Dólar recua 0,31% com sinais de acordo em negociações entre Rússia e Ucrânia

Após uma tarde instável, com troca de sinais, o dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 29, em leve baixa, na casa de R$ 4,75. Analistas identificaram forças opostas na formação da taxa de câmbio no mercado doméstico. A queda da moeda norte-americana no exterior em dia de apetite ao risco, na esteira de sinais de avanço nas negociações de paz entre Rússia e Ucrânia, jogavam o dólar para baixo por aqui. Na contramão, a perda de fôlego das commodities, aliada a movimentos de rebalanceamento e realização de lucros típicos de fim de mês, limitavam o fôlego do real.

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Em meio a esse jogo de forças, o dólar hoje acabou encerrando o dia cotado a R$ 4,7578, em baixa de 0,31%. No mês, perde 7,72%. A divisa fechou em queda em nove dos últimos dez pregões, saindo do patamar de R$ 5,15 para operar abaixo de R$ 4,80. Para se ter uma ideia da magnitude do ajuste da taxa de câmbio, as perdas em março respondem por cerca de metade da queda acumulada em 2022 (14,67%).

“O real tem sido visto como um porto seguro, por causa da narrativa das commodities, mas elas estão caindo hoje com essas notícias positivas sobre as negociações para terminar a guerra”, afirma o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig. “Pode haver também um rebalanceamento de fundos estrangeiros no fim do mês, com tomada de lucros, já que o real foi a moeda que mais se valorizou. Eles reduzem as posições um pouco agora e voltam para o jogo depois”.

Autoridades russas e ucranianas deram acenos de que as negociações de paz progrediram em encontro em Istambul, na Turquia. Ucrânia teria concordado em assumir uma postura neutra no jogo geopolítico, comprometendo-se a não admitir bases militares estrangeiros em seu território. Representante russo disse que as conversas foram “construtivas” e informou que o país estava reduzindo atividades militares nos arredores de Kiev, a capital ucraniana. Pela tarde, a Casa Branca disse não acreditar em mudança de estratégia por parte da Rússia, que, em vez de retirar forças da Ucrânia, estaria apenas reagrupando tropas.

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No exterior, a divisa americana perdeu força em relação a praticamente todas as moedas de países emergentes, com queda de cerca de 1% frente a pares do real como o peso mexicano e o rand sul-africano. O índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – trabalhou com sinal negativo ao longo do dia, abaixo do patamar de 98,500 pontos.

Por aqui, depois de furar as barreiras de R$ 4,80 e R$ 4,75, o dólar agora busca uma acomodação e parece sem espaço para se situar abaixo de R$ 4,70 no curto prazo, dizem operadores. Na mínima do dia, registrada no início da sessão, a divisa desceu até R$ 4,7177. A máxima, no meio da tarde, foi de R$ 4,7848.

Em todo caso, o pano de fundo favorável ao real permanece. A perspectiva é de que as cotações das commodities permaneçam em patamares elevados mesmo com eventual fim do conflito no leste europeu. O diferencial entre juros interno e externo, que atrai capitais para operações de carry trade, continuará elevado, a despeito da possibilidade de o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) acelerar o ritmo de alta dos juros.

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Dirigentes do BC norte-americano trouxeram mensagens distintas. O presidente do Fed da Filadélfia, Patrick Harker, disse que é preciso cautela para não aumentar os juros além do necessário. Harker não se comprometeu com uma alta de 0,50 ponto dos Fed Funds em maio, mas também não descartou essa possibilidade. Já o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, que advoga um ajuste monetário mais intenso, com elevação da taxa para 3% até o fim do ano. Ele também afirmou que é hora de implementar um plano para reduzir rapidamente o tamanho do balanço patrimonial do BC americano, o que, na prática, significa tirar dinheiro do sistema.

Para Jolig, da Alphatree, o “grosso” do movimento de queda do dólar por aqui já passou, mas ainda há espaço para uma apreciação adicional da moeda brasileira, em torno de 5%. Além do apetite externo pelos juros domésticos, o gestor observa que investidores brasileiros, que correram para ativos estrangeiros no ano passado, agora retornam ao mercado local. “Para o dólar voltar a subir com força, é preciso uma surpresa interna muito negativa ou o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) carregar na mão”, diz Jolig, ressaltando que, com o nível da taxa de juros doméstica, o mercado aguenta “muito desaforo”.

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O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, observa que, enquanto o juro real de 1 ano no Brasil está em torno de 6,6%, a taxa real equivalente nos EUA é de -4,50%. Além da melhora dos termos de troca, com alta das commodities, essa diferença de 11,1 pontos porcentuais entre taxas interna e externa “também ajuda a explicar a valorização recente do real”. Oliveira reduziu a estimativa para o dólar no fim do ano de R$ 5,50 para R$ 5,00. Mesmo com a alta recente, a moeda brasileira, diz o economista, continua depreciada em termos reais.

Com informações do Estadão Conteúdo

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Redação Suno Notícias

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