Rodrigo Sodré

Saúde financeira e mental: uma não existe sem a outra

Da mesma forma que problemas com dinheiro podem gerar distúrbios de ordem emocional, pessoas mentalmente fragilizadas também têm maior risco de se comprometerem financeiramente

O início do ano costuma ser uma época de reflexão e planejamento. Por isso, o mês foi escolhido para a campanha Janeiro Branco, que busca gerar conscientização sobre a saúde mental e emocional das pessoas. Parte desse esforço deve se concentrar também sobre a saúde financeira, visto que se trata de uma frente fundamental de nossas vidas e que pode ser tanto a origem, quanto a solução, de problemas dessa ordem.

A conexão intrínseca dessas duas esferas da vida se mostra em estatísticas. Uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), por exemplo, identificou que 70% dos inadimplentes sofrem de ansiedade e outros males semelhantes. Já segundo o Financial Psychology Institute, a crise econômica de 2008 gerou altos níveis de depressão e problemas de relacionamento entre os norte-americanos. Nos EUA, dinheiro é a principal causa de estresse, de acordo com a American Psychological Association.

Mas, da mesma forma que problemas com dinheiro podem gerar distúrbios de ordem emocional, pessoas mentalmente fragilizadas também têm maior risco de se comprometerem financeiramente. Uma das situações mais comuns nesses casos é o excesso de compras e outros gastos, podendo chegar a níveis de compulsão, o que também pode acabar gerando culpa, vergonha e arrependimento.

Além disso, esse grupo pode ter mais dificuldade em tomar decisões em prol de suas finanças, por medo, preocupação ou apatia. Um estudo do Money and Mental Health Policy Institute constatou que 93% das pessoas com problemas de saúde mental gastam mais do que deveriam, enquanto 92% declararam sentir mais dificuldade para tomar decisões financeiras. Numa tempestade perfeita, o indivíduo entra numa espiral em que a má gestão do dinheiro alimenta problemas psicológicos, que são retroalimentados pelas incertezas materiais.

O excesso de sentimentos considerados positivos também pode afetar negativamente a saúde mental. Oposta à depressão, a mania acarreta uma hiperatividade, alegria eufórica e um pensamento em ritmo acelerado que tende a impulsionar gastos desenfreados e a tomada de decisões sem o devido planejamento. O jogo patológico, por sua vez, leva as pessoas a se endividarem em jogos de apostas, altamente viciantes.

Quem perde muito pode desenvolver um trauma, agravando problemas anteriores e gerando uma situação em que a ansiedade toma o controle. Nessas situações, a pessoa pode apresentar um comportamento disfuncional causado por aquele período de escassez, mesmo que a falta de dinheiro não seja um problema naquele momento. Assim, deixa-se de aproveitar a vida e tomar decisões financeiras racionais sob um constante medo de ficar desassistido.

Por tudo isso, não se deve subestimar a importância do acompanhamento de um profissional de saúde mental. Assim como a terapia pode ser um bom investimento e contribuir para a saúde financeira no final das contas, ter uma boa gestão do seu patrimônio pode prevenir e até ser uma ferramenta contra questões emocionais já existentes.

Nota

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