Dólar sobe e fecha acima de R$ 5, com exterior negativo após Fed e tensão política no Brasil

O dólar fechou acima de R$ 5, nesta sexta (17), após conjunção de fatores externos negativos para moedas emergentes e com um ambiente doméstico politicamente tenso que deu o tom dos ativos hoje. Lá fora, a moeda está fortalecida, escalando 2,35% sobre o real, a R$ 5,1443, formando uma sequência de respostas ruins para o Brasil: uma alta de 3,12% na semana e de 8,24% apenas no mês.

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Com uma perspectiva de aperto monetário duro nos Estados Unidos e sinais da China que esfriaram as commodities, o dia foi de dólar fortalecido globalmente, tanto ante emergentes quanto frente a moedas fortes. Tanto que o índice DXY – que mede o ímpeto do dólar ante seus pares – trabalhava hoje acima dos 104,000 pontos. Aqui, o impacto foi sentido com mais força sobre o real em ajuste aos movimentos de ontem do mercado – feriado no Brasil – e também pelo clima de tensão política interno criado após o anúncio de reajuste nos combustíveis pela Petrobras, à revelia do Palácio do Planalto.

“Hoje os fatores externos estão pegando mais no câmbio. Começou que, ontem, como não teve mercado no Brasil, acabou não precificando a subida do dólar proveniente da alta de juros nos Estados Unidos. Hoje, somamos dois dias ruins num dia só”, aponta o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. Na quarta-feira, o Federal Reserve (Fed) endureceu o tom e subiu a taxa de juros em 75 pontos-base, num ritmo não visto em décadas. De lá pra cá, recados do presidente da instituição e de diretores fizeram crescer as apostas de que o aperto deve seguir agressivo.

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Velloni observa que as moedas ligadas às exportações de commodities perderam com ímpeto extra hoje, após incertezas sobre a produção industrial chinesa. Com o preço do aço caindo, as usinas tentam cortar a produção para ajustar a oferta em relação à demanda, que está fraca, e geram preocupação extra aos exportadores de matéria-prima, como o Brasil. Hoje, o minério de ferro negociado no porto de Qingdao fechou em queda superior a 5%, no menor nível desde dezembro de 2021. Dia ruim também para o petróleo, com o barril do Brent em queda em torno de 6%.

Assim, uma aposta no ciclo aquecido de commodities que vinha descolando a moeda brasileira das tensões externas nos últimos meses perdeu ímpeto com força nos últimos dias. “O Brasil deixa de ser a ‘carruagem’ das commodities e vira ‘abóbora'”, completa Velloni.

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O azedume externo não foi ajudado pelo cenário doméstico. O anúncio de reajuste nos combustíveis pela Petrobras, acompanhando a política de paridade com os preços internacionais, botou mais lenha na fogueira política em torno do assunto. O assunto suscitou reações fortes do presidente Jair Bolsonaro e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, com pressões adicionais para que o já demitido presidente da estatal, José Mauro Coelho, deixe o cargo de fato. A ideia do Palácio do Planalto é emplacar Caio Paes de Andrade, ex-secretário de Paulo Guedes, no comando da empresa na semana que vem.

O ruído político a meses da eleição adiciona incerteza ao cenário interno, tanto em relação a uma interferência mais contundente na estatal, quanto de medidas com fins políticos que afetem as contas públicas negativamente.

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Contando os fatores externos e internos negativos para os papéis brasileiros, o dia foi de saída massiva da Bolsa brasileira, o que também ajuda a explicar a perda do real.

“A Bolsa está tendo realização grande, dando sinal de que fluxo de curto prazo é de saída. Isso pressiona a taxa de câmbio e deixa o real em nível mais depreciado, o que é normal de se esperar, considerando o comportamento do dólar lá fora. A gente teve alguns ruídos políticos, decisão da Petrobras sobre reajuste de combustíveis e a reação do governo gera sempre uma incerteza, o que coloca um prêmio na taxa de câmbio”, aponta Luciano Costa sobre o dólar, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos.

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Com informações do Estadão Conteúdo

Ana Carolina Cury

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