Existe muito oportunismo com ESG, mas saldo final é positivo, diz gestor da KPTL

As práticas ligadas ao ESG têm sido cada vez mais capturadas pelos investidores. O mercado está procurando alocar capital onde a visão de sustentabilidade, de boa governança corporativa e proximidade com a sociedade estão presentes. Isso é positivo, a despeito de qualquer oportunismo que possa ocorrer.

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Esse é o entendimento de Bruno Profeta, sócio da KPTL e head do Fundo de Inovação em Meio Ambiente (FIMA) da gestora. Desde 2012, o FIMA investe em empresas com um viés de inovação tecnológica com vistas para o meio ambiente, ou seja, desde sempre olhando para o ESG.

O tema já era realidade na casa muito antes de virar “moda”.

Estar próximo das práticas ligadas ao ESG não fizeram com que o fundo da KTPL deixasse de apresentar bons resultados. A previsão de crescimento da soma das receitas das 11 startups do portfólio em 2021 é de 42%. No ano passado, foi de 25%.

Agora, em final de ciclo, a gestora procura colher os frutos do FIMA. É esperado que os R$ 165 milhões investidos inicialmente sejam multiplicados por algumas vezes antes de retornar às mãos dos cotistas.

Confira os principais trechos da entrevista do Suno Notícias com o executivo.

Qual é o racional por trás do fundo?

O FIMA, que é um fundo relacionado ao meio ambiente, foi constituído junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para fomentar o investimento em tecnologias associadas a impactos positivos para o meio ambiente. 

Nós vimos de um background de investimento em tecnologia muito grande, entendendo o processo de investimento e análise nesse tipo de ativo. Com isso, conseguimos entender dentro do universo tecnológico o que faz sentido e o que soluciona problemas para o meio ambiente. 

Ele tem características de um fundo de venture capital. Criado em 2012, ele tem 10 anos de investimento, com tempo de maturação das tecnologias. Olhava o cenário econômico, para diversas vertentes de demanda, aspectos regulatórios. Esse foi o primeiro desafio: entender onde estavam as oportunidades. Encontramos em negócios B2B (business to business). 

Já passamos pelo ciclo de investimento do fundo, então não estamos realizando novos aportes. Já constituímos nosso portfólio, temos investimento em 11 companhias. Tínhamos até R$ 15 milhões para investir por empresa.

Agora, estamos na fase final, de venda dessas participações para algum player estratégico, como fundos de venture capital que fazem cheques maiores. 

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A tese do fundo vem da visão de que o cenário econômico passa por ciclos econômicos, onde caminhamos para uma economia circular. Isso, passando desde o uso de insumos mais básicos, como a terra, para a evolução das cadeias. 

Isso é aliado a uma demanda e atenção da sociedade cada vez maior sobre a importância da adoção de práticas sustentáveis. A tecnologia entra como um facilitador para a otimização das cadeias produtivas, hábitos de consumo, serviços associados a impactos no meio ambiente. 

Pensamos como conseguiríamos realizar investimentos que trouxessem impactos diretos nesses temas, que ao mesmo tempo gerassem valor dentro do seu escopo. Obviamente, a ideia é fomentar essas tecnologias que beneficiem o meio ambiente mas ainda dentro de um cenário de negócios. Ele precisa ser rentável e multiplicar valor.

No dia a dia, qual foi a estratégia para o investimento nas empresas? Vocês olharam apenas o ESG?

Para fazer esse recorte de investimento, precisamos estabelecer alguns parâmetros. Alguns dos requisitos são necessários, outros mandatórios, alguns mais ou menos desejáveis, dentro de nossa análise de potencial e de risco.

Partindo da premissa de que iremos analisar a inovação tecnológica, naturalmente há uma dificuldade muito grande de entendimento do que é a solução do problema, e de como isso é aplicado. 

Em nosso processo de investimento, mais de 1.400 empresas passaram pelo nosso filtro. 

O primeiro critério utilizado é o tamanho da empresa. A receita líquida das empresas deveria ser de até R$ 12 milhões nos 12 meses anteriores ao investimento. Isso é importante pois indica que o aporte ocorre em uma solução que já tem um nível de maturidade de desenvolvimento, a qual já foi minimamente validada, mas precisa ser escalada.

Depois, obviamente, as empresas precisavam ter um aspecto de inovação tecnológica relevante. Precisa ser necessariamente uma tese com barreira de entrada relevante, alguma mudança profunda na maneira de se construir algo. No cerne da tese, isso é essencial.

Isso precisa ter um impacto mensurável positivo no meio ambiente, sendo um aspecto mandatório. De início, já precisávamos entender de que forma o meio ambiente é beneficiado por aquela operação, seja na cadeia de produção ou no fornecimento de matérias-primas. 

Aí depois chegamos a uma análise tradicional de venture capital, para entender se faz sentido entrar naquele mercado e como as premissas prioritárias da tese. Também olhamos para a qualidade do time que toca aquele negócio, além de suas ameaças e produtos ou serviços substitutos. 

Pegamos todos esses elementos e trazemos para um cenário de viabilidade de negócio, sempre levando em consideração que é um trabalho de risco, que sempre carrega um componente de incerteza. Não precisamos saber tudo, apenas precisamos entender as dúvidas que temos.

Por outro lado, o que faz o FIMA vender suas posições? Se não faz mais sentido do ponto de vista tecnológico e em relação ESG, ou se refere apenas ao preço?

Vendemos empresas pela dinâmica do produto. Quando fazemos as captações de fundos — neste específico foi de R$ 165 milhões — acertamos com os investidores e cotistas um prazo para encerrar o ciclo.

Fazer essas saídas dentro de um prazo, seja de 10 anos ou qualquer outro período, é realizar o objetivo do fundo. Não o fazer significa que não estamos fazendo o que foi proposto.

Se os investidores colocaram R$ 165 milhões em 2012, eles vislumbram que em 2023 o capital retorne com alguma multiplicação. Fazer o fechamento e dar continuidade aos negócios faz parte da dinâmica do produto.

Para as companhias em si, é importante que continue o processo de expansão e multiplicação, para que faça sentido novas rodadas de investimento. Nessa parte, o fundo não participa mais.

O papel social do fundo é fomentar e dar vazão a negócios que ainda estavam em estágios muito incipientes, que precisavam de escala e melhor entendimento do mercado. 

Existem questões de mandato e de fechamento de ciclo que são necessárias, mesmo que seja a melhor empresa do mundo. Os casos de insucesso, que também acontecem nesse tipo de produto, também fazem parte disso. Para o lado bom, e para o lado ruim. 

E depois? Inicia-se um novo ciclo, com uma nova captação?

Sim. A vida de uma gestora, para que se mantenha ativa, precisa da renovação desses ciclos. Hoje, na KPTL, temos cinco fundos rodando em diferentes etapas, com pessoal olhando para cada uma das fases, seja na captação, análise das empresas, administração dos negócios ou encerramento de todo o processo. 

O caminho natural de uma gestora dessa natureza é sempre levantar capital no início desse processo. De todos os nossos fundos, estamos captando os recursos em três, os quais são setoriais.

Nestes, focamos em agrotech, saúde e logtech. Esses novos fundos, naturalmente, vão tomando o lugar dos fundos antigos com os fechamentos dos ciclos.

Os fundos não necessariamente precisam ser de 10 anos. Os produtos de venture capital normalmente são de uma década, pois é um período de construção de portfólio e maturação nos negócios, mas não há uma regra.

A KPTL, focada em inovação, observou diversas oportunidades na pandemia. Como vocês observam os desafios e oportunidades a partir de agora?

Quando um fundo é focado em tecnologia, por exemplo, que é agnóstico setorialmente, uma das premissas é que ele seja resiliente frente às mudanças de ciclo econômico. Uma dispersão setorial e de tipo de tecnologia fomentam essa “defesa”.

Um exemplo prático é um dos nossos fundos, que investe na maior empresa de respirador pulmonar do Brasil. Na pandemia, obviamente, o resultado financeiro dessa empresa explodiu, crescendo mais de 10 vezes. Por outro lado, uma empresa do setor têxtil, que parou completamente.

A ideia é que seja feita uma dispersão de riscos com base nas matrizes tecnológicas e de setores. 

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Agora, com as perspectivas de reabertura da economia, haverá um impacto muito específico em cada uma das empresas, que é a beleza desse tipo de fundo. Nos nossos fundos, não temos um movimento padrão, que caminha junto com a tendência econômica. A resiliência é grande em função da dinâmica de carteira.

O nosso papel enquanto gestores é entender as empresas que poderão sofrer com algumas situações específicas, e buscar ter flexibilidade dentro das companhias para podermos superar essas influências negativas. 

Para tocar um fundo desse tipo é necessário ter uma inteligência de composição de portfólio para a dispersão desse risco. Precisamos saber lidar com incertezas que não sabemos de onde podem vir, senão, perdemos o fundo. Na hora de montar a carteira, isso é algo que levamos em consideração.

Estamos notando o avanço da importância do ESG. Como vocês olham para isso? O mercado já leva esse tema em consideração no valuation?

Quando criamos o FIMA, em 2012, esse tema não estava em alta. Mesmo sem esse formato de narrativa, já era um fundo que levava em consideração, e tinha proposta de valor, aspectos relacionados ao ESG. Boa governança, por exemplo, sempre foi algo prioritário na KPTL. 

Nosso cotista principal, que é o BNDES, também fomentou as outras duas vertentes, social e de meio ambiente, então sempre trabalhamos com essa visão alinhada. Sempre mensuramos as empresas também com esses filtros. 

Porém, o mercado costuma ser histérico com novidades, e é o que estamos começando a observar agora com o ESG, que avançou rapidamente. Existe um aspecto super positivo, e um outro lado negativo em toda essa história.

Na minha visão, o saldo final é positivo. Pelos motivos certos ou errados, ou mesmo pelos dois, estamos empurrando uma pauta que é importante não só para o mundo dos investimentos como para a sociedade em geral.

As boas práticas ligadas ao meio ambiente, aspectos sociais e governança corporativa têm uma importância como ferramenta de parametrização e mensuração de padrões positivos. 

Vejo como natural que alguns players que não entendem muito bem do tema, queiram se associar a ele. Também entendo como normal as primeiras práticas ligadas ao ESG serem muito rasas por parte das empresas. Também é comum que existam muitos oportunistas nesse meio.

É melhor que exista um movimento positivo que cresça e que ao longo do tempo o mercado vá fazendo a limpeza da “sujeira” dos oportunistas, do que fique restrito na fase embrionária.

Ainda estamos no processo de histeria e entendimento do que se trata, pois o conceito é muito abrangente. A conscientização do consumidor final e a pressão que ele exerce, junto ao governo, às organizações também é um processo válido.

Com isso, é gerado um resultado em dominó. Os investidores, normalmente, conseguem captar as tendências antes das empresas, e passam a procurar por isso na alocação de capital. O resumo final, na minha visão, é positivo. É importante que o ESG venha ao público.

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Jader Lazarini

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