Renda fixa volta a brilhar, mas o futuro promete mais retorno; entenda

Os investimentos em renda fixa voltaram a brilhar os olhos dos investidores e engana-se quem pensa que o motivo é somente a taxa básica de juros (Selic) atual, que teve o quinto aumento consecutivo nesta semana.

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O aquecimento desse mercado é explicado por uma perspectiva futura da taxa Selic a 8% ao ano (a.a), com uma inflação a 4% a.a em 2022, ou seja, com os juros reais positivos, como projetam os especialistas.

Hoje, a taxa Selic ainda perde para a inflação, corroendo os ganhos dos investidores. Em outras palavras, as estimativas são de que a taxa de juros alcance 8% ou até 9% no final deste ano, mas ela ainda sai perdendo para Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que também tem uma projeção de 8%.

Mas em 2022, o jogo deve virar, tornando a renda fixa mais atraente, à medida que a Selic superar a inflação. O mercado prevê que a inflação seja controlada em 2022, na casa dos 4%, enquanto a Selic permanecerá em torno do nível atual, gerando assim juros reais positivos ao investidor.

“O mercado está esperando uma Selic de 8%, com uma inflação de 4% para 2022, isso significa um juro real de 4%. Isso faz com que dois movimentos aconteçam: a bolsa caia e a renda fixa suba”, disse o CEO da Valora Investimentos, Daniel Pegorini.

Além da situação inflacionária, o gestor da Integral Investimentos, Marcos Lorio, explica a questão política interna faz com que a taxa Selic em 2022 perdure em 8%.

“Estamos vendo um ambiente macroeconômico desafiador pela frente. A situação fiscal está muito deteriorada e não vemos nenhuma trégua no curto prazo. A gente vê ainda mais motivos para ficarmos preocupados, uma vez que teremos as eleições no ano que vem e o governo Bolsonaro está tentando aumentar o Bolsa Família”, disse Lorio.

Portanto, essas incertezas elevam o risco-país, que pressionam ainda mais o Banco Central a manter a taxa em níveis atrativos para os investidores, que, por sua vez, exigem maior retorno.

Migração de investimentos já começou

Esta expectativa já começou a mexer com o mercado. Os fundos de investimentos em renda fixa registraram o melhor desempenho da modalidade em agosto, com o segundo melhor desempenho mensal em 2021, atingindo o total de R$ 34,1 bilhões.

Ao mesmo tempo, os fundos de ações tiveram resgates de R$ 176,1 milhões.

Além disso, alguns títulos do Tesouro Direto retornaram a remuneração de dois dígitos.

Já as debêntures, títulos de renda fixa emitidos por empresas, lideraram as emissões do mercado de capitais com o valor de R$ 20,3 bilhões em agosto.

Tesouro Direto 

O risco-país atrelado à alta inflação fizeram os títulos do Tesouro Direto aumentarem suas taxas de retorno.

Para se ter uma base de comparação, na última negociação do ano passado, 30 de dezembro, os títulos prefixados remuneravam na casa dos 4% a 6%. Hoje essas taxas remuneram de 10% a 11%.

“Além da inflação, temos que analisar o risco-país do Brasil, o investidor vai querer um prêmio maior para comprar essa dívida mais longa, então isso é uma consequência do cenário atual que está um pouco estressado”, analisou o trader de renda fixa da Órama Gestão, Mateus Bartolomeu.

Veja o gráfico da taxa do Tesouro Direto do Banco Central:

renda fixa

Portanto, com a alta inflação e o elevado grau de incertezas no cenário econômico interno, os títulos prefixados e atrelados ao IPCA demonstraram avanço em suas taxas de retorno.

Mas Pegorini alerta que esse movimento não será perpetuo. Segundo ele, está é uma situação anômala do mercado, visto que a inflação será controlada e a tendência é que remuneração caia um pouco.

“Os títulos do Tesouro estão pagando dois dígitos quando analisados porque a inflação do mês foi muito alta, mas isso não significa que vai pagar dois dígitos todos os meses. Isso é uma situação anômala do mercado porque se você olhar para as ponderações futuras dos especialistas vai ver que não existe uma perspectiva de que a acentuação se perpetue por muito tempo.”

Debêntures

Dentre os investimentos em renda fixa, o principal destaque foram as debêntures. Para se ter noção, segundo o relatório mensal da Anbima, o mercado de capitais emitiu R$ 50,6 bilhões no mês de agosto.

O destaque foi a renda fixa, que levantou o total de R$ 34,1 bilhões. Nesse resultado, as debêntures responderam por 40% do volume, com uma contribuição de R$ 20,3 bilhões.

“Apesar de toda instabilidade no cenário macroeconômico, o mercado de capitais está muito atrativo, estamos vendo muitas emissões de debêntures e de outros produtos de renda fixa“, disse Lorio.

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Com o mercado aquecido, as empresas têm emitido dívidas, portanto, veja três grandes ofertas:

  • Via (VIIA3):

A antiga Via Varejo emitirá R$ 1 bilhão em debêntures com vencimento de três a sete anos para reforçar o caixa e alongar o perfil da dívida.

  • Raízen (RAIZ4):

A Raízen Energia, joint venture da Shell e Cosan, aprovou em assembleia duas emissões de debêntures, totalizando cerca de 1,25 bilhão de reais, para captação de recursos que serão utilizados em investimentos na operação. A oferta foi concluída em 15 de junho.

A locadora Movida concluiu a 7ª emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, em três séries, no valor de R$ 1,750 bilhão. Os recursos obtidos serão destinados para capital de giro, gestão de caixa e reforço de liquidez, com o alongamento no perfil de dívida da companhia e/ou das suas controladas.

Investir em renda fixa tem atrativos, mas é preciso diversificar

A escalada da Selic realmente acende a atratividade da renda fixa, mas o investidor deve aprender a diversificar. O brasileiro estava acostumado com o juro competindo com a renda variável.

Além disso, a renda fixa ganhava da inflação, o que fazia com que o investidor não se preocupasse em diversificar seus investimentos.

Acostumado com a mordomia de uma taxa em dois dígitos por muitos anos, o investidor brasileiro teve que se expor mais ao risco e correu para aprender a diversificar seus ativos.

Os especialistas alertam que a importância de diversificar está em proteger sua carteira de grande oscilações como aconteceu com a Selic.

“Sempre tem que ter uma carteira diversificada e deve ir balanceando ela conforme os riscos vão se alterando. Entendemos que hoje é prudente você ter uma alocação em renda fixa, mas também achamos que a Bolsa brasileira ainda está barata, existem boas empresas, a atividade está se recuperando, então a renda variável também tem seu valor. O cenário instável do Brasil faz com que o investidor tem investimentos no exterior, com ativos em dólar”, analisou Lorio.

Portanto, os especialistas julgam que os investimentos em renda fixa seguem atrativos daqui para frente mas é necessário ter uma carteira diversificada.

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Poliana Santos

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