recursos locais também seriam usados para investir em ações.

A notícia animou os investidores nesta terça, impulsionando as ações da Vale, que subiram 2,06%, a R$ 69,20. Desde o início do ano, os ativos amargam perdas consecutivas, com exceção do dia 11 de janeiro, quando os papéis terminaram em alta de 0,53%. No acumulado de 2024, eles cedem 9,73% – mas já chegaram a ultrapassar o patamar negativo dos 12%, segundo o Status Invest.

O que explica a queda das ações da Vale em 2024?

Um dos fatores que explicam a queda nas ações da Vale está relacionado ao mercado imobiliário chinês, responsável por sustentar o minério na China e que ainda sofre as consequências de um 2023 bastante sofrido. É importante lembrar que as siderúrgicas produzem aço para o setor e o material, por sua vez, é fornecido pelas mineradoras, como a Vale.

“Um dos pontos que fizeram a Vale cair e mudar essa direção durante o ano foi quando o primeiro ministro chinês reconheceu o crescimento de 5,2% da China – até acima da meta que era de 5% – mas isso, segundo ele, ocorreu sem estímulos. E o mercado esperava os estímulos ‘pesados’ para salvar e manter o setor imobiliário funcionando”, lembra Apolo Duarte, sócio e head da mesa de renda variável da AVG Capital.

Neste cenário, apesar do minério ainda estar em um patamar alto, o mercado ainda vê uma desconfiança muito grande em relação às mineradoras – não só a Vale, como também seus pares globais, a exemplo da Rio Tinto e BHP.

“Quando temos um preço de minério no nível em que está, a Vale está num nível mais alto. No ano, o minério no ano cai 4%, enquanto a empresa brasileira cai 14%. É um ponto importante para ponderar que de fato não é só a questão do minério: é uma desconfiança muito grande em relação a como vai ser o desenrolar do ano para mercado imobiliário chinês”, explica Duarte.

“Olhando para o preço, o papel da Vale está muito barato, tem múltiplo barato. Historicamente, estamos em um nível baixo também, mas a impressão que dá é que o mercado só vai ficar otimista se de fato tivermos algumas mudanças e estímulos mais fortes na China. É um papel que está muito baixo em nível de preço, pode ter uma geração de caixa muito interessante durante o ano, à decorrer de como for a produção dela também”, acrescenta o sócio da AVG Capital.

O relatório de produção da Vale referente ao quarto trimestre de 2023 está previsto para ser divulgado na próxima terça-feira (30). Já o balanço completo do período sairá no dia 22 de fevereiro de 2024.

Cotação VALE3

Gráfico gerado em: 23/01/2024
1 Mês

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Mantega na Vale pode atrapalhar as ações?

Segundo notícia divulgada pelo Estadão na semana passada, o presidente Lula trabalha para acomodar o ex-ministro Guido Mantega, titular do Ministério da Fazenda de 2006 a 2014, no conselho de administração da Vale, ex-estatal privatizada há 26 anos. No fim deste mês, a empresa decidirá se reconduz o atual presidente, Eduardo Bartolomeo, que já declarou ter a intenção de permanecer no cargo.

Ainda segundo o jornal, o governo, que ainda tem influência na empresa, concorda em manter Bartolomeo na presidência da Vale e renovar o seu mandato por mais um ano, até abril de 2025.

Para Duarte, a possibilidade de mudança no board da Vale coloca um certo peso na mineradora, a qual o mercado ainda vê de maneira cética. “Apesar da Vale ser uma empresa 100% privada, o governo ainda tem uma certa influência, e isso de alguma maneira pode sim contribuir para um certo peso que a gente tem visto nas últimas semanas”, avalia.

O que dizem os acionistas?

Os principais acionistas da Vale costuram uma decisão pacífica para a questão envolvendo os cargos de chefia na mineradora. Segundo eles, o ex-ministro Guido Mantega pode até ser indicado ao conselho, mas não como presidente, segundo a coluna Radar Econômico, da revista Veja.

De acordo com a publicação, a escolha do presidente da Vale seguirá a velha regra dentro da empresa, que é a de um consenso entre os principais acionistas. Indicado por um fundo de pensão de estatal, o ex-ministro não tem apoio de outras pessoas importantes dentro da mineradora, acrescenta a coluna.

No fim da semana passada, em comentário durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, o ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, defendeu as qualificações de Guido Mantega para comandar a Vale, dizendo que o ex-ministro da Fazenda é o “mais longevo” da história do Brasil e “alguém extremamente preparado”.

No entanto, Silveira não quis comentar as movimentações do governo Lula (PT) para emplacar o nome do ex-ministro da Fazenda na mineradora, afirmando que só haverá posição quando for definido o processo de sucessão de Eduardo Bartolomeo na empresa, no fim de janeiro.

Aliados do presidente Lula articulam entre os acionistas da Vale a indicação de Mantega para a presidência da mineradora. Uma opção seria o ex-ministro ocupar antes um dos dois assentos que a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (BBAS3) tem entre os 13 conselho de diretores.

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Giovanni Porfírio Jacomino

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