Elevação da Selic enuncia BC atento à “assimetria” da inflação

O Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou na noite desta Super Quarta um aumento de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), em tom hawkish, atento ao cenário base para a inflação e a fatores de risco. Agentes do mercado receberam de forma positiva a decisão, ressaltando o afastamento de uma cultura de inércia.

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Em comunicado, os membros do colegiado disseram que não enxergam mais a necessidade de um grau de estímulo extraordinário, ao mesmo tempo em que vigiam as projeções de inflação subindo para níveis próximos ao limite superior da meta em 2021. Como resultado, o Copom decidiu elevar a taxa Selic de seu piso histórico, de 2,00% ao ano, para 2,75% ao ano.

Mas não só isso. Os integrantes do comitê ainda contrataram um novo ajuste na mesma magnitude já na próxima reunião, sinalizando um ciclo de altas mais empinado do que o previsto.

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A autoridade monetária salientou ainda que o risco fiscal do Brasil segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte.

“O Banco Central admite nas entrelinhas do comunicado que ele errou a mão nas suas leituras em relação a inflação e que efetivamente a puxada de preços por conta de câmbio e commodities é algo a ser preocupante no horizonte de médio e longo prazo e que agora está mais atento e deve tentar corrigir essa assimetria”, avaliou Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.

BC vai com o mercado

Divulgado na última segunda-feira (15), antes da primeira reunião do Copom, o Boletim Focus desta semana revisou para cima a expectativa para a inflação em 2021, de 3,98% para 4,60%, nível acima do centro da meta, de 3,75%.

O relatório também subiu a projeção para a taxa Selic, com uma estimativa agora de 4,50% ao ano, ante previsão anterior de 4,00% ao ano.

Na análise de Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, o aumento na base de 0,75 ponto percentual foi uma sinalização importante do Banco Central para o mercado de que é preciso conter a pressão inflacionária.

“Sabe-se que há uma inércia e uma cultura inflacionária dentro do Brasil que tem de ser controladas de imediato e que a taxa de juros estava muito baixa”, declarou a especialista. “Mais que isso: a questão da atividade econômica, a frustração com o crescimento, a questão da pandemia, são muito mais um trabalho do fiscal do que da política monetária.”

Em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil encolheu 4,1% em comparação com 2019, a pior queda desde o início da série histórica iniciada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1996.

O cenário negativo, contudo, não se restringe apenas à situação econômica. Sem reformas à vista e com um aumento considerável nos gastos públicos, o Brasil tem se endividado tal qual países desenvolvidos.

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“Nosso endividamento, que já estava alto, ficou ainda maior”, reforçou Marcos De Callis, estrategista da Hieron Patrimônio Familiar e Investimento. “As perspectivas futuras não são boas.”

E o mercado respondeu a isso com uma abertura da curva de juros longa, em um “círculo vicioso” de taxa livre de risco, câmbio e inflação. A incerteza quanto ao futuro do Brasil e um real depreciado, em meio a um boom das commodities, levaram a um aumento dos preços no País. Isso, por sua vez, agrava ainda mais o primeiro cenário.

“O Comitê de Política Monetária do Banco Central elevou a Selic de 2,00% para 2,75%, atendendo a uma demanda forte do mercado de que a política de correção do juros em um patamar mais normal para a atual conjuntura deveria começar de uma forma mais agressiva, mais intensa”, observou Nicola Tingas, economista-chefe da ACREFi.

Para onde vai a Selic?

Na carta de hoje, a autoridade monetária indicou a intenção elevar novamente a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual na próxima reunião, chegando a 3,50% ao ano, salvo aconteça uma “mudança significativa nas projeções de inflação ou no balanço de riscos.”

Mas a dúvida que paira sobre os investidores é: até onde o BC vai com esse ciclo de altas?

No cenário-base, o Banco Central espera uma taxa Selic chegando a 4,5% ao ano em 2021 e subindo para 5,5% ao ano em 2022.

“Mas isso não é garantia de nada”, destacou Tingas. “Eles apenas estão tentando explicitar que vão no ritmo, como disseram, moderado. Vão, digamos assim, com parcimônia, olhando os acontecimentos, a evolução dos acontecimentos.”

O Copom elevou a taxa básica de juros, trazendo sinalizações ao mercado, e independentemente do futuro da Selic, os especialistas concordam em uma coisa: o BC não deve parar por aí. O ciclo de altas começou.

(Colaborou Rafaela La Regina)

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Arthur Guimarães

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