Dólar: Após ‘mãozinha do BC’, entenda o que acontece com o câmbio

Nos últimos pregões o dólar passou a operar no seu patamar mais alto desde outubro do ano passado, chegando a negociar a R$ 5,06 – patamar que fica consideravelmente acima dos R$ 4,95 projetados pelo consenso do mercado financeiro para este ano.

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Nesse cenário, com a cotação do dólar subindo, o Banco Central chegou a realizar um “swap cambial” no dia 2 de abril – operação que consiste na venda do dólar no mercado futuro sem envolver reservas da moeda.

A intervenção foi a primeira deste governo, e a data do resgate desses títulos está prevista para 15 de abril.

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, comenta que rali do dólar “já era esperado”.

“A gente tinha uma faixa de R$ 4,95 a pouco mais de R$ 5, e o principal fator que tem gerado essa movimentação são as dúvidas em torno do início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos. Estão sendo divulgados diversos dados de inflação, CPI, OPCM, mercado de trabalho, pedidos de auxílio de desemprego, atividade econômica que ainda não foram suficientes para que o banco central norte-americano tivesse segurança de iniciar ou sinalizar um corte de juros”, explica.

“Muitas vezes o mercado de trabalho se mostra aquecido de um lado, por outro apresenta dados mais favoráveis como o aumento de taxa de desemprego, atividade econômica. Alguns estão vindo melhor do que esperado, então ainda uma incerteza de como está se evoluindo a economia norte-americana para o Banco Central ali já sinalizar qualquer tipo de mudança na sua política monetária“, comenta.

Ou seja, essa incerteza é o que tem contaminado as taxas de juros e também a taxa de câmbio, sendo o principal driver para a variação do dólar nas últimas semanas;

Sung aponta que o fiscal também pesa na cotação da moeda, além de declarações do governo sobre as estatais – como os ruídos recentes sobre a troca de CEO da Petrobras (PETR4).

“Este rali da moeda verde reflete uma conjunção de fatores, desde a hesitação do Federal Reserve em cortar as taxas de juros diante de um cenário de inflação resiliente, até a percepção de risco fiscal em economias emergentes como o Brasil. As especulações sobre a política fiscal do novo governo Lula e as incertezas geopolíticas globais adicionam camadas de complexidade, alimentando o apetite por segurança que historicamente beneficia o dólar”, acrescenta também André Colares, CEO da Smart House Investments.

Analistas do BTG, da mesma forma, destacam que desde o início do ano os números divulgados dão margem para que os EUA se mantenham restritivos quanto ao dólar – o que favorece a valorização da moeda americana.

“A segunda metade de janeiro e o mês de fevereiro foram marcados pela divulgação de dados de atividade, inflação e mercado de trabalho que vieram mais fortes do que o esperado, o que deu suporte para a postura mais hawkish do Fed que vem se configurando no período”, apontam Álvaro Frasson, Arthur Mota e Victor Esteves.

“De maneira responsiva, o mercado ajustou suas expectativas para o início do ciclo de cortes de juros de março para junho. Além disso, apesar deste cenário de juros mais altos por mais tempo corroborar para uma aversão a ativos de risco, as principais bolsas norte-americana tiveram ótimo desempenho em decorrência das teses voltadas a tecnologia e AI, que se confirmaram recentemente nos resultados divulgados pelos principais players deste mercado”, completam.

Projeções para o dólar em 2024

Sung, economista-chefe da Suno, destaca que a projeção da casa é de uma taxa de câmbio no final do ano em R$ 4,88. O especialista destaca que enxerga uma valorização a partir do momento que haverá mais clareza sobre o cenário externo e cenário norte-americano.

“E aí a gente deve ter uma leve pressão no final do ano muito por causa de eleições presidenciais [dos EUA]. As municipais aqui podem contaminar, mas acho que o mais importante são as eleições presidenciais nos Estados Unidos, que deve fortalecer um pouquinho o dólar no final do ano”, aponta

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“E ressalto que não só uma clareza em relação ao setor externo no meio do ano, mas essa balança comercial bastante positiva tem ajudado a atrair dólares aqui para o Brasil. A tendência é de que a gente continue com o avanço comercial favorável ao longo do ano. Isso ajuda a tirar uma certa pressão e contribua para esse movimento de valorização, que deve ocorrer pelo menos até o fim do terceiro trimestre”, completa

Os especialistas do BTG Pactual projetam um cenário relativamente análogo, com um dólar fechando o ano a R$ 4,85.

“Desde meados de janeiro, o dólar vem apresentando ganho de força no mundo. O gráfico BRLUSD x DXY ilustra esse cenário, tendo em vista o ambiente de maior aversão ao risco a partir do posicionamento mais hawkish do Fed”, diz a casa.

“De maneira complementar, o gráfico BRLUSD x CDS Brazil 10y reflete bem a melhora do cenário fiscal no curto prazo, fato que pode ter ajudado a segurar a moeda, que não desvalorizou tanto quanto o DXY. Por sua vez, o índice de commodities, apesar de historicamente apresentar uma correlação positiva com o real, não é o que tem se conferido no curto prazo”, completa.

Os especialistas acrescentam que esse panorama pode ser atrelado ao atual momento do minério de ferro, uma das principais commodities exportadas pelo país e tem sofrido desvalorizações.

Foto: Divulgação/BTG Pactual
Foto: Divulgação/BTG Pactual

Câmbio a R$ 5 somente em 2025?

Conforme dados da edição mais recente do Boletim Focus, divulgada no dia 2 de abril, as expectativas do consenso de mercado são de um câmbio de R$ 4,95 para o fim deste ano.

Já para 2025, a expectativa do dólar é maior, de R$ 5, sendo elevada para R$ 5,04 e R$ 5,07 para os dois anos seguintes.

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Eduardo Vargas

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