João Beck

A história de dois Ibovespas

O retrato da queda de quase 12% do Índice Bovespa no ano passado não reflete a realidade do universo de ações que compõem a bolsa

Em 2020, as ações de empresas de tecnologia e aquelas associadas ao mercado exterior subiram. As outras caíram.

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Em 2021, foi a vez das empresas associadas a commodities impulsionadas por um câmbio favorável e preços altos das commodities.

No olho do furacão da Covid, em meados de março de 2020, havia o debate sobre o tipo de recuperação que veríamos pós pandemia. Seria do tipo em U (lenta e gradual, assimilando a linha que representa o PIB como o contorno da letra U ou tipo em V (rápida e aguda)?

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Até que no noticiário americano surgiu a analogia da recuperação em K. A letra K possui uma perna apontando para cima, outra para baixo. E foi o retrato de toda a nossa economia que refletiu também no Índice S&P e no nosso Ibovespa. Não entender esse fenômeno nos faz tirar conclusões erradas sobre o desempenho da nossa carteira de ações e dos fundos de ações.

Exemplo: ano passado, a combinação de commodities em alta e câmbio desvalorizado lançou ações de commodities para a estratosfera. A ação com maior peso no índice bovespa subiu 70% (incluindo dividendos). E, por isso, o retrato da queda de quase 12% do Índice Bovespa no ano passado não reflete a realidade do universo de ações que compõem a bolsa.

Empresas do setor de serviços, varejo, shopping, construção e outros setores amargaram perdas que ultrapassam 40% mesmo nas ações consideradas premium pelos grandes gestores de recursos.

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Ações da Natura (NTCO3), uma das empresas mais elogiadas pelos investidores, tiveram seu preço cortado pela metade. Parte desse fluxo veio por meio de resgates de pessoas físicas que pela primeira vez vivenciaram um ciclo de alta de taxa de juros – aliás, a maior alta anual desde o Plano Real. Portanto, qualquer carteira de ações bem distribuída provavelmente virou o ano amargando perdas de 25-30%.

Já para o americano aconteceu o inverso. Por lá, o índice é concentrado em empresas de tecnologia. E ao que parece a bolha estourou. As ações de tecnologia despencaram. Os estímulos dados pelo banco central americano (Federal Reserve, o Fed) fizeram com que o dinheiro transbordasse para empresas em que lucros ainda são um sonho distante. Quando o custo do dinheiro é nulo, os fundamentos não importam. O Fluxo predomina.

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E se enquanto por aqui o setor de commodities que pesa no nosso índice subiu, por lá, a tecnologia que pesa no S&P despencou. E ao contrário do Brasil, carteiras bem distribuídas nos EUA em diversos setores testemunharam provavelmente uma rentabilidade maior que o próprio índice.

Tanto o S&P quanto o Ibovespa são indexadores ruins e que pela sua fórmula de rebalanceamento acabam se tornando menos diversificadas com o passar das décadas.

Por isso, comparar sua carteira de ações com o Ibovespa pode não te contar a verdadeira história se você soube mesmo escolher as melhores ações ou se o acaso influenciou o índice que você usa como sarrafo da sua rentabilidade.

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Nota

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João Beck
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