Mercado na coleira curta: CADE investiga se fusão Petz-Cobasi quer eliminar concorrência
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O mercado pet brasileiro pode estar com a coleira curta demais. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) decidiu aprofundar a investigação sobre a fusão entre as gigantes Petz e Cobasi, operação que promete criar uma superpotência de bilhões de reais no setor.
A autarquia acionou 218 empresas — entre fornecedores e concorrentes — para medir o impacto real da transação, e agora quer saber se o negócio representa eficiência… ou a domesticação da concorrência.

A decisão do CADE veio após uma ofensiva da Petlove, terceira maior força do varejo pet, que entregou uma petição de mais de 100 páginas acusando as rivais de articular uma fusão com racional anticompetitivo. O documento afirma que a operação visa “selar a paz” no setor e eliminar a principal rivalidade existente no país, justamente entre Petz e Cobasi. Segundo a Petlove, as duas redes tentam “forçar teses econômicas frágeis” para convencer o órgão regulador de que não há risco de monopólio.
Nos bastidores, o clima é de desconfiança. A Petlove sustenta que os estudos apresentados pelas empresas, um assinado pelos economistas Elizabeth Farina e Guilherme Monteiro, e outro pelo professor Eduardo Pontual Ribeiro, são “feitos sob encomenda” e metodologicamente frágeis.
“As requerentes buscam construir teses argumentativas a partir de modelos competitivos inadequados, forçando conclusões descoladas da real dinâmica do mercado pet”, afirma a manifestação enviada ao CADE.
As vozes do mercado e o “bicho papão” do varejo
Além da crítica técnica, a Petlove cita falas de executivos das próprias companhias como prova de intenção anticoncorrencial. O CEO da Petz, Sérgio Zimerman, chegou a afirmar em teleconferência que os pequenos pet shops são “doadores de market share” para as grandes redes — frase que, para a rival, mostra que os pequenos já perderam espaço e a fusão só ampliaria o desequilíbrio.
Já o diretor da Cobasi, Ricardo Nassar, admitiu em entrevista que a marca é vista como um “bicho papão do varejo”, e descreveu a operação da empresa como “agressiva, de braço de ferro”.
Os documentos da Petlove ainda apontam que as redes detêm vantagens irreplicáveis: escala nacional, poder de compra, programas de fidelidade robustos e omnicanalidade que integra lojas físicas e online. Segundo a empresa, essa combinação já cria barreiras de entrada significativas, e a fusão eliminaria a última fonte de pressão competitiva relevante.
Em paralelo, o CADE disparou questionários a concorrentes e fornecedores com perguntas diretas: há favorecimento em marketplaces? Existem políticas de exclusividade? As grandes redes recebem descontos diferenciados?
Os fornecedores foram orientados a relatar cláusulas abusivas, práticas predatórias e eventuais barreiras de acesso impostas por Petz e Cobasi. O órgão também quer saber se mudanças de preço feitas pelas duas gigantes impactam diretamente os valores praticados por pequenos varejistas.
Audiência sobre fusão Petz-Cobasi e o risco de um mercado dominado
A pressão cresce. Uma audiência pública está marcada para 17 de outubro, em Brasília, onde o CADE deve ouvir representantes do setor, associações e especialistas.
Parte dos fornecedores já se manifestou contra a fusão, relatando “pressões comerciais e ameaças de desabastecimento”, enquanto entidades de proteção animal, como o Instituto Caramelo, alertam que o aumento de preços pode elevar casos de abandono de pets.
Em nota conjunta, Petz e Cobasi afirmam que o processo segue “com transparência e confiança na análise técnica do CADE”, negam qualquer risco concorrencial e sustentam que a empresa resultante terá menos de 10% de participação de mercado.
“A fusão trará ganhos de eficiência, mais variedade e melhores preços para tutores e pets”, dizem as companhias, que classificam as críticas como “movimento orquestrado de uma concorrente direta — a Petlove”.
Enquanto a decisão final sobre a fusão Petz-Cobasi não vem, o setor pet — um mercado de R$ 80 bilhões anuais e crescimento acelerado — observa cada passo do regulador. O resultado dessa investigação pode decidir se o Brasil terá um mercado competitivo de pet shops ou um mercado de coleira curta, controlado por duas superlojas.