Dólar, inflação e Milei: Vale a pena viajar para a Argentina agora?

A inflação na Argentina ultrapassou os 211% em 2023. Esse resultado é um reflexo de décadas de gastos excessivos, balança comercial quase zerada e contínuas negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

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Com a entrada do novo presidente, Javier Milei, a população ficou dividida diante da implementação das propostas para recuperação econômica. Uma delas, a liberação dos preços que estavam congelados pelo governo peronista de Alberto Fernández, fez com que muitos produtos encarecessem rapidamente.

Com o deslanchar da inflação em pouco mais de um mês de presidência, a “terapia de choque” de Milei para tratar da crise na Argentina fez com que o câmbio do dólar oficial dobrasse de 400 para 800 pesos argentinos.

O que acontece é que a Argentina possui conversões diferentes. Algumas delas são:

  • Dólar oficial: para compras limitadas da moeda americana;
  • Dólar blue: para transações diárias com dinheiro físico, é a taxa mais usada;
  • Blue chip: cotações flutuantes para investidores que compram ações e títulos;
  • Cartão de crédito (tarjeta): o modo de pagamento também tem uma cotação específica.

“No câmbio, a Argentina é uma loucura”, comenta Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. “O país tem de 10 a 15 câmbios diferentes e isso prejudica muito a eficiência da economia.”

“O grande problema da Argentina é que eles têm um gasto excessivo há mais de 30, 40 anos. Com a inflação decorrida disso, devido aos financiamentos de dívidas do governo, a situação ficou caótica: o governo tem um déficit enorme, a balança comercial praticamente zerada”.

Com a chegada do atual presidente Javier Milei, sua estratégia foi tentar provocar um choque de gastos e de credibilidade fiscal. Dessa forma, o dirigente reduziu o subsídio de energia, de tarifas de ônibus e liberou até mesmo os preços de aluguéis que estavam travados – o que curiosamente gerou uma oferta tão grande dos imóveis que fez com o que preço caísse.

Em pesquisa recente, o presidente Milei mantém 58% de aprovação da população. Enquanto isso, a ex-presidente Cristina Kirchner acumula 67% de desaprovação. Os dados são do jornal Clarín.

Viajar para Argentina vai ficar mais caro?

Leila Hatba, profissional formada em Direito na USP, compara suas duas últimas viagens para Buenos Aires, capital da Argentina.

“Fui em 2019 e em março de 2023. Entre essas duas vezes, não senti uma diferença muito grande no preço”, conta Leila.

“Algumas coisas têm preços relativamente parecidos com o Brasil. O que é mais barato são os produtos importados e produtos nacionais, como vinho, doce de leite e alfajors”, indica Leila.

Entre as diferenças de preço, o maior destaque para Leila são os restaurantes. Ela conta que foi ao Don Julio, eleito o melhor de carnes do mundo em 2023 pelo ranking internacional World’s 101 Best Steak Restaurants e com uma estrela no Guia Michelin.

“No Brasil teria sido muito mais caro. A conta deu R$ 200 ao todo, e essa é uma das vantagens da Argentina: você pode encontrar restaurantes muito bons e que não são absurdos de caro”, compara.

Apesar da experiência de Leila ter acontecido antes das eleições presidenciais, mesmo com a entrada de Milei, o real brasileiro conseguiu manter sua força ante o peso argentino.

“É um momento bom [para viajar para a Argentina], porque o peso argentino ainda está se desvalorizando, principalmente em comparação com Brasil e EUA, cujas moedas podem ser usadas lá”, indica Thiago Avallone, especialista em Câmbio da Manchester Investimentos.

“É um bom momento para a compra de vinhos”, recomenda Avallone.

Sung também menciona a vantagem de comprar produtos locais, como restaurantes e vinhos, em sua última ida para a Argentina em 2023. “Em um jantar de duas pessoas, paguei R$ 200, o que aqui no Brasil seria mais de R$ 700, até R$ 1.000. Também comprei um vinho de R$ 1.200 em Mendoza por R$ 250 convertendo”, compara o economista.

“Mesmo que os preços subam, o volume de dinheiro que os brasileiros conseguem trocar no mercado paralelo com o câmbio blue é maior e ainda tem um ‘prêmio’ em relação ao crescimento dos preços dado à inflação“, explica Sung. Em outras palavras, mesmo com a alta de preços, a valorização do real e do dólar para o peso argentino seguem atraentes.

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Quando é possível esperar uma recuperação econômica na Argentina?

Enquanto o dólar cresce sobre a divisa argentina após o grande choque inflacionário provocado pelo governo, Avallone aponta que as medidas propostas por Milei ainda podem demorar muito a surtir o efeito esperado na Argentina.

“Sabemos que a privatização de qualquer órgão público e a emissão de moedas próprias pelas províncias são propostas polêmicas que não são fáceis de serem aprovadas”, explica o especialista em câmbio.

Avallone também ressalta que o governo Milei ainda está só começando e que muitas outras questões ainda devem ser resolvidas antes de falarmos da recuperação do peso.

Questionado sobre uma estimativa acerca da recuperação econômica no país vizinho, Sung indica um processo que pode levar quase uma década. “Se as reformas econômicas surtirem efeito e houver um tipo de reestruturação melhor no país, conseguiram arrumar as contas e os câmbios, acho que ainda vai demorar uns 5 ou 10 anos para ficar ‘menos barato’ para viajar para a Argentina“, reflete o economista.

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Camila Paim

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