Luiz Valle

Nem todo mundo é Bobby Fischer

Disciplina e autoconhecimento são essenciais para seu sucesso como investidor

No jogo de xadrez, há uma quantidade limitada de lances possíveis nas primeiras jogadas, fato que se altera radicalmente conforme o jogo avança. Cálculos estimam que o número de jogos de xadrez possíveis é maior do que a quantidade de átomos no universo observável. Enxadristas treinados costumam ter aberturas (conjunto de movimentos iniciais) preferidas, estudando todas as possíveis respostas do adversário aos lances jogados.

Robert James Fischer, campeão mundial em 1972 e um dos jogadores mais famosos da história, foi responsável por popularizar aberturas durante a segunda metade do século XX. Rapidamente, as ideias de Fischer serviram de inspiração para enxadristas pelo mundo. Afinal, os lances jogados pelos melhores do mundo não devem ser ruins, certo?

Conta-se que, ao se deparar com partidas de jogadores que tentavam emular as aberturas de Fischer, sem obter êxito semelhante, o soviético Viktor Korchnoi eventualmente comentava: “As pessoas se esquecem que nem todo mundo é Bobby Fischer”.

Bobby Fischer em ação (Crédito: Getty Images/New York Times Co.)

Diferentemente dos jogadores de xadrez (e de praticantes de esportes em geral), pessoas comuns podem ter retornos semelhantes aos melhores investidores apenas investindo nos fundos geridos pelos especialistas. Um exemplo é o Fidelity Magellan Fund, de Peter Lynch, que obteve impressionante retorno de 29% a.a. entre 1977 e 1990. Porém, o retorno médio dos investidores do fundo foi de apenas 5,96%, abaixo do desempenho do S&P 500 do período. Como explicar esse fato?

Provavelmente, o investidor médio não estava preparado para o caminho de altos e baixos do mercado acionário. Um dos principais empecilhos para os investidores é manter o psicológico inabalado frente aos infinitos ruídos e às projeções econômicas revistas diariamente.

Abrir os jogos de xadrez como Bobby Fischer ou comprar os mesmos ativos que Peter Lynch pode não ser uma vantagem caso você não saiba lidar com os movimentos seguintes do adversário ou do mercado. Muitas vezes, saber se você está pronto para os desafios já é um desafio por si só. Imagine o dano psicológico do investidor do Fidelity Magellan ao comparar seu baixo desempenho com o retorno do fundo, completamente acessível por ele caso tivesse simplesmente optado por confiar no gestor, cenário que provavelmente era o plano no momento de tomar a decisão de terceirizar a gestão de seu patrimônio. De nada adianta ter uma estratégia que não seja
realizável na prática.

Portanto, mais do que tentar buscar retornos extraordinários ou copiar os melhores, foque em definir metas realistas e se preparar para as situações adversas, que certamente ocorrerão em algum momento. A experiência proporcionada por uma trajetória de consistência e disciplina pode render ganhos que vão além dos investimentos.

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Nota

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