Mucio Mattos

Agronegócio: o que vamos colher no futuro?

O Valor Bruto de Produção (VBP) agropecuária no país alcançou R$ 1,2 trilhão em 2021, representando um incremento de 8,6% em relação a 2020. Qual o futuro do agronegócio nesse novo ciclo de governo?

Participei do GRI Agrobusiness, sediado em São Paulo, como palestrante e ouvinte entusiasta das discussões sobre o momento atual e perspectivas do agronegócio brasileiro. Foram realizadas palestras sobre diversos temas como a perspectiva global do setor, o mercado de crédito de carbono, novas tecnologias no segmento agrícola, cadeia logística e fontes de financiamento, entre outros.

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Diante de temas tão interessantes, contudo, havia um questionamento generalizado em todos os painéis: qual o futuro do agronegócio nesse novo ciclo de governo? As preocupações foram diversas e variaram de invasões de terras agrícolas ao impacto de políticas econômicas.

É importante destacarmos que o agronegócio brasileiro é um dos principais vetores da economia nacional e se destacou como um dos mais resilientes à crise da covid-19, mantendo um elevado crescimento, mesmo após a chegada da pandemia no Brasil. O Valor Bruto de Produção (VBP) agropecuária no país alcançou R$ 1,2 trilhão em 2021, representando um incremento de 8,6% em relação a 2020.

O segmento também foi responsável por 48% das exportações brasileiras em 2020, fator decisivo para o superávit de nossa balança comercial. Em 2021, a potência do setor ficou ainda mais acentuada, com um crescimento de 20,6% nas exportações.

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Dito isso, sou da opinião que com o agronegócio é difícil ‘bater de frente’. O setor tem uma ampla representação no congresso e na sociedade civil que luta por políticas adequadas a sustentação do crescimento no setor. Como bem dizem: o agro é a locomotiva do país.

E, então, quais são os riscos e oportunidades que enxergamos?

Veja, a questão de invasão de terras é sim um tema importante a ser observado e que fere o direito à propriedade garantido por lei. Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o número de ocupações de imóveis, que havia chegado a 2.500 na administração de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), foi reduzido ao longo do tempo para 2.000 no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e menos de 20 durante a administração atual. Corremos um risco de retrocesso nessa frente. Porém, ainda assim são problemas pontuais e que não devem afetar de forma abrangente o segmento.

O maior risco vem mesmo é da política fiscal do novo governo. A proposta da PEC da Transição, que tira do teto de gastos o Bolsa Família, aliada aos nomes que integrarão a nova equipe de governo para a área econômica, gera preocupações com as contas públicas.

Isso, por si só, faz com que o câmbio se deprecie, as perspectivas de inflação alta permaneçam e os juros não se reduzam tão rapidamente como gostaríamos. O agronegócio tem um poder defensivo dessas crises e, em tese, teria uma proteção natural às suas receitas pela caraterística de ser exportador (câmbio mais depreciado, gera mais receita).

No entanto, há um risco relevante que é preciso ser levado em consideração. E se, para fechar as contas públicas, o governo passe a taxar o agronegócio? Vimos o governo do Paraná tentar criar uma “taxa do agro” impondo novos impostos sobre a comercialização de commodities como forma de se financiar. Tamanha foi a reação que o governo recuou em menos de 24 horas. Mas o precedente foi criado e o risco está aí.

O estado de Goiás também foi pelo mesmo caminho e aprovou, na Assembleia Legislativa, no dia 23 de novembro de 2022, um projeto que cria taxa de 1,65% sobre o agro. A matéria agora segue para sanção do governador Ronaldo Caiado.

Se seguirmos esse caminho, onde tamanha são as altas taxas impostas pelo governo, vários produtores podem preferir não plantar ou diminuir suas áreas, como vimos ocorrer na Argentina. De toda forma, esperamos não chegar lá, já que uma movimentação do governo nesse sentido é extremamente arriscada.

Do lado positivo, podemos destacar que avanços na frente ESG podem abrir novas frentes comerciais, atrair maiores investimentos para o setor e também gerar novas fontes de receitas para os produtores através da comercialização de créditos de carbono (ainda que essa última discussão também dependa bastante das discussões internacionais).

Em resumo, é preciso muita cautela para se mexer em time que está ganhando. Muitas das incertezas permanecem no ar seja para o agro como para outros setores da economia. Só precisamos lembrar que nós colhemos o que plantamos!

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Nota

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