Por que o Ibovespa cai na contramão do exterior em 2024? Veja como aproveitar o cenário

Em março, o Ibovespa acumulou queda de 0,71%, na contramão das bolsas dos Estados Unidos, que renovaram recordes de fechamento ao longo do mês e tiveram a maior alta trimestral desde 2019. Já o dólar teve alta de 0,86% no mês, a R$ 5,02. Entenda a seguir o explica o recuo da Bolsa brasileira frente ao exterior, assim como os riscos e oportunidades que esse cenário gera.

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Conforme a RB Capital Asset afirma em seu relatório ao investidor referente a março, o mês foi marcado pela “continuidade do momentum positivo para ativos de renda variável no exterior, diante de especulações de que o Federal Reserve será capaz de entregar o soft landing esperado pelo mercado”.

Ou seja, a expectativa de que os Estados Unidos serão capazes de fazer uma transição suave em sua economia, passando de um ciclo de aperto monetário para um relaxamento, traz uma tendência positiva para as bolsas. 

Por outro lado, o início do corte nos juros americanos era esperado para março, o que acabou por não se concretizar. Esse adiamento, então, contribuiu para uma alta na curva de juros futuros no Brasil.

“A demora para o início dos cortes nos Estados Unidos, em função da força da economia americana, tem contribuído para uma abertura nas taxas de juros tanto aqui no Brasil, quanto lá fora”, explica João Mamede, co-gestor de renda variável da AZ Quest. “A insegurança em relação ao início da queda dos juros nos Estados Unidos vem afastando os investidores estrangeiros do Brasil”, completa Isabel Lemos, gestora de renda variável da Fator.

O ponto levantado por Lemos é fundamental para entender o fraco desempenho recente do Ibov. Conforme detalha a RB Capital Asset, em março, “houve continuidade do movimento de saída de capital, com saldo negativo de R$ 22,9 bilhões no primeiro trimestre do ano, revertendo boa parte do forte ingresso de capital observado no 4° trimestre de 2023”.

Com o fluxo secando, é natural que o índice Bovespa perca a força observada no final do ano passado. Essa saída do investidor estrangeiro é explicada tanto pela incerteza quanto aos juros nos Estados Unidos, quanto pelo risco fiscal no Brasil.

“O mercado não acredita que o governo vá conseguir zerar o déficit este ano, e você tem também a inflação que pode impedir o Banco Central de cortar mais juros do que se esperava”, diz Mamede. “A curva de juros doméstica apresentou abertura em decorrência do risco fiscal e da adição de prêmios de longo prazo nos EUA”, completa a RB Capital Asset.

Além disso, esse contexto de alta nas curvas de juros nos Estados Unidos e no Brasil e fuga do investidor estrangeiro se traduz na alta do dólar frente ao real. “A desvalorização do real frente ao dólar, de modo simplista, acontece pela saída dos estrangeiros”, diz Lemos. “A gente deve ter um juro médio nos Estados Unidos maior do que se esperava no começo do ano, e isso também contribui”, completa Mamede.

Ibovespa X Bolsas americanas

Como vimos, a deterioração das expectativas quanto ao início do ciclo de relaxamento monetários nos Estados Unidos fez com que as curvas de juros por lá e por aqui subissem. Então por que só a Bolsa brasileira caiu?

A resposta principal, segundo os analistas, está na temporada de balanços do 4T23, que se mostrou mais favorável para as empresas americanas do que para as brasileiras.

“Os resultados das empresas nos Estados Unidos vêm saindo acima do esperado. Além disso, a grande presença das empresas de tecnologia por lá influencia nesta medida”, destaca Lemos.

“Essa diferença de desempenho está relacionada ao comportamento micro das empresas. Nos Estados Unidos, estamos vendo as companhias, sobretudo as de tecnologia, apresentando resultados sólidos, e isso tem puxado as ações e índices. No Brasil, tivemos uma temporada mais modesta”, completa.

Um outro fator levantado pelos especialistas é a volatilidade das ações da Petrobras (PETR4) e da Vale (VALE3), que vêm sofrendo com riscos políticos.

“O Ibovespa foi influenciado negativamente pela interferência política em duas das principais blue chips, Petrobras e Vale”, diz a RB Capital Asset. 

“Na Petrobras, a questão dos dividendos extras vem gerando volatilidade, e uma possível troca de gestão representa uma insegurança em relação à política de investimentos. No caso da ação da Vale, a desaceleração da China vem impactando sobre o preço”, afirma Lemos.

“O barulho político contribui para a performance negativa. Esse medo de intervenção em algumas estatais tem tido um reflexo negativo no mercado do Brasil”, completa Mamede.

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Quais oportunidades o cenário gera?

Apesar das perspectivas não muito positivas, o mercado financeiro segue oferecendo oportunidades aos investidores. Ainda que o início do corte de juros nos Estados Unidos tenha sido postergado, a tendência é de que ele aconteça mais cedo ou mais tarde. Ao mesmo tempo, a Selic segue em trajetória de queda.

“Os juros no Brasil estão caindo, e nos Estados Unidos a taxa vai começar a cair. O índice de small caps, que reúne empresas de menor capitalização, tende a performar melhor que o Ibovespa, já que apresenta uma sensibilidade maior aos juros. Nesse sentido, temos o nosso fundo Mid-Small Cap, que tende a se beneficiar desse cenário”, afirma João Mamede, co-gestor de renda variável da AZ Quest.

A Fator é outra gestora que está atenta às oportunidades no mercado de small e mid caps.

“Alguns ativos de menor capitalização apresentam forte deságio frente ao potencial de preço. Múltiplos atrativos, análise por fluxo de caixa com grande potencial de valor e recentes resultados corroboram para a nossa visão. Nossos fundos Fator Ações e Fator Momento procuram essas teses de investimento que oferecem grande potencial de valorização, com gestão ativas buscando histórias fora do radar no universo mid-small cap”, diz Isabel Lemos, gestora de renda variável da Fator.

A Investo, por sua vez, busca capturar essa valorização do mercado internacional frente ao Ibov.

“O cenário atual reforça a importância da alocação global, principalmente quando associada à exposição cambial ao dólar. O WRLD11, ETF da Investo que replica o VT (Vanguard Total World Stock), investe em mais de 9.800 empresas ao redor do mundo, abrangendo cerca de 98% da capitalização de mercado global e incluindo diversas nações, moedas e setores”, completa Cauê Mançanares, CEO da Investo, destacando a vantagem do investidor brasileiro não se limitar ao Ibovespa.

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Guilherme Serrano Silva

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