Vale a pena investir nos fundos imobiliários de papel com IPCA negativo?

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou deflação (inflação negativa) de 0,11% em agosto. O acumulado de 12 meses caiu para 5,13%, e os números do Boletim Focus semanalmente projetam resultados menores para os próximos meses e anos. Esses dados despertaram dúvida em alguns investidores: vale a pena investir em fundos imobiliários de recebíveis com títulos atrelados ao IPCA?

Os “FIIs de papel” são um segmento muito forte no mercado de FIIs, atuando na comercialização principalmente os CRIs, os Certificados de Recebíveis Imobiliários. Esses títulos têm sua remuneração atrelada a um indexador, e os principais são o CDI, taxa de depósito interbancário que oscila paralelamente à Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira; e o IPCA, que é o índice oficial de inflação do Brasil.

Para analistas, a deflação se deu principalmente pela redução no preço da energia, que foi uma consequência da incorporação do Bônus de Itaipu nas cotas. Esse bônus compensou a cobrança adicional da bandeira tarifária vermelha 2, que deve voltar a impactar o índice em setembro. 

O economista Rafael Perez, da Suno Research, diz que as pressões inflacionárias permanecem fortes. “Embora a inflação venha cedendo com a valorização do câmbio, queda nos preços de commodities e de insumos, o qualitativo da inflação permanece resistente”, aponta o analista.

“O cenário ainda reflete um mercado de trabalho aquecido no Brasil, contrastando com um ambiente internacional mais favorável, que tem ajudado câmbio e expectativas de inflação”, completa Thomás Gibertoni, sócio e Portfolio Manager da Portofino Multi Family Office.

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Fundos imobiliários de papel: qual o impacto da inflação?

Nos fundos imobiliários que detém títulos indexados ao IPCA, os rendimentos mensais refletem tanto os juros recebidos quanto a correção monetária dos ativos, fatores que são diretamente influenciados pelas variações da inflação.

Nesse contexto, a deflação de agosto tende a gerar impacto negativo em alguns fundos com exposição maior a esse indexador. Especialistas, contudo, recomendam atenção aos investidores antes de realizar novas alocações ou vendas.

“Existe uma defasagem de cerca de dois meses entre a variação do IPCA e o repasse aos rendimentos, o que permite aos gestores mitigar os efeitos da deflação por meio do uso de reservas acumuladas”, afirma Marx Gonçalves, head de FIIs da XP Investimentos. Ele diz que a inflação mais pressionada no início do ano contribuiu para que muitos desses fundos estejam bem posicionados para absorver impactos temporários.

Além disso, diz o analista, o cenário de pressão inflacionária faz com que o setor permaneça atrativo para os investidores, inclusive porque muitos desses fundos seguem com descontos atrativos em relação ao valor patrimonial. “O cenário continua favorável para os fundos imobiliários de papel indexados ao IPCA, especialmente aqueles com perfil de risco baixo a moderado e carteiras bem diversificadas”, conclui Gonçalves.

Fernando Cesarotti

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