Entenda como os bancos globais tiveram perdas bilionárias em caso Archegos

Há pouco mais de duas semanas, o investidor coreano Bill Hwang causava choque ao mercado financeiro norte-americano (e mundial) após instaurar uma chamada de margem que deixaria não só sua firma de investimentos Archegos Capital Management, como também um punhado de grandes bancos, sangrando nas ruas de Wall Street.

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De acordo com informações da imprensa americana, a Archegos Capital e as instituições financeiras com as quais fazia negócios deram início a uma série de vendas em março, transformando posições em grandes companhias em cinzas. Bilhões de dólares em valor de mercado perdidos.

A liquidação foi o clímax de um conjunto de apostas alavancadas do investidor coreano em companhias como ViacomCBS, Discovery e Baidu. As operações foram levadas a cabo através dos chamados total-return swaps, contratos feitos por bancos em nome do cliente em troca de uma taxa.

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O modelo de investimento camuflou as aplicações do escritório de Hwang, o qual não era obrigado a divulgar dados das operações à Securities and Exchange Commission (SEC), nem a ninguém.

As apostas explodiram nas mãos de grandes bancos globais, incluindo nada mais, nada menos do que

  • Goldman Sachs;
  • Morgan Stanley;
  • UBS;
  • Credit Suisse;
  • Wells Fargo;
  • Nomura Holdings.

Estes devem registrar perdas de até US$ 10 bilhões, segundo projeção de analistas do JPMorgan Chase (o qual ficou de fora dessa vez). Apenas o Credit Suisse, provavelmente o maior perdedor de toda essa história, terá de lidar com um  golpe de US$ 4,7 bilhões, conforme reportou o banco no início do mês.

“O evento destaca os riscos financeiros, de reputação e regulatórios que os bancos enfrentam caso existam deficiências materiais de governança ou gestão de risco”, observou a Fitch Ratings em relatório. “Também ressaltam a dinâmica risco-retorno sintomática dos desafios enfrentados pelas empresas financeiras em um ambiente de taxas de juros baixas.”

A Archegos, claro, quebrou.

A jogada

A Archegos Capital é o family office de Sung Kook “Bill” Hwang, ex-operador do fundo de hedge Tiger Asia.

Em 2012, o veículo confessou e conseguiu fechar um acordo para arquivar processo no qual era acusado de ter se valido de informações privilegiadas para manipular ações de bancos chineses.

O fundo de hedge virou family office, e Tiger Asia, Archegos Capital.

O escritório estabeleceu laços com Credit Suisse, Nomura e Morgan Stanley. O Goldman Sachs decidiu ficar de fora diante do caso de insider trading, mas acabou por ceder, invejando os cheques gordos recebidos pelos rivais, contou Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset. “Chega a ser engraçado para quem ouve de fora.” Para Vieira, a lição de casa não foi feita.

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“Não houve uma correta mitigação de riscos. Faltou por parte dos bancos uma análise dos dados históricos de Bill Hwang”, pois eles estão disponíveis, disse o especialista.

A Archegos assumiu grandes posições por meio dos total-return swaps. Os contratos permitiram a Bill Hwang operar alavancado e torná-lo muito lucrativo para as instituições intermediadoras.

Mas quando os investimentos deram errado, mãos foram às têmporas em Wall Street.

O clímax

No início de março, ViacomCBS, cujas ações registraram forte valorizações nos meses anteriores e na qual o family office detinha grande posição, anunciou uma oferta de US$ 3 bilhões. A notícia não agradou o mercado. Os papéis despencaram.

As obrigações da Archegos junto aos bancos começaram a chegar no limite devido às desvalorizações, não só de ViacomCBS, mas de outras empresas. Se as ações caíssem mais, o escritório viria à falência. E os gerentes de riscos dos grupos financeiros teriam uma bela história para contar aos superiores.

Os banqueiros liquidaram as posições bilionárias detidas pela Archegos, vendas cuja magnitude deixou Wall Street no vermelho e muitos agentes de cenho franzido. As instituições parceiras do family office venderam quase US$ 100 bilhões em ações.

Apesar do tumulto, o evento parece ser pontual e isolado, sem grandes implicações para o quadro geral dos mercados, disse Victor Beyruti Guglielmi, analista da Guide Investimentos, em relatório.

As falhas

No meio da confusão, Goldman Sachs e Morgan Stanley saíram na dianteira e se livraram de perdas maiores, enquanto o Credit Suisse e a Nomura Holdings ficaram para pagar o pato. De todo modo, não houve ganhos para nenhuma das partes.

“Não é nada surpreendente”, disse o economista-chefe da Infinity Asset Jason Vieira. “Olhamos pelo prisma da eficiência americana, de classificação de risco, de que os sistemas são completos e bem estruturado, quando a verdade não é bem assim.”

O especialista relembrou da crise do subprime, em 2008, quando os grandes grupos financeiros dos Estados Unidos afrouxaram os critérios de risco para poderem abocanhar uma fatia do mercado. “Existem falhas no sistema de controle desses bancos há muitos anos “, pontuou Vieira.

“O que se pode dizer é: poderia ter sido evitado. [A Archegos] não é um caso sintomático, mas um caso especifico o qual expõe um problema do mercado”, completou.

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Arthur Guimarães

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