Luciano Costa

Foco agora está na mudança de ciclo

Uma atividade mais tímida da China e sinalização de continuidade de uma postura hawkish dos principais Bancos Centrais do mundo nos revela um cenário desafiador pela frente. E o Brasil?

No semestre que se inicia agora em julho, tivemos algumas mudanças em relação ao que enxergávamos no começo de 2023. Uma atividade mais tímida da China e sinalização de continuidade de uma postura hawkish dos principais Bancos Centrais do mundo nos revela um cenário desafiador pela frente.

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Isto porque o Federal Reserve, como esperado, fez a pausa imaginada pelo mercado. A surpresa, no entanto, está em uma mensagem mais dura em relação ao que se pensava.

Com isso, houve uma sinalização de continuidade de ciclo restritivo. A mediana das projeções do Fed nos indicam duas altas adicionais de juros nas reuniões de julho e setembro ou outubro, a depender da evolução dos dados de inflação.

Em nosso cenário, trabalhamos com a ideia de ajustes da ordem de 0,25 bps cada e, caso nossas projeções estejam corretas, devemos ver uma pressão menor, especialmente, no setor de serviços, com ritmo de aumento salarial e de vagas reduzido

Caso isso se confirme, provavelmente o Fed fará apenas mais uma alta nos juros e, como eu disse anteriormente, este movimento dependerá da evolução dos dados.

Acreditamos que novas surpresas não devam ocorrer e, além do mais, uma alta adicional não traria um grande efeito prático. Seria apenas uma sinalização de que a autoridade monetária está de olhos abertos e atenta às metas.

Ainda no cenário global, temos a discussão em torno do crescimento da China.

No segundo trimestre, o gigante asiático apresentou dados de crescimento mais fracos que o esperado. A leitura do mercado é de que houve uma devolução dos efeitos da reabertura da economia pós-Covid e de que a resposta para os estímulos feitos pelo governo chinês ficou aquém do que se imaginava.

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Ainda assim, a projeção de crescimento de 6% no ano para a China deve ser mantida uma vez que novas medidas devem ser tomadas para que a atividade dê respostas mais positivas do que as apresentadas recentemente.

Esperamos, especialmente a partir do terceiro trimestre, que novos estímulos sejam feitos nas áreas de infraestrutura, construção civil, corte de juros e outras medidas.

O resumo é que provavelmente veremos uma evolução que deve fazer com que o PIB do país ainda mantenha um ritmo de crescimento acima da média global.

Neste ponto, é importante ressaltar que a inflação na China não é uma questão fundamental, com os índices bem comportados neste momento.

Explicado este ponto, e o Brasil? A grande questão que fica para nós é: quais as consequências em um cenário cheio de incertezas?

Além do Federal Reserve, o ECB (Banco Central Europeu) também tem indicado um tom mais hawkish para a condução da política monetária. Contudo, esses fatores combinados não devem interferir na mudança de ciclo da Selic por aqui.

A divulgação da última ata do Copom, por exemplo, nos sinalizou que as chances de uma redução nos juros a partir de agosto aumentaram. Antes trabalhávamos com a ideia de que este movimento apenas aconteceria em setembro.

Contudo, uma parte majoritária do comitê vê espaço para cortes a partir do próximo mês.

Neste sentido, a decisão do CMN (Comitê Monetário Nacional) em manter as metas de inflação em 3% foi vista como positiva pelo mercado, que enxergou na resolução um compromisso com a estabilidade de preços.

Isto porque o processo de melhora nas projeções inflacionárias ajuda a trazer mais confiança de que o processo de desinflação está, de fato, acontecendo, o que ajuda a ancorar as expectativas.

Com a redução da Selic, o que veremos ao longo dos meses é um juro real menor com a economia colhendo os benefícios desse estímulo, que deve acontecer de forma mais impactante em meados de 2024.

Além disso, a posição favorável que temos visto nas contas externas via balança comercial e entrada de investimentos (renda fixa e bolsa de valores) tem ajudado o câmbio a se manter bem comportado.

Em outras palavras, uma moeda valorizada ajuda a população a aumentar o poder de compra e indica para os agentes econômicos que as condições financeiras estão mais positivas para cortes nos juros.

Sobre a taxa básica, esperamos que o Banco Central realize uma redução de 0,25 bps em agosto e outras duas de 0,50 bps em setembro e outubro/ novembro e 0,50 bps em dezembro, para encerrar o ano em 12,00%.

Quando olhamos para o ciclo como um todo, imaginamos uma inflação em torno de 4% com a Selic no fim de 2023 fechando em 9,5% a.a., com juro real em torno de 5,5% (a taxa neutra é de 4,5% segundo o Banco Central).

De olho nos efeitos para os ativos, a mudança de política monetária provavelmente será benéfica para os setores ligados ao crescimento econômico, como construção civil, bancos e comércio (consumo).

Por fim, temos visto uma curva de juros já precificada com taxa real em torno de 5% a 5,5%. Para que a evolução vista até aqui continue, é preciso que o cenário ganhe novas “rodadas de melhorias”.

Uma surpresa na arrecadação, por exemplo, poderia contribuir para a melhor fiscal.

É esperar para ver.

Até o próximo artigo e bons negócios!

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Nota

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Luciano Costa
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