Tatiana Sadala

A era da exaustão

No Brasil, mais de quatro a cada 10 pessoas já tiveram problemas de ansiedade durante a pandemia do coronavírus, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)

Ansiosos, cansados, exaustos, esgotados. É assim que muitos profissionais definem como se sentem em relação a seus trabalhos, atualmente, no mundo inteiro. 00 durante a pandemia do coronavírus, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), agência da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas.

Mesmo antes da pandemia, a população brasileira já carregava o título de mais ansiosa do mundo, como revelaram dois estudos da OMS, realizados em 2017 e 2019. Neles, a entidade observou que, além de ter 18,6 milhões de brasileiros convivendo com a ansiedade, o que corresponde a 9,3% da população, o país também estava na quinta posição mundial em casos de depressão.

Todos esses números afetam negativamente o sistema de saúde, mas causam prejuízos também em outros setores, pois alteram toda a cadeia produtiva: um grande número de profissionais afetados por ansiedade, depressão, síndrome do pânico ou síndrome de burnout desfalca linhas de produção de fábricas e equipes de trabalho em empresas. A produtividade fica comprometida, e os trabalhadores que permanecem em atividade ficam ainda mais sobrecarregados, dificultando a recuperação de quem volta a seu posto.

O confinamento, o medo de adoecer, a tristeza pelas vidas perdidas, o trabalho remoto, a intensificação do convívio familiar, a necessidade de conciliar as tarefas domésticas, profissionais e os cuidados com os filhos, assim como as demissões e fechamentos de empresas, a necessidade por ser cada vez mais produtivo, atender a novas demandas, investir mais em formação e atualização profissional; tudo isso criou uma nova realidade.

Saúde Mental

Uma pesquisa do Instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial e divulgada no fim do ano passado, mostrou que a saúde mental piorou na pandemia para 53% dos brasileiros. Esse índice é superior à média dos 30 países e territórios pesquisados. Foram entrevistadas 21 mil pessoas (mil no Brasil), de 16 a 74 anos, entre 19 de fevereiro e 5 de março de 2021.

A síndrome de burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, é um dos diagnósticos mais populares atualmente. A consultoria McKinsey & Company, em parceria com a organização LeanIn, entrevistou mais de 65 mil pessoas de 423 empresas dos Estados Unidos e do Canadá e verificou que, em 2021, 42% das mulheres e 35% dos homens sofrem com sintomas da síndrome de burnout. Esses dados fazem parte do relatório “Women in the Workplace 2021”, divulgado em setembro do ano passado.
Essa síndrome tem como principal característica a sensação de esgotamento físico e emocional, que desencadeia outros sintomas, como: dores de cabeça, enxaqueca, dificuldade de concentração, lapsos de memória, insônia, mudanças no apetite, palpitações, irritabilidade, agressividade, mudanças bruscas de humor; sudorese, dores musculares, crises de asma, distúrbios gastrintestinais, pressão alta, ansiedade, depressão, isolamento, pessimismo e baixa autoestima. Gera altas cargas de stress e sentimentos de fracasso e de insegurança, que motivam ausências e afastamento do trabalho, prejudicando os trabalhadores e as companhias.

Burnout: causas

A sobrecarga de trabalho, a falta de controle (muita responsabilidade e pouca autonomia), as recompensas insuficientes, a falta de confiança e apoio, a injustiça, e os conflitos de valor são apontadas como as seis principais causas do burnout que não precisam coexistir. Um ambiente em que os profissionais estão constantemente sobrecarregados, pressionados e não têm liberdade para se expressar é propício para o desenvolvimento dessa condição. É preciso discutir segurança, prevenção e tratamento, propor mudanças no ambiente de trabalho e nas relações entre o trabalhador e o empregador. Mais do que nunca, profissionais e corporações precisam encontrar novos caminhos para desenvolver seus trabalhos e atender às demandas dos negócios de maneira saudável.

Impacto nos negócios

Lideranças estão entendendo que as doenças ocupacionais também prejudicam seus negócios. A exaustão assim como as doenças prejudicam as empresas de quatro maneiras principais: aumentam a taxa de absenteísmo e de turnover; dificultam a atração e retenção de talentos; diminuem a produtividade e o engajamento; elevam os custos com indenizações e processos jurídicos.

A novidade de 2022 é a inclusão da síndrome no rol das doenças ocupacionais do CID-11 (a 11ª revisão da Classificação Internacional de Doenças), que entrou em vigor em 1º de janeiro, conforme decisão aprovada na 72ª Assembleia Mundial da Organização Mundial da Saúde (OMS). Esse novo status pode levar à responsabilização direta das empresas em ações trabalhistas relacionadas a doenças psíquicas, já que o enquadramento é automático, sem espaço para o contraditório.

As empresas devem investir em prevenção, reduzir ou eliminar fatores de estresse ocupacional, ajudar o trabalhador a lidar com situações de risco ou dificuldade, ou compensar os danos. Vale a pena pensar em, pelo menos, três ações: criação de um espaço de segurança psicológica; oferecimento de benefícios e programas de saúde e bem-estar e constante investimento em desenvolvimento de novas habilidades que o novo mundo exige; e sugerir procura médica preventiva ao detectar primeiros sintomas em colaborador.

Nota

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Tatiana Sadala
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