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Evergrande “não é novo Lehman, mas crise não será indolor”, diz jornalista especialista em China

O risco de calote da incorporadora chinesa Evergrande derrubou mercados no Brasil e no exterior na segunda (20) A detentora da dívida do mercado imobiliário, no total US$ 300 bilhões, abalou o mundo com a possiblidade de desencadear uma turbulência mais longa, de impacto global. Muitas comparações foram feitas entre a situação da companhia chinesa e o caso Lehman Brothers, o banco que foi um dos coadjuvantes da crise imobiliária de 2008. São analogias descabidas? Ou esses paralelos fazem algum sentido?

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Em entrevista exclusiva ao SUNO Notícias — transmitida pelos canais no YouTube e Instagram do portal –, a diretora executiva do conselho empresarial Brasil-China, a jornalista e escritora Cláudia Trevisan conversou com o apresentador e editor multimídia Gregory Prudenciano para falar sobre questões relacionadas ao endividamento da Evergrande e as medidas mais prováveis do governo chinês para solucionar a crise. Falou também sobre o impacto na economia do Brasil com o provável calote da companhia asiática. 

Cláudia, que já foi correspondente em Washington e Pequim, além de autora dos livros “Os chineses” e “China, o renascimento do império”, reforçou que “é um equívoco fazer um paralelo entre o que está acontecendo na China e o que ocorreu nos EUA em 2008.”

Confira a entrevista exclusiva sobre o caso Evergrande:

Só que ela alerta — os efeitos da derrocada da companhia imobiliária não serão tão indolores assim.    

Claudia argumenta: “Em primeiro lugar, o sistema financeiro da China está menos conectado com o mundo como estavam os EUA em 2008 — e ainda estão.”

Mais: “Não há no caso chinês a profusão de derivativos, créditos podres, que havia na origem da crise financeira de 2008. Além disso, a maior parte da dívida da Evergrande é doméstica e em moeda local. Mas acho que a maior diferença é que a crise da Evergrande não é uma surpresa. A situação de endividamento e falta de liquidez da empresa são temas discutidos há meses. O governo chinês sabe o que está acontecendo e está monitorando. Tenho certeza de que estão trabalhando para um solução para o endividamento”.

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Trevisan comenta ainda como a regulamentação que o governo chinês impôs no mercado imobiliário em 2020 tem parcela de responsabilidade na situação atual. Durante a própria crise de 2008, a Evergrande e o setor em geral foram beneficiados com crédito farto e obras em infraestrutura em todo país, que alavancaram a economia.

No entanto, o governo asiático percebeu que o investimento era insustentável a longo prazo. A especulação mobiliária é especialmente alta na China, o que vai contra a política do partido de combater a desigualdade. 

“Então Pequim estabeleceu um aperto regulatório no setor, que se enquadra num contexto maior de mudança de prioridade da economia chinesa”, diz Claudia.

“Isso se explica pelo fato de o governo do país ter fonte de crescimento sustentável a longo prazo, dispor de menos recursos direcionados ao setor imobiliário e precisar reduzir especulação para que haja imóveis com preços acessíveis. Pequim quer que mais recursos sejam canalizados para o setor de manufatura e tecnologia.”

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Apesar do quadro de incerteza em relação ao desfecho do caso Evergrande, a especialista frisou que a atual situação pode não ter desdobramentos que vão incluir falências, quedas recorrentes de ativos em bolsas de valores e insolvência de bancos, como ocorreu em 2008.

Evergrande e o impacto nas exportações no Brasil

Mas, prevê Cláudia, certamente o mercado sentirá impactos. “Não só deve desacelerar o mercado imobiliário da China, que hoje corresponde a 20% do PIB do país, como também afetará diretamente o Brasil, uma vez que o país asiático é comprador de 7 dos 10 maiores produtos de exportação brasileiros, como a soja, petróleo, carne de frango e bovina, e em especial o minério de ferro, que tem relação muito grande com a construção e obras de estrutura.

Um resgate da empresa por parte do governo não está entre a consequência esperada da crise. Para a especialista, o governo deve intervir em “um processo administrado de queda da empresa”, um misto de estatização, liquidação de ativos, desmembramento da empresa e reestruturação da dívida.

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“O governo está caminhando numa linha muito tênue; não pode flexibilizar demais, mas também não pode endurecer a ponto de aumentar uma crise no setor. Muito importante ter em mente que a prioridade número um do partido que governa a China é a estabilidade social, e neste momento a estabilidade é ainda mais importante, pois ainda estamos em plena fase eleitoral no país”, lembra Trevisan, sobre o caso Evergrande.

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Bruno Galvão

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