Vitorio Galindo

O que é ser um típico Value Investor?

O “Santo Graal” dos Value Investors é encontrar empresas boas, com crescimento, sem problemas de governança e com um grande desconto (margem de segurança) para o seu valor intrínseco

Muita gente se posiciona como um “típico Value Investor”, pregando um discurso glamuroso e até mesmo “difícil” de ser contraposto: comprar empresas boas abaixo do seu valor intrínseco ou com boa margem de segurança.

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Mas a reflexão que eu quero trazer é, na prática, será que existem tantas oportunidades assim? Como estes ditos “Value Investor” dizem estar aproveitando? Será que existem várias empresas boas com preço de barganhas na nossa bolsa? Será que existem tantas empresas boas e, principalmente, baratas para podermos aproveitar as ditas “promoções”?

Fato é que, encontrar empresas bem administradas, sem problemas de governança, com alto ou razoável crescimento versus o preço que se está sendo pago (geralmente empresas com alto crescimento possuem múltiplos elevados), com fortes barreiras de entrada e com “pricing power” já é bem difícil. Afinal, quantas Apples (
AAPL34), Googles (GOGL34), Coca-Colas (COCA34), existem no mercado?

Mais difícil ainda é encontrar tudo isto negociando com um bom desconto versus o seu valor intrínseco…

Aqui mora o “Santo Graal” dos Value Investors: encontrar empresas boas, com crescimento, sem problemas de governança e com um grande desconto (margem de segurança) para o seu valor intrínseco.

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Com tão poucas empresas negociadas na B3 (B3SA3) e com um ENORME número de investidores que se dizem “Value Investors” (temos mais Assets no Brasil do que empresas listadas, fora as pessoas físicas), fica ainda mais difícil todos encontrarem ótimas empresas a preços de barganhas neste mesmo lugar…

Dito isto, os “típicos Value Investors” acabam tendo que se dividir em duas “subespécies” para conseguirem encontrar alguma empresa/tese de investimento que se encaixe no “manual”: i) os caçadores de guimbas de charuto e ii) os compradores de empresas de qualidade.

No primeiro caso, o principal risco da estratégia é a queda em “value traps”. Geralmente, como aconteceu recentemente na bolsa brasileira, estas empresas são negociadas a múltiplos baixos, mas são companhias com menos daqueles fatores de qualidades (que no fim protegem a empresa em períodos difíceis) e que acabam por sofrer mais em períodos conturbados da nossa economia.

Aqui, o risco de perda permanente de capital é muito mais alto, mas o potencial retorno, quando tudo dá certo, também é geralmente mais alto.

O difícil é conseguir gerar este retorno acima da média de forma constante e em “todas as fases” dos ciclos do mercado, inclusive nos solavancos, quando concentrado apenas nesta estratégia.

No segundo caso, os múltiplos de negociação costumam ser elevados na maior parte do tempo, já que não se compra uma Ferrari pelo preço de um Fusca, certo? No mercado, assim como na economia real, os ativos bons, de qualidade, costumam ser bem precificados, pela qualidade que possuem, evidentemente.

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Raramente, vemos oportunidades no mercado de comprar empresas de qualidade com desconto em comparação aos múltiplos usualmente negociados. Isto costuma acontecer em momentos de pânico agudo, em que “todos” vendem tudo a qualquer preço, não importando se o ativo é de qualidade ou não.

No primeiro caso, o risco de perda permanente de capital tira o sono dos Value Investors. Já no segundo pagar um prêmio muito alto por negócios de qualidade também pode gerar olheiras no investidor, ou ao menos não entregar retornos satisfatórios em comparação ao risco tomado.

Talvez a resposta para este problema seja o equilíbrio entre as duas estratégias.

Nem só empresas de alto risco, nem só empresas de qualidade, mas sim uma mescla de ambas as estratégias junto com um bom percentual do patrimônio em caixa para poder realmente aproveitar as ditas “promoções”, quando elas realmente aparecem.

De nada adianta ser um Value Investor e não poder aproveitar descontos versus o valor intrínseco por falta de recursos, ou por deterioração do patrimônio em razão de erros na análise e má alocações destes recursos que o investidor detinha, já que são finitos.

Por outro lado, também não nos parece fazer sentido esperar uma grande crise com 100% do patrimônio em caixa, já que pode custar muito caro, principalmente no Brasil onde a inflação costuma ser alta, não ter ativos reais em seu portfólio. Além de belas oportunidades que serão perdidas, por ficar esperando o fim do mundo e ele eventualmente demorar (ou nunca) a chegar.

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Por fim, vale destacar que, quanto maior o tamanho do patrimônio destes Value Investors, menos “guimbas de charuto” eles serão capazes de procurar e ser capazes de adquiri-las, já que estas “guimbas” geralmente são empresas subavaliadas por possuírem pouca liquidez e, portanto, não são bem cobertas pelo mercado.

É geralmente o fator liquidez que faz com que estas empresas fiquem esquecidas pelo mercado, já que os grandes players não podem montar posições significativas neste tipo de ativo e, portanto, deixam de olhar para elas…

Portanto, quanto maior o patrimônio, menos caçador de guimbas de charuto e mais “comprador de empresas de qualidade” um investidor Value Investor passa a ser. Muitas gestoras passaram inclusive por este tipo de transição. Algumas tiveram muito sucesso, outras nem tanto e outras continuam presas, como sempre estiveram, a apenas uma das estratégias mencionadas.

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Nota

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