Juros podem cair, mas o corte na Selic será de quanto? Veja expectativas para o Copom

Após manutenções sucessivas da taxa básica de juros, a Selic, o mercado reúne grandes expectativas para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve ter seu resultado divulgado na quarta-feira (2) após as 18h30.

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É praticamente consensual que esta reunião resulte em um corte da Selic, contudo há divergências da magnitude da queda.

Na curva de juros, os dados mostram um mercado precificando um corte maior, de 50 pontos base. Apesar disso, uma pesquisa da última sexta-feira (28), do Broadcast, mostrou que 70% (62 de 88) das instituições consultadas esperam queda de 0,25 ponto porcentual (p.p.).

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, destaca que as expectativas da casa são de 0,25 p.p. de corte, levando a Selic para 13,50%.

“Em reuniões anteriores, acreditamos que não havia condições suficientes para que o Banco Central (BC) começasse a cortar a taxa de juros. Ao longo dos últimos meses, algumas incertezas foram dissipadas e a inflação deu sinais de arrefecimento. Atualmente, o cenário inflacionário é benigno para uma mudança na política monetária”, destaca.

“Os preços dos bens industriais, alimentos e, principalmente, serviços também estão arrefecendo. Este último é bastante monitorado pelo BC. Pelo último IPCA-15, tanto serviços quanto serviços subjacentes caíram na variação mensal e no acumulado dos últimos 12 meses – por exemplo, o segundo foi 6,8% em maio para 6,5% em junho e, agora, está em 5,9%.”, segue.

Os especialistas da Daycoval Asset, da mesma forma, projetam um corte de 0,25 p.p., também destacando um ambiente macroeconômico mais favorável.

Além disso, especialistas da casa apontam uma agenda política que tem despressurizado as discussões futuras e contribuído positivamente para um corte nesta reunião do Copom.

“O Brasil avançou na aprovação da Reforma Tributária e no arcabouço fiscal, o que reduz a percepção de risco. A inflação corrente tem vindo comportada, ainda que centrada em itens voláteis, mas também é possível verificar algum arrefecimento da inflação mais persistente, o que deve se intensificar a frente”, explica Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset.

O especialista ainda destaca que, mesmo que o brasileiro já tenha sentido o arrefecimento da inflação, é o BC quem tende a ter cautela com o ajuste de juros, e portanto determinar corte da taxa em 0,25p.p.

Já a Warren Rena cita a meta de inflação como um dos pontos cruciais para firmar sua estimativa, que também é de 0,25 p.p. de corte na taxa de juros.

“A decisão do CMN em manter a meta em 3,0% foi fundamental para diminuir a desancoragem das expectativas longas, que representa um dos pontos de maior desconforto para o Copom. Enquanto, no período anterior à reunião de junho, as medianas para 2025 e 2026 tinham recuado 20 bps (de 4,0% para 3,8%), agora observou-se declínio adicional de 30 bps (para 3,5%)”, aponta Sérgio Goldenstein, Estrategista-chefe da casa.

“A propósito, a ata de junho havia avaliado que “decisões que reancorem as expectativas podem levar a uma desinflação mais célere”. No entanto, vale assinalar uma maior rigidez nas últimas semanas, com as expectativas ainda apresentando um desvio em relação à meta, de 89 bps para 2024 e de 50 bps para 2025 e 2026”, completa.

O que diz quem estima 0,50 p.p. de corte na Selic?

Especialistas da Acqua Vero, escritório de Agente Autônomo de Investimentos (AAI) vinculado ao BTG, projetam um corte maior, de 50 pontos base.

Os analistas da casa enxergam uma toada positiva com os indicadores de inflação e citam dados de emprego ao projetaram o cenário.

“A deflação verificada pelo IPCA-15 de julho somada à melhora qualitativa, caracterizada pela desaceleração da inflação de serviços, sobretudo subjacentes, denota a continuidade do notório processo desinflacionário em curso”, destaca Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero.

“Por outro lado, a resiliência da atividade impõe cautela. Segundo a PNAD, a taxa de desemprego recuou para 8,0% em junho, concomitantemente ao avanço da taxa de participação. Ou seja, a despeito da maior força de trabalho, menos pessoas estão desempregadas”, completa

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A tese é de que de um lado os índices de preços corroboram a queda da Selic, mas de outro os indicadores ainda ‘sugerem a necessidade da parcimônia’.

O superintendente da assessoria econômica da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Everton Pinheiro de Souza Gonçalves, também destaca que as projeções da casa são de 0,50 p.p. de corte nesta reunião.

O especialista aponta que a meta da inflação foi vista com bons olhos e que os ratings recentes da economia tem aberto caminho para uma flexibilização de juros.

“A decisão do CMN em manter a meta de inflação para os próximos anos em 3,0% ajudou a impulsionar o processo de reancoragem das expectativas”, afirma.

“A percepção de um cenário fiscal mais benigno foi compartilhada pela recente elevação da classificação do risco soberano pela agência Fitch”, completa.

Analistas divididos em relação ao corte dos juros

Rodrigo Azevedo, economista, planejador financeiro e sócio-fundador da GT Capital, analisa: “A minha expectativa é de um corte inicial de 0,25% para dar início a esse ciclo de queda de juros e aí depois sim possivelmente dentro deste 2023 haverá ainda pelo menos mais dois cortes na casa de 0,50%”.

Ele explica: “Dentro do último comunicado do Copom, ficou muito claro que existia uma divergência dentro do próprio comitê entre um grupo mais conservador, que defendia ainda a manutenção da taxa de juros nos patamares atuais para tomar uma medida mais cautelosa, e um outro grupo que já acreditava, sim, que é o momento de iniciar essa inflexão da taxa de juros. Então, dado esse cenário que foi passado dentro da ata do Copom, acredito que esse corte deve ficar na casa de 0,25%.”

Ana Paula Carvalho, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital, acha que o corte será maior: “Depois do último dado do IPCA-15, que apresentou uma deflação de -0,07%, acredito que o Banco Central pode reduzir a taxa Selic em 0,50%, visto que a inflação tem mostrado uma melhora qualitativa, com a redução dos preços de energia e alimentos. Além disso, de acordo com o boletim Focus desta semana, os economistas ouvidos veem uma melhora nas projeções para inflação, com expectativa de redução tanto para este ano como para o próximo.”

Andre Fernandes, especialista em mercado de capitais e sócio da A7 Capital, complementa: “Nossa expectativa, com os dados que saíram recentemente como o IPCA-15. O índice ainda não está refletindo a queda nos preços dos automóveis novos, juntamente com uma melhora nos núcleos de inflação. O IGP-M, que veio levemente abaixo do esperado também, e um discurso mais dovish por parte do Fed. O mercado está interpretando que não devem vir novas altas na taxa básica de juros americana.” Mais: “Com a taxa de câmbio nessa faixa dos R$ 4,70-R$ 4,75, o Banco Central tem espaço para cortar -0,50% na taxa Selic, e já vemos essas apostas crescendo na curva de juros, com o mercado colocando 70% de probabilidade de corte de -0,50% na próxima reunião. Portanto, acreditamos que o Banco Central deva vir sim com um corte mais agressivo na Selic.”

O que esperar dos juros até o fim do ano

A projeção da Suno Research é de que a taxa básica de juros termine o ano de 12%, ao passo que a projeção terminal para 2024 é de 9,75%.

“Para o segundo semestre, o cenário segue benigno para o BC pois há menos pressões altistas que possam levar a um descontrole da inflação. Do lado positivo, destacamos a taxa de câmbio abaixo de R$ 5,00, um menor repasse dos custos dos produtores para os consumidores e a desaceleração da atividade econômica”, aponta Sung, economista-chefe da casa.

O consenso do mercado financeiro mira, da mesma forma, 12% de Selic ao fim de 2023, conforme dados do último Boletim Focus. A projeção em questão vem sendo mantida há quatro semanas consecutivas.

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Eduardo Vargas

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