Gestores de fundos defendem melhora na bolsa para entrarem em IPOs

Ainda ressabiados com as perdas do boom mais recente de ofertas inicias (IPOs, na sigla em inglês) na B3, entre 2020 e 2021, com papéis que caíram mais de 90% desde então, gestores de fundos de ações defendem que é preciso uma melhora consistente na Bolsa para embarcarem em novas histórias. Argumentam que o Ibovespa precisa estar ao menos acima de 130 mil pontos.

Outro ponto citado é o atual nível de preços na Bolsa. Com a depreciação generalizada e a ausência de ofertas nos últimos dois anos, os potenciais candidatos a IPO ficaram sem referência. Eles lembram ainda que, embora os saques nos fundos com mandato para alocar em renda variável tenham dado sinais de estabilização, após retiradas de bilhões nos últimos meses, ainda não há sinal de demanda pelos compradores, sobretudo por novas companhias, tampouco um fluxo sustentável de estrangeiros migrando para a Bolsa brasileira. Só em agosto, o saldo entre a entrada e a saída dos recursos externos ficou negativo em R$ 13 bilhões.

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“O pessoal se queimou com o último ciclo de IPOs, onde muito se esperou e pouco se realizou”, lembrou o gestor da Kinea, Ruy Alves. Ele diz que falta clareza suficiente nos campos macroeconômicos local e externo para que os fluxos sejam retomados na Bolsa, de modo a animar os gestores a ingressarem em novas ofertas. “IPO pressupõe um pouco de otimismo com a economia e estabilidade de fluxo”, afirmou.

Segundo Alves, é preciso que os Estados Unidos estejam bem para que a própria Bolsa brasileira responda com otimismo. Além disso, os fluxos para mercados emergentes também dependem muito de como está a China, que passa por momento de desaceleração da economia e não está atraindo capital externo. Localmente, ele afirma que a atividade econômica brasileira deve desacelerar no segundo semestre. Ele também projeta que o Banco Central não vai cortar juros como o mercado espera, pois a moeda pode ser muito afetada. É preciso começar a ter entrada na classe de ativos, no caso as ações, e estabilização do fluxo tanto de local como estrangeiro, observa o gestor da Kinea.

“Não havia condição de ter IPO nos últimos meses porque só tinha fluxo de saída”, completa o gestor da Kinea. No ano, até o final de agosto, os fundos de ações perdem R$ 39 bilhões em valores líquidos, segundo a Anbima. Os multimercados, também compradores de ações, tiveram saídas de R$ 48 bilhões. Em agosto, voltaram a captar, com fluxo positivo de R$ 9 bilhões, até o dia 25.

O gestor de renda variável da Polo Capital, Conrado Rocha, acrescentou que a referência de preços das ações listadas pode não estimular os novos entrantes, já que a bolsa ainda está depreciada, sobretudo em setores como varejo e bancos, e empresários ficam relutantes em vender parte de sua empresa a baixos valores. “Não sei se os preços das empresas já listadas seriam uma boa referência”, disse ele. Excluindo o fator preço, que deve ser uma questão mais para os emissores do que para os compradores, Rocha diz haver apetite ao preço certo e para as boas histórias, já que o mercado está muito tempo sem nenhuma nova oferta.

Rocha acredita que as empresas podem estar mais preparadas e maduras do que no ciclo anterior, quando várias chegaram à Bolsa sem estrutura adequada. Ele não aposta em IPOs esse ano, mas lembra que o mercado pode mudar de humor rapidamente, caso haja, por exemplo, uma queda maior do que se espera da Selic. Se saírem duas ou três ofertas bem sucedidas, ele acredita que estas operações podem puxar a fila de mais ofertas.

O gestor e CEO da ARX Investimentos, Rogério Poppe, também cita a ausência de referência como um problema para as novas listagens de ações e que dificilmente as companhias virão em um cenário como esse. “As empresas têm expectativas altas e não faz sentido trazer companhias em momento em que a bolsa ainda não tem direção definida”, diz. A janela para IPO fechou e só volta a ficar bem quando a bolsa subir de forma mais consistente, avalia. “O mercado ficou mais seletivo”, disse ele, ressaltando que empresas maiores e mais maduras tendem a ter mais chance de fazer um IPO pela frente.

De toda a forma, Poppe afirma que o mercado está muito melhor neste momento do que esteve no começo do ano, já que agora é possível entender um pouco melhor para qual direção o novo governo vai caminhar. Poppe chama atenção também para as discussões ainda pendentes sobre questões setoriais, citando a renovação das concessões de distribuidoras. “São algumas das discussões que impactam o valor futuro das empresas e dificulta a visão para uma oferta inicial”, acrescenta.

No auge de 2020 e 2021, a euforia dos investidores com a onda de IPOs era tanta que empresas se listaram na B3 sem sequer ter um site de relações com investidores e um conselho de administração. Agora, com os investidores bem mais seletivos, isso não tende a acontecer. “Para que eu vou arriscar em uma empresa nova se tem companhias listadas, já bem conhecidas, com preços muito baratos?”, comentou um gestor de renda variável à Coluna do Broadcast.

Seca passou? Mercado prepara retomada de IPOs na bolsa

Após um longo período sem IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês, ou as aberturas de capital na Bolsa de Valores), o cenário pode estar perto de mudar entre o fim de 2023 e o início de 2024, conforme afirmam especialistas ouvidos pelo Estadão.

esde 2004, o Brasil não passava tanto tempo sem realizar IPOs. O último ocorreu em agosto de 2021 pela empresa de medicamentos Viveo (VVEO3).

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Contudo, a expectativa de melhorias em indicadores econômicos com a inflação se aproximando da meta e a pressão pela queda dos juros, e a aprovação da reforma tributária e do arcabouço fiscal podem impulsionar a retomada de novas ofertas de ações.

Esses fatores contribuem para fomentar um ambiente mais favorável no mercado de capitais. Para o diretor de relação com clientes da B3, Rogério Santana, “antes, a palavra correta para falar de IPO no segundo semestre era esperança. Hoje, é expectativa”.

Os últimos IPOs da bolsa brasileira

Entre 2020 e 2021, o mercado viveu um período próspero com diversas ofertas de ações, incluindo empresas de grande porte como Assaí (ASAI3) e Vamos (VAMO3), além de companhias menores como Dotz (DOTZ3), Enjoei (ENJU3)Espaçolaser (ESPA3) e Westwing (WEST3).

Entretanto, logo após esse período de alta liquidez, a abertura de capital ficou escassa, impactada pelo rápido aumento da taxa de juros, falta de crescimento econômico e inflação, além de desempenhos pouco satisfatórios de algumas empresas listadas.

Isso fez inclusive com que “os gestores de portfólios ficassem mais focados em decidir quais nomes saem ou ficam do que em agregar novas empresas”, diz o chefe de mercados de capitais do Citi na América Latina, Marcelo Millen.

Com o cenário econômico mais positivo, o mercado começa a refletir avanços nas transações de novas emissões de ações na Bolsa, conhecidas como “follow-on”, o que abre espaço para a retomada de IPOs. Millen destaca que é necessário confirmar a tendência de queda dos juros no Brasil e em outros países e que melhorias na economia dos Estados Unidos em 2024 também podem impulsionar novas aberturas de capital no Brasil.

“Podemos ter IPO ao longo do segundo semestre. O ambiente é favorável, construtivo e receptivo,” afirma Millen, do Citi.

Embora o cenário seja promissor, é importante ressaltar que o sucesso das ofertas de ações dependerá de diversos fatores domésticos e internacionais que se concretizem nos próximos meses. Principalmente Millen ressalta a melhora no ambiente econômica dos Estados Unidos e a concretização da queda de juros no Brasil.

Se concretizada, a retomada dos IPOs pode ser uma oportunidade para empresas captarem recursos e o mercado de capitais brasileiros deve ter maior diversificação na carteira dos investidores.

Com informações de Estadão Conteúdo.

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Vinícius Alves

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