Dois setores “esquecidos” voltam ao radar das gestoras de fundos; confira

A desaceleração da inflação e os sinais de que o Banco Central pode retomar o ciclo de corte de juros até o fim de 2025 têm levado as gestoras a reequilibrar seus fundos de investimentos, com um novo olhar para empresas mais expostas à economia local.

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Com o juro real ainda elevado, mas em rota de queda, setores historicamente sensíveis ao ciclo doméstico — como varejo, construção civil e educação — voltam a ganhar espaço na alocação de recursos. Esse movimento é impulsionado por uma visão mais construtiva sobre o cenário interno, ainda que permeada por cautela.

Analistas apontam que, mesmo sem a resolução completa da questão fiscal, o ambiente se tornou mais favorável para ativos brasileiros, especialmente os ligados ao consumo, que podem se beneficiar de uma recuperação gradual da renda e do crédito.

Os balanços do primeiro trimestre de empresas desses setores reforçaram esse diagnóstico. Houve melhora operacional em companhias de varejo e construção civil, com aumento de vendas, margens mais estáveis e queda de endividamento.

Isso tem favorecido a volta de capital para segmentos mais cíclicos da economia, com expectativas de que a retomada do crescimento, ainda que modesta, traga retorno acima da média em ativos selecionados.

Fundos de ações: gestores focam agora em opções domésticas de qualidade

Na Fator, Isabel Lemos, gestora de renda variável, explica que a casa começou o ano com foco em empresas de fundamentos sólidos, mas com atenção especial à assimetria de preços em alguns setores voltados ao mercado interno. “Um exemplo foi o setor imobiliário voltado à baixa renda, com empresas apoiadas pelo programa Minha Casa Minha Vida (MCMV). Os dados do setor mostravam uma demanda consistente, o que justificou a manutenção de nossa exposição.”

Isabel relata que as maiores contribuições para o desempenho vieram de companhias geradoras de caixa nos setores de energia elétrica, telecomunicações e bancos. Ainda assim, papéis ligados ao consumo também começaram a se destacar. “O setor de consumo também se destaca como opcionalidade para uma melhora da bolsa, dada a sensibilidade à taxa de juros. Mas é importante a seleção das ações”, afirma.

João Mamede, analista sênior de renda variável da AZ Quest, confirma essa reorientação parcial da estratégia. “A gente comprou um kit doméstico mais recentemente. Alocamos um pouco mais em varejo e reforçamos construção civil, que tendem a se beneficiar de um cenário mais positivo com a queda dos juros.”

Mamede ressalta que, mesmo com esse ajuste, a carteira permanece equilibrada entre ações defensivas e cíclicas, e que o foco segue sendo qualidade: “A gente não comprou beta por comprar beta. Compramos empresas com fundamento sólido, boa gestão e geração de caixa.”

O analista também aponta que o cenário fiscal e a inflação ainda exigem atenção. Por isso, a estratégia não é de euforia, mas de calibragem gradual. “Estamos mais cautelosamente otimistas com a Bolsa”, resume.

Diante desse novo posicionamento, varejo, construção civil, bancos e energia elétrica voltam a compor as principais apostas. Para as gestoras de fundos, o cenário atual abre espaço para a retomada do risco doméstico — desde que ancorado por critérios rigorosos de seleção.

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Maíra Telles

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