Copom eleva taxa Selic para 11,75% e prevê nova alta; entenda por quê

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciou nesta quarta (16) o aumento da taxa Selic de 10,75% para 11,75%. O avanço de 1 ponto percentual, no segundo encontro do comitê do BC em 2022, era esperado pelo mercado. Foi a nona elevação seguida da taxa de juros. É o maior patamar desde abril de 2017, quando a Selic chegou a 11,25%. O comitê prevê novo aumento na próxima reunião, no início de maio.

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A decisão do Copom foi tomada para tentar conter o avanço da inflação. Projeção do mercado financeiro, divulgada pelo Banco Central na segunda-feira (14), estima que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2022 deverá ser de 6,45% – maior do que a da semana passada, quando a taxa da inflação estimada era de 5,65%. Foi a 9ª semana consecutiva de alta de projeção da inflação.

“O Copom avalia que o momento exige serenidade para avaliação da extensão e duração dos atuais choques”, diz o comunicado. “Caso esses se provem mais persistentes ou maiores que o antecipado, o Comitê estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”

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Mesmo com mais um choque de preços no País gerado pela guerra na Ucrânia e um novo descumprimento da meta de inflação no radar, o Copom reduziu o ritmo de alta taxa básica de juros. Nas últimas três reuniões, o BC havia elevado a Selic em 1,50 ponto porcentual.
Para o encontro dos dias 3 e 4 de maio, o BC sinalizou um novo aumento de 1,00 p.p. na Selic, para 12,75%.. O comitê previa inflação de 5,4% para 2022 na última reunião. Reajustou a projeção para 7,1%, estourando (e muito) o teto. “As projeções de inflação do Copom situam-se em 7,1% para 2022 e 3,4% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 12,75% em 2022 e reduz-se para 8,75% a.a. em 2023″, acrescenta o comunicado.
O risco fiscal mantém elevado o risco de desancoragem das expectativas, afirma ainda o Copom. O colegiado voltou a destacar o bom desempenho recente das contas públicas, mas manteve a avaliação de que essas dúvidas em relação ao arcabouço fiscal seguem resultando em uma assimetria altista no balanço de riscos considerado pelo BC. “Esse risco está sendo parcialmente incorporado nas expectativas de inflação e preços de ativos utilizados nos modelos do Copom”, ponderou o comunicado.

O BC repetiu que o balanço de riscos permanece com fatores em ambas as direções. Por um lado, uma possível reversão – mesmo que parcial – nos preços das commodities em reais produziria uma inflação menor que a projetada. Por outro lado, “políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura” podem elevar os prêmios de risco.

A alta de preços segue como ponto de atenção no ano que vem: “No cenário alternativo, projeção de inflação é de 6,3% em 2022 e de 3,1% em 2023.” Esse ‘cenário alternativo’ leva em conta a alta do petróleo – hoje o barril está pouco abaixo dos US$ 100 — de 2% ao ano a partir de janeiro de 2023.

Esse quadro de incertezas considera ainda a Guerra na Ucrânia, que pode pressionar ainda mais os preços em função do avanço do preço de commodities que vão do petróleo ao trigo, além de produtos como fertilizantes: ” Conflito entre Rússia e Ucrânia levou a aperto significativo das condições financeiras. Choque de oferta por causa do conflito pode exacerbar pressão inflacionária.” O Copom estima que o barril de petróleo encerre 2022 aos US$ 100.

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Choque de juros

A decisão do Copom desta quarta-feira, a nona alta consecutiva da Selic – após a taxa chegar à mínima histórica de 2% -, resulta no acumulado de 9,75 pontos de ajuste. A última vez que houve nove aumentos seguidos (completando um ano de aperto) foi entre abril de 2013 e abril de 2014.

Mas, naquela época, o avanço foi mais modesto, de 7,25% para 11,00%, ou 3,75 pontos porcentuais, nas vésperas da campanha de reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Já o choque de juros deste ciclo já é o maior desde 1999 quando, durante a crise cambial, o BC aumentou a Selic em 20 pontos porcentuais de uma vez só.

A decisão era esperada pela maior parte do mercado financeiro: conforme pesquisa do Projeções Broadcast, 44 das 53 instituições consultadas esperavam alta da Selic de 1,00 ponto porcentual, para 11,75% ao ano. Oito apostavam em aumentos maiores, seis de 1,25 pp, a 12,00%, e dois de 1,50 pp, a 12,25%. Havia ainda uma estimativa de elevação de 0,75 pp, a 11,50%.

No Copom de fevereiro, o BC havia indicado a intenção de reduzir o ritmo de alta dos juros básicos, citando o estágio avançado do ciclo. Mas a reviravolta causada pela invasão da Ucrânia pela Rússia embaralhou o cenário, com fortes efeitos inflacionários também no Brasil, a exemplo do megarreajuste dos combustíveis.

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No Boletim Focus, a estimativa para o IPCA, índice de inflação oficial, de 2022 (6,45%) indica que a meta deste ano (3,50%, com tolerância de 2% a 5%) está praticamente perdida, após o desvio de quase 5 pontos em 2021, quando o IPCA foi de 10,06%. A projeção de 2023 (3,70%), foco principal de política monetária, também se afasta do objetivo principal do BC no ano que vem (3,25%, com banda de 1,75% a 4,75%).

O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.

Com a decisão do Copom, juro real segue nas alturas

Com os nove últimos aumentos da Selic, o Brasil se consolidou como sede de uma das maiores taxas de juros reais (descontada a inflação) do mundo. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 7,10% ao ano. O País possui o segundo juro real mais alto do mundo, considerando as 40 economias mais relevantes.

O Brasil só fica atrás da Rússia que, encurralada pelas sanções decorrentes da invasão à Ucrânia, precisou elevar sua taxa nominal de juros de 9,5% para 20% e estabelecer o controle de capitais no fim de fevereiro. A taxa real russa está em 30,07%.

Veja o comunicado completo do Copom:

“Em sua 245ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 11,75% a.a.

A atualização do cenário do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

  • No cenário externo, o ambiente se deteriorou substancialmente. O conflito entre Rússia e Ucrânia levou a um aperto significativo das condições financeiras e aumento da incerteza em torno do cenário econômico mundial. Em particular, o choque de oferta decorrente do conflito tem o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias que já vinham se acumulando tanto em economias emergentes quanto avançadas;
  • Em relação à atividade econômica brasileira, a divulgação do PIB do quarto trimestre de 2021 apontou ritmo de atividade acima do esperado;
  • A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos itens associados à inflação subjacente;
  • As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
  • As expectativas de inflação para 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 6,4% e 3,7%, respectivamente;
  • No cenário de referência, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,05*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em 7,1% para 2022 e 3,4% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 12,75% em 2022 e reduz-se para 8,75% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 9,5% para 2022 e 5,9% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2022 e dezembro de 2023; e
  • Diante da volatilidade recente e do impacto sobre as projeções de inflação de sua hipótese usual para o preço do petróleo em USD**, o Comitê decidiu adotar também, neste momento, um cenário alternativo. Nesse cenário, considerado de maior probabilidade, adota-se a premissa na qual o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado até o fim de 2022, terminando o ano em US$100/barril e passando a aumentar dois por cento ao ano a partir de janeiro de 2023. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 6,3% para 2022 e 3,1% para 2023.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo dos seus cenários.

Por outro lado, políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do país.

Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal mantém elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação, mas considera que esse risco está sendo parcialmente incorporado nas expectativas de inflação e preços de ativos utilizados em seus modelos. O Comitê segue considerando uma assimetria altista no balanço de riscos.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 11,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e, principalmente, o de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista.

A atuação do Comitê visa combater os impactos secundários do atual choque de oferta em diversas commodities, que se manifestam de maneira defasada na inflação. As atuais projeções indicam que o ciclo de juros nos cenários avaliados é suficiente para a convergência da inflação para patamar em torno da meta ao longo do horizonte relevante. O Copom avalia que o momento exige serenidade para avaliação da extensão e duração dos atuais choques. Caso esses se provem mais persistentes ou maiores que o antecipado, o Comitê estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

**Valores em torno da média dos preços do petróleo vigentes na semana anterior à reunião do Copom e 2% de variação ao ano a partir de então.

Tom do Copom: “Menos duro que o esperado”

Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, escritório credenciado da XP Investimentos, comenta: “Decisão veio em linha com a expectativa e consenso do mercado financeiro. O Comitê justificou que o conflito entre Rússia e Ucrânia levou a um aperto significativo das condições financeiras e aumento da incerteza em torno do cenário econômico mundial.”

Alves analisa: “O tom do Copom, menos duro que o esperado, não ameniza o fato de que a redução da Selic que era prevista para o segundo semestre de 2022, se consolidou apenas para 2023 como o cenário mais provável, sinalizando também novas altas, só que, a partir de então, muito em linha com o cenário da tomada de decisão, a comunicação mais assertiva pode ser o farol para as próximas tomadas de decisão de investimentos.”

O chefe da mesa de operações da Ação Brasil observa ainda: “Para a próxima reunião do Copom, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude, e caso os efeitos inflacionários continuem fortes, ele disse estar pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário. Esse discurso de controle da inflação é o mesmo pelos Bancos Centrais, declaradamente esse é o ‘inimigo comum’, e que todos querem combater para evitar a corrosão excessiva do poder de compra da população.

E complementa sobre a decisão do Copom: “A ruptura das cadeias de produção ao longo da pandemia, o conflito entre Rússia e Ucrânia, elevando bastante o preço das commodities, em especial do petróleo, mostrou para os Bancos Centrais que a inflação não seria passageira e que, sim, será necessário ter um período maior de aperto monetário, e sem parar a recuperação econômica vivida por boa parte dos países.”

João Beck, economista e sócio da BRA, analisa: “O texto passa ainda a mensagem de que não só estamos num ciclo contracionista como iremos para um ciclo ainda mais contracionista. O comunicado deixa de considerar diversos números recentes que saíram de desaceleração da indústria e de serviços e opta por dar peso ao PIB forte do quarto trimestre 2021. Ou seja, bastante rígido e cauteloso, deve ancorar bem as expectativas à frente.”

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, comenta: “Outro aspecto que me faz considerar a comunicação marginalmente hawkish do Copom, ainda que a condução tenha se mostrado em linha, foram as expectativas de inflação condicionais da autoridade. Para 2022, evidentemente que por causa do avanço do preço do petróleo, as perspectivas para o IPCA saltaram para 7,1%, enquanto 2023 ficou em 3,4%.”

Sanchez lembra: “De todo modo, a fim de não perder o teto para a Selic, a autoridade adicionou a frase ‘As atuais projeções indicam que o ciclo de juros nos cenários avaliados é suficiente para a convergência da inflação para patamar em torno da meta ao longo do horizonte relevante”. Avalio que o Copom quis sinalizar para um fim de ciclo não tão elevado, mas que o fará apenas se as condições preconizarem uma austeridade maior. Mantenho o call de outra elevação de 100bps em maio adicionada de mais uma de 50bps em junho, conduzindo a Selic para 13,25%, patamar no qual deverá permanecer até o 1T23.”

Com informações do Estadão Conteúdo

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Marco Antônio Lopes

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