Dólar acima de R$ 5,25: o que está acontecendo? Especialistas analisam

Depois da disparada da véspera, o dólar acordou inspirado nesta terça-feira (16) e não parou mais de subir. Por volta das 11h30 (de Brasília), a moeda alcançava níveis acima de R$ 5,20, beirando os R$ 5,28 no mercado à vista.

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A disparada no câmbio hoje acontece em meio à tensão do conflito do Oriente Médio e maior pressão nas economias associadas às commodities, dados negativos do PIB da China e à reação do mercado à meta fiscal brasileira.

“Em períodos de turbulência global, o dinheiro migra para a economia mais segura do mundo, a norte-americana. Isso provoca a valorização do dólar sobre todas as moedas, inclusive o real, que é uma economia emergente e com maior risco, pelo ponto de vista do investidor”, diz Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital.

Conflitos no Oriente Médio pressionam o dólar

“Os riscos envolvendo o conflito no Oriente Médio ainda estão gerando preocupações entre os investidores. A incerteza em torno de uma possível resposta à última ofensiva pode afetar os preços das commodities, como o barril do petróleo, potencialmente aumentando a inflação e impactando as perspectivas de juros a nível global”, explica Diego Costa, head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T Câmbio.

Dados de varejo nos EUA

“Os dados de varejo nos Estados Unidos vieram mais fortes do que o esperado, sinalizando que a economia norte-americana segue resiliente. Isso pode, de certa forma, a levar o Federal Reserve (o banco central dos EUA) a manter a taxa de juros no atual patamar por mais tempo que o imaginado. Vamos continuar observando os próximos dados antes de alterarmos a nossa projeção de início de queda em junho de 2024″, comenta o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung.

“A alta do câmbio acompanha a nova onda de valorização dos juros dos Treasuries (Tesouro dos EUA) de longo prazo, uma vez que os dados do varejo dos EUA sugerem uma postura ‘mais dura’ por parte do Fed para conter a inflação”, afirma Vasconcellos.

O especialista defende que, em momentos de tensão geopolítica, os investidores “correm para ativos mais seguros (como ouro e títulos dos Estados Unidos)”, o que prejudica mercados emergentes como o brasileiro.

“Além de mexer com o preço do petróleo, o ambiente de incertezas geopolíticas também impacta na cotação do dólar, que é considerada a moeda mais segura do mundo”, diz Vasconcellos.

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Meta fiscal de 2025 derruba real ante dólar

Outro ponto destacado por Sung, é a mudança da meta fiscal de 2025 pelo governo brasileiro que na visão do economista-chefe é uma mensagem ruim sobre as perspectivas econômicas no país.

Costa concorda: “A falta de definições claras sobre os rumos geopolíticos e fiscais do Brasil está impedindo uma recuperação mais robusta da moeda nacional. É importante observar que, apesar da alta do dólar hoje, esse comportamento não está sendo refletido globalmente, sendo impulsionado principalmente por fatores domésticos e especulações.”

PIB da China impacta moeda

Segundo Costa, o destaque desta manhã foi a reação positiva ao crescimento do PIB chinês, que expandiu 5,3% no primeiro trimestre deste ano. O dado superou as projeções do mercado, de acordo com o especialista, e alimentou as esperanças de uma recuperação econômica na China.

“Por outro lado, ainda no gigante asiático, tanto a produção industrial quanto as vendas no varejo ficaram consideravelmente aquém do esperado”, comenta Costa.

Luiz Felipe Bazzo, CEO do Transferbank, ainda destaca que nesta terça-feira (16), o dólar atingiu o seu pico em cinco meses em relação à libra esterlina e ao euro.

“Isso ocorreu um dia após a divulgação de dados de vendas no varejo dos Estados Unidos, os quais superaram as expectativas, impulsionando os rendimentos dos Treasuries e aumentando as preocupações sobre uma possível intervenção por parte de Tóquio, especialmente porque o iene continua em seu nível mais baixo desde 1990”, pontua o executivo.

Em suma, Costa aponta que a combinação das tensões no Oriente Médio, com potenciais impactos inflacionários e a perspectiva de juros globais elevados por um período prolongado, somados à mudança na meta fiscal do Brasil, está intensificando a fuga de capital dos mercados emergentes em busca de ativos mais seguros, como ouro e dólar.

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Camila Paim

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