Ações da Ambipar (AMBP3) derretem mais de 50% em um único pregão; veja o que está por trás
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O mercado acompanhou nesta quinta-feira (25) uma das quedas mais bruscas já vistas em uma empresa listada na B3. As ações da Ambipar (AMBP3) chegaram a recuar 54,55% pela manhã, negociadas a R$ 4,50, após terem fechado o pregão anterior a R$ 9,90. A volatilidade levou os papéis a leilão e escancarou a gravidade da situação financeira do grupo.

O movimento foi deflagrado depois que a Ambipar confirmou ao mercado que obteve uma tutela cautelar na Justiça do Rio de Janeiro, garantindo proteção contra credores por 30 dias. Segundo analistas, “a tutela cautelar é uma liminar para preservar a estrutura financeira até que o mérito seja julgado, suspendendo gatilhos de vencimento antecipado e execuções enquanto a empresa negocia com credores”.
O que levou à crise
Segundo documentos apresentados à 3ª Vara Empresarial, a Ambipar tem débitos de US$ 550 milhões com o Deutsche Bank. A instituição passou a cobrar garantias adicionais que, de acordo com a companhia, não tinham respaldo contratual. O risco de antecipação automática da dívida poderia gerar um impacto de até R$ 11 bilhões, já que os contratos da empresa incluem cláusulas de vencimento cruzado.
Em fato relevante, a Ambipar afirmou que o objetivo da cautelar é “propiciar a continuidade das atividades empresariais do Grupo Ambipar e viabilizar a proteção a seus ativos, enquanto se busca junto aos credores uma alternativa viável para o adequado equacionamento de seus compromissos financeiros”.
Para Angelo Belitardo, gestor da Hike Capital, a decisão reflete o risco elevado: “a queda brusca dos papéis hoje é coerente com o aumento de risco de crédito e de evento, somado ao ruído de governança. Movimentos assim tendem a manter a volatilidade elevada nos próximos dias porque há catalisadores pendentes”.
O pedido de liminar também suspendeu o pagamento de uma dívida de US$ 119 milhões com o Santander, que venceria nesta quinta-feira. Apenas nos últimos dias, a empresa já havia desembolsado mais de R$ 200 milhões para atender exigências de garantias, segundo fontes do mercado.
Linha do tempo e efeitos imediatos
A crise ganhou força em agosto, quando a Ambipar fechou novos contratos de derivativos com o Deutsche Bank. Em 22 de setembro, a companhia anunciou a emissão de R$ 3 bilhões em debêntures para recomprar títulos em circulação, medida que acendeu sinais de alerta entre investidores. Dois dias depois, rumores sobre dificuldades financeiras intensificaram a pressão de credores, culminando na decisão judicial desta quinta-feira.
Na prática, a medida funciona como uma etapa preliminar à recuperação judicial. No caso da Ambipar, a decisão do TJ-RJ impede que credores acelerem dívidas vinculadas, após um conflito que envolveu exigências adicionais de garantias relacionadas a green bonds. Trata-se de uma blindagem provisória, que pode anteceder uma RJ se as negociações falharem, mas não determina automaticamente que ela acontecerá.
Além da fragilidade financeira, a companhia enfrenta uma reestruturação administrativa. O diretor financeiro João Arruda deixou o cargo após pouco mais de um ano, assim como o diretor de Relações com Investidores, Pedro Borges Petersen. Sobre esse ponto, Belitardo acrescenta: “as notícias recentes sobre troca de CFO e nova emissão de debêntures reforçam o ruído de governança e as dúvidas sobre a necessidade de reforço de liquidez”.
O tamanho do risco da AMBP3
Com operações em 40 países, receita líquida de R$ 5,7 bilhões em 2024 e cerca de 24 mil funcionários, a Ambipar construiu seu crescimento recente a partir de aquisições — foram 42 entre 2020 e 2022. Esse movimento, somado à alta dos juros, aumentou de forma significativa a alavancagem, que chegou a R$ 11 bilhões em dívidas. Fontes próximas à empresa alertam que o rombo potencial pode se aproximar de R$ 20 bilhões, caso as cláusulas de vencimento antecipado sejam efetivamente disparadas.
O histórico também adiciona combustível à crise. Em 2024, as ações chegaram a saltar de R$ 8 em maio para R$ 268 em dezembro, impulsionadas por operações do controlador Tércio Borlenghi Junior, pela entrada de fundos ligados a Nelson Tanure e ao Banco Master e por um “short squeeze” que levou a CVM a investigar manipulação de preços. Embora a autarquia tenha rejeitado uma OPA obrigatória naquele momento, o episódio deixou marcas no mercado.
Agora, a companhia tenta negociar com credores e busca alternativas para preservar operações. “Para um investidor que não tem posição, o risco sugere cautela até haver visibilidade sobre acordos com credores, cronograma de passivos e liquidez; em outras palavras, evitar pegar a faca caindo pode ser prudente”, afirma Belitardo. Para quem já está posicionado, ele avalia que reduzir exposição e preservar caixa são caminhos racionais até que os fatos tragam maior clareza.
Enquanto isso, a queda abrupta dos papéis nesta quinta-feira mostra que a confiança do investidor foi duramente abalada. O desfecho do processo pode determinar o futuro imediato da Ambipar (AMBP3).