IPOs de empresas de saúde patinam com volatilidade e investidor mais seletivo

Apesar de empreitadas bem-sucedidas no setor, empresas de saúde têm enfrentado dificuldades para emplacar ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês). A concorrência é forte, mas há outros obstáculos. Amontoadas na fila para abrir o capital na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), essas companhias encontram um investidor arisco e mais seletivo. A alta volatilidade também emperra algumas ações do segmento — mas existem boas oportunidades.

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A última das empresas de saúde a concluir o IPO foi a Oncoclínicas (ONCO3). A cadeia de clínicas para tratamento contra câncer conquistou seu lugar no Novo Mercado da B3 ao precificar a operação abaixo da faixa indicativa. Mesmo assim, a ação acumula uma queda de pouco mais de 20%.

O ecossistema de produtos e serviços Viveo (VVEO3) e a rede hospitalar Kora Saúde (KRSA3) adotaram uma estratégia distinta. Aceitaram um desconto e lançaram ofertas menores com esforços restritos. A ação da distribuidora de materiais e medicamentos valorizou-se 22% desde a oferta, enquanto a da companhia capixaba mostrava estabilidade.

Segundo Ale Boiani, CEO e gestora do 360iGroup, a instabilidade é normal do mercado de ações. É um momento de adaptação. “Boa parte das empresas que abrem o capital tem um ajuste no curto prazo e depois segue o caminho natural”, lembra ela.

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Como o “investidor está mais seletivo”, ou as companhias fazem “uma adaptação ou esperam o melhor momento de mercado”, recomenda a especialista.

Empresas de saúde desistem de IPOs

Foi precisamente esta a manobra que quatro companhias do setor de saúde optaram: abortar os planos de IPO. São elas: a empresa de saúde suplementar Athena Saúde, a fornecedora de soluções digitais para gestão de processos Bionexo, a farmacêutica Laboratório Teuto e a rede Hospital Care Caledonia.

O desfecho não significa que as empresas não sejam atraentes para investidores. O mercado faz contas, disse uma fonte que preferiu ficar no anonimato. Segundo ela, o porte do negócio e o volume reduzido contribuem para o insucesso das operações.

Tanto a Mater Dei (MATD3) quanto a Blau Farmacêutica (BLAU3) aceitaram um desconto em relação ao piso da faixa indicativa do IPO. Desde a conclusão das respectivas ofertas, as ações apresentam alta de 10% e 16%.

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A concorrência também atrapalha. Se em um mercado de boom os pares serviriam de referência, um cenário fraco leva a uma menor receptividade. O resultado está ligado ao histórico mais restrito e, inclusive, à menor liquidez.

Soma-se a isso a conclusão de uma bateria de IPOs, que culminou com a oferta da Raízen (RAIZ4) e drenou recursos do mercado. Investidores estariam relutantes, de olho na melhora do quadro.

Setor ainda tem oportunidade em IPOs

Apesar do cenário macro turbulento e da seletividade de investidores, o setor de saúde no Brasil não deixou de chamar atenção.

“É um segmento com oportunidades de verticalização, em que há custos de ineficiência em toda a cadeia e que não tem uma margem elevada. Então qualquer movimento de consolidação e ganhos de eficiência trazem muito resultado”, avaliou Marcelo Shiramizu, diretor e cofundador da Peers Consulting.

O executivo sinalizou ainda com a possibilidade de que aspirantes a empresas cotadas em Bolsa possam captar recursos por meio de uma player capitalizado, ou de uma operação de M&A. Para além do IPO, a tendência é o mercado continuar a ver grandes movimentos de consolidação do setor de saúde.

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Arthur Guimarães

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