Rafael Rios

Por que estamos em um momento estratégico para investir em energia solar?

A descarbonização do planeta ocupará o centro do debate das políticas energéticas nas próximas décadas e será um dos aspectos preponderantes na tomada de decisão dos gestores financeiros

Em carta recente endereçada a grandes executivos de todo o mundo, Larry Fink, CEO da BlackRock (BLAK34), maior gestora de recursos do planeta, afirmou que “as alterações climáticas tornaram-se um fator decisivo nas perspectivas das empresas a longo prazo”.

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De fato, está havendo uma grande mudança de consciência no mundo, influenciando as decisões de consumo das pessoas e, sobretudo, o posicionamento das empresas, que buscam se afastar de ações que possam prejudicar sua imagem perante o público.

Apesar de ter uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, o Brasil é altamente dependente do sistema hidráulico de barragens, o que nos deixa suscetíveis às naturais mudanças do regime de chuvas ao longo do tempo. Em momento de profunda escassez hídrica, como vivemos recentemente, os níveis das represas atingem patamares críticos e obrigam o acionamento de termelétricas, muito mais caras e poluentes.

Evidentemente, isso não só pesa no bolso do consumidor, como rouba competitividade das nossas empresas, em especial da indústria, que faz uso intensivo de energia para atender às demandas da sociedade. Não é à toa que o custo de energia, ao lado de inúmeros outros problemas que permeiam nosso ambiente de negócios, contribui decisivamente para o nosso constante processo de desindustrialização e transferência de empregos qualificados para outros países, especialmente da Ásia.

Se há uma coisa de que o Brasil não pode se queixar é a abundância de luz solar que incide de forma muito bem distribuída ao longo do nosso território, principalmente no interior. Nosso potencial de geração fotovoltaica é tão grande que especialistas são praticamente unânimes em dizer que toda a nossa demanda de energia elétrica poderia ser suprida por painéis solares.

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No entanto, a energia solar – considerando a potência instalada de sistemas de pequeno, médio e grande porte – atende apenas 2,5% da demanda de eletricidade em nosso país — ou seja, temos uma fonte abundante e inesgotável de energia, porém não aproveitamos devidamente todo esse potencial.

Para se ter uma ideia do que estamos falando, diversos países da Europa, muito menos ensolarados do que o Brasil, produzem mais energia solar do que nós. Para ficarmos em um exemplo recorrente, a Alemanha é o quarto maior país gerador de eletricidade fotovoltaica do planeta e tem um índice de irradiação solar 40% menor do que o nosso.

Essa realidade, aos poucos, vem mudando com a atualização do marco regulatório do nosso sistema elétrico, a fim de dar mais segurança jurídica aos participantes do mercado e, sobretudo, atrair mais investimentos em projetos de ponta, como as usinas solares fotovoltaicas em geração distribuída.

Geração distribuída: a nova grande fronteira para investimentos em energia

A geração distribuída ocorre quando a energia é produzida mais perto das unidades consumidoras a partir de fontes renováveis, como a luz solar. Os sistemas são conectados à rede elétrica e rendem créditos que podem ser abatidos da conta de luz de outra unidade consumidora atendida pela mesma concessionária. Assim, uma usina solar pode produzir energia no interior de São Paulo e usar os créditos para reduzir a fatura de energia de uma unidade localizada na capital.

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Esse mercado vem crescendo de forma incrível no país nos últimos anos, com empresas fazendo fila para obter os créditos de geração de novas usinas solares, pois assim podem se ver livres dos constantes aumentos tarifários do sistema regulado. Fábricas, shoppings, condomínios residenciais, hotéis, escolas, estabelecimentos comerciais, são inúmeros os exemplos de empresas que hoje já conseguem abater em até 20% seu custo de energia por mês contratando a geração de usinas solares pelo sistema de geração distribuída.

O grande atrativo é que essas empresas conseguem reduzir fortemente seus custos fixos, sem alterar em nada sua rotina operacional: basta contratar a geração e pronto, o desconto já começa a ser aplicado assim que aprovado pela concessionária.

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Sem dúvida, trata-se de um serviço essencial e com demanda constante, na medida em que não faz sentido para os clientes deixarem de obter esses créditos enquanto estão em operação. Afinal, teriam que voltar para todos os problemas mencionados do sistema regulado, que é muito mais caro e ineficiente.

Crowdfunding auxilia no desenvolvimento da energia solar

Na outra ponta, as empresas interessadas em construir e operar usinas solares esbarram na baixa disponibilidade de capital das linhas tradicionais de crédito. É praticamente impossível conseguir um financiamento via banco de fomento, como o BNDES, ou uma instituição financeira tradicional, sem falar nos altos custos envolvidos nessas operações de crédito.

Uma alternativa que vem crescendo muito nos últimos anos são as captações de crowdfunding, uma modalidade de investimento coletivo regulada pela CVM, em 2017, que inovou ao permitir que investidores e empreendedores se unissem para colocar de pé projetos do seu interesse, como a construção e operação de usinas solares fotovoltaicas instaladas no sistema de geração distribuída, ou seja, com foco em atender a enorme demanda de empresas que precisam reduzir seu custo de energia para ser mais competitivas e ganhar novos mercados.

Graças às plataformas de crowdfunding atuantes hoje no país, diversos projetos de usinas solares foram captados e já estão em operação, gerando dividendos mensais para milhares de investidores de todo o país.

Novamente, estamos diante de uma janela de oportunidades inigualável para investir em um setor que terá protagonismo nas próximas décadas, atraindo a atenção de todos os participantes do mercado: empresas, consumidores e investidores. A boa notícia é que a energia solar tem espaço para crescer de forma exponencial em nosso país, ajudando a diversificar e robustecer nosso sistema elétrico e garantir nossa autonomia energética para o futuro.

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Nota

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Rafael Rios
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